quinta-feira, 13 de novembro de 2025

A lição de Barack Obama ao Partido Democrata, por Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Ex-presidente comemora vitórias do partido em Nova York e na Virgínia

Para Obama, eleição dos democratas representa o pluralismo, característica da América

"Vencemos com Abigail Spanberger, vencemos com Zohran Mamdani. Eles são parte de uma visão de futuro", comemorou o ex-presidente Barack Obama no podcast Pod Save America, logo depois das eleições de 4/11.

Com a vitória de Abigail, o governo da Virgínia passará às mãos de uma ex-deputada ultramoderada, que foi agente da CIA e defende mão dura contra o crime; já a maioria dos nova-iorquinos sufragou um jovem imigrante muçulmano assumidamente socialista. Engajado na oposição ao trumpismo, o único negro a ocupar a Casa Branca pronunciou outro de seus discursos, nos quais a razão é sócia da empatia.

Argumentou que, não obstante as suas diferenças, os dois democratas compartilham o pluralismo que, a seu ver, representa o melhor da América.

Além das convicções pluralistas, o que faz Spanberger e Mamdani conviverem na mesma sigla é o sistema eleitoral majoritário que impõe o bipartidarismo. Assim não fosse, muito provavelmente cada um deles estaria em uma agremiação que representasse melhor suas preferências políticas. E a tarefa de somar as forças que se opõem a Donald Trump seria bem mais difícil.

Ninguém em sã consciência é capaz de prever como acabará a terrível experiência da Presidência nas mãos de um declarado aspirante a ditador. Há quem acredite que os Estados Unidos já estejam em transição rumo a um sistema autocrático baseado em eleições, para o qual os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, da Universidade Harvard, reservam o conceito de autoritarismo competitivo. Há ainda quem julgue ser prematuro decretar o fim da democracia na América: o teste final será a reação de Trump a uma eventual derrota nas urnas.

De toda forma, políticos como Obama sabem que, para bater o trumpismo no voto, será preciso que o Partido Democrata não opte nem pela moderação, nem por uma guinada à esquerda, para ser o lugar, isto sim, onde Spanbergers convivam com Mamdanis. Ou seja, que se possa somar diferentes eleitorados com candidatos de variados perfis políticos.

A mesma tese é defendida por personalidades próximas aos democratas, como o jornalista Ezra Klein, que pilota influente podcast no New York Times. A ideia está longe de ser óbvia quando se está habituado a pensar a vida partidária como perpétua queda de braço entre facções pelo controle de recursos e pelo predomínio de suas visões políticas.

Obama e Klein sabem que os trumpistas raiz, adeptos do Maga (Make America Great Again), são apenas uma fração da maioria que alojou o líder da extrema direita na Casa Branca. Sabem também que a disputa é pelos votos dos que escolheram Trump, mas não lhe outorgaram mandato para desmantelar a democracia.

Sob um quadro institucional radicalmente distinto, de exacerbado multipartidarismo, o desafio proposto aos democratas por Obama e Klein lembra aquele enfrentado pelos democratas brasileiros nas eleições de 2022. Para derrotar Bolsonaro foi preciso somar votos muito além dos disponíveis entre os eleitores fiéis ao PT e nas esquerdas.

O mesmo será importante para vencer de vez os candidatos que cortejam o legado do golpista.

 

 

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