O Estado de S. Paulo
A disputa política em torno do “marco legal do combate ao crime organizado” é a evidência mais recente da falta de direção das correntes políticas de direita. Possuem o que é necessário: o abrangente e candente tema da segurança pública, no qual o governo perde e elas ganham. Mas o necessário é suficiente?
Em menos de uma semana essas correntes
“perderam a mão” depois da euforia causada pelas pesquisas indicando enorme
apoio popular à megaoperação contra o CV no Rio. Auxiliadas ainda pela soberba
de Lula, que afrontou essa onda.
Foram ao Congresso dispostas a enfiar goela abaixo do governo seus postulados, seguras de que tinham consenso, votos, a razão e o apoio popular. Terminaram esse primeiro esforço adiando o que diziam ser inadiável, que é a aprovação de vastas alterações em leis.
A “costura” política no Congresso ficou a
cargo de um “técnico”, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, com
pouquíssima experiência nesse tipo de operação e confiando num presidente da
Câmara que nada controla. O “consórcio” de governadores de direita soa bem no
papel, mas foi esse mesmo consórcio que na prática deixou o relator articulador
falando sozinho.
A questão evidentemente é de liderança, coordenação
e inteligência tática. O contingente eleitoral associado a Bolsonaro projeta
uma sombra paralisante. Os possíveis nomes da direita assumem como ponto
pacífico que não conseguiriam seguir adiante sem ele, mas também não conseguem
ir com ele. Como líder político, Bolsonaro está sendo apenas Bolsonaro:
indeciso, sem estratégia, focado apenas em si mesmo.
Assim, vão se sucedendo as “oportunidades
perdidas” nas quais figuras de potencial projeção na direita surgem como
hesitantes (é ou não é candidato?), equivocadas nas reações (caso do tarifaço)
e com dúbia sabedoria política em táticas como apoiar PEC da blindagem,
projetos de anistia e, agora, um “marco legal” em cima de um texto mal
preparado e articulação política idem. Começam a criar um vazio político, em
vez de ocupar o espaço.
Apesar dos presentes políticos dados pela
oposição, Lula experimenta enormes dificuldades em parecer “estadista” e
enterrou qualquer pretensão de formar uma coligação ampla não só para ganhar as
eleições, mas, principalmente, para governar depois. Os mais recentes
levantamentos reiteram barreiras estruturais profundamente preocupantes para
seu projeto de permanecer no poder (e exercê-lo).
Mesmo assim, permanece altamente competitivo
em termos eleitorais, não só em função das ferramentas clássicas de quem está
no poder (a capacidade de praticar bondades à custa do erário e premiar aliados
políticos). Em boa parte, é em função de seus adversários. •

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