Folha de S. Paulo
Pá de cal foi jogada pelo próprio Jair, que derreteu sua
tornozeleira e seu capital político
Candidaturas alternativas de direita ainda têm longo caminho e
grande pedra chamada PF
Jair
Bolsonaro derreteu sua tornozeleira e seu capital político. Se
antes era a direita que precisava do bolsonarismo, agora o cenário mudou.
Há meses o bolsonarismo estava em crise. O número de apoiadores em
protestos de rua declinou, assim como seu impacto nas redes sociais. Para
piorar, o fim do tarifaço para produtos agrícolas enterrou de vez a estratégia
de Eduardo
Bolsonaro para salvar o pai.
O fracasso retumbante de Eduardo fez com que passasse o bastão para o irmão mais velho, Flávio Bolsonaro. Porém, após o fiasco de uma caminhada promovida em outubro, na qual compareceram 2.000 pessoas, Flávio tentou reacender o ânimo dos apoiadores, mas apenas acelerou o enterro político de sua família.
A pá de cal foi jogada pelo próprio Jair. O vídeo que mostra o ex-presidente
admitindo ter usado um ferro de solda para danificar sua
tornozeleira eletrônica foi recebido com incredulidade por vários apoiadores
que se manifestaram no YouTube.
A dificuldade em confrontar a realidade humilhante foi tamanha que
houve quem afirmasse que o vídeo teria sido produzido por inteligência
artificial. Outros apontaram que o vídeo seria falso porque o rosto de Jair não
aparece, apenas sua voz. E, finalmente, houve quem preferisse, assim como a
ex-primeira-dama, se resignar e apelar a Deus.
Bolsonaro não conseguiu se livrar da tornozeleira, mas o episódio
certamente livrou a direita da dependência em relação ao ex-presidente e sua
família.
Uma pesquisa da Quaest divulgada no dia 15 de novembro já indicava
que a direita não-bolsonarista (22%) reúne quase o dobro dos eleitores
bolsonaristas (13%). Além disso, 31% dos eleitores, chamados de independentes
por não se alinharem nem à esquerda nem à direita, rejeitam intensamente
candidatos da família Bolsonaro: 70% não votariam em Michelle, 73% não votariam
em Jair e 80% não votariam em Eduardo.
Segundo Felipe Nunes, diretor da Quaest, este segmento será
decisivo para as eleições presidenciais de 2026. Considerando o nível de
perplexidade e negação frente à tornozeleira queimada entre os próprios
apoiadores de Jair, é de se imaginar o impacto negativo do episódio entre a
direita não-bolsonarista e os eleitores independentes.
No entanto, ainda que tenham se livrado de Bolsonaro, candidaturas
alternativas de direita ainda têm um longo caminho a percorrer. E, no caminho,
há uma grande pedra chamada Polícia
Federal.
A pedido de Tarcísio de
Freitas, seu secretário de (in)segurança pública, Guilherme Derrite,
voltou ao Congresso com o objetivo de diminuir o poder de investigação da
Polícia Federal. Por "coincidência", isso ocorreu ao mesmo tempo em
que a PF começou a investigar possíveis ligações entre Daniel Vorcaro, dono do
Banco Master, o PCC, e os chefes da União Progressista (UP), federação
partidária mais poderosa do Congresso: Ciro Nogueira (PP) e Antônio Rueda (União Brasil).
Hoje o apoio da federação, que conta com políticos como o atual
presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (União Brasil), e o ex-presidente da Câmara Arthur
Lira (PP), ainda vem sendo disputado pela direita. No entanto, caso as
investigações da PF resultem em avanços importantes, a UP pode se tornar um
ativo tão tóxico como os do Banco Master.

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