domingo, 9 de novembro de 2025

Eleição e economia lideram a pauta pós-COP-30, por Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

Em busca de uma reeleição no próximo ano, o presidente deve ser o mais interessado em uma política de juros mais favorável ao crescimento econômico e à expansão do emprego

Como figura internacional, o presidente Lula teve mais um bom momento na COP-30, em Belém, ao mobilizar 53 países para a defesa das florestas tropicais e do clima. Aberta a conferência e batidas as fotos, voltou a Brasília, de onde planejava partir no dia seguinte para uma reunião, na Colômbia, de autoridades latino-americanas e caribenhas com representantes da União Europeia. Longe do Palácio do Planalto, o presidente pode ter se desligado um pouco dos desafios brasileiros nesta fase pré-eleitoral. Com mais trancos do que barrancos, a economia brasileira continua a avançar lentamente, com crescimento estimado em pouco mais de 2% neste ano e desempenho mais fraco no próximo, segundo as contas do mercado. No governo, as projeções ficam na casa dos 3%.

Se as bolas de cristal tiverem alguma precisão, o Brasil deve manter a combinação de crescimento medíocre e inflação longe do alvo. Segundo as estimativas, os preços ao consumidor devem subir 4,55% neste ano, 4,20% em 2026 e 3,60% em 2027. A meta central é 3%. O teto, 4,5%. Se as contas da União permanecerem no vermelho, a dívida pública seguirá aumentando e os financiadores do governo continuarão cobrando juros elevados. O crédito permanecerá muito caro, limitando a atividade e os planos empresariais e dificultando a vida e os planos das famílias. Juros muito altos poderão continuar atraindo capital especulativo, com pouco benefício para quem precisa de recursos para investir em produção.

Nenhum presidente de Banco Central (BC) se torna popular mantendo juros altos, nem preserva um bom relacionamento com o Executivo. O atual chefe do BC, Gabriel Galípolo, já desagradou ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e depois foi criticado pela ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Galípolo “deixou a desejar”, disse a ministra em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast. Ao manter os juros básicos em 15%, ele desconsiderou, segundo ela, indicadores econômicos compatíveis com uma taxa mais baixa.

Ele poderia responder mencionando, simplesmente, suas obrigações como responsável principal pela política monetária. Mas a argumentação a respeito dos juros já havia aparecido, de forma rotineira, no informe do BC sobre a decisão de prolongar a taxa em vigor. Nesse comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) enfatiza a insegurança em relação a vários fatores determinantes da inflação. Ganham destaque a política econômica do governo americano, o quadro geopolítico, as pressões no mercado de trabalho brasileiro, a incerteza fiscal, o desequilíbrio do setor de serviços e as expectativas “desancoradas”, uma expressão familiar aos leitores de informes do Copom.

Nenhum desses detalhes foi contestado tecnicamente, pelo menos em suas declarações públicas, pelos ministros Haddad e Hoffmann. Mas os membros do comitê foram além de simplesmente manter os juros atuais. Indicaram, em seu comunicado, a intenção de sustentar “uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”. Em busca de uma reeleição no próximo ano, o presidente da República deve ser o mais interessado em uma política de juros mais favorável ao crescimento econômico e à expansão do emprego. Mas ele mesmo foi mais discreto do que seus ministros.

A política monetária poderá ser afrouxada no próximo ano, mas o mercado ainda prevê para o final de 2026 juros básicos de 12,25%. A inflação estimada para 2026 ainda é elevada, 4,20%, e muito próxima do teto da meta (4,50%). Mantidos os padrões da política monetária, o comitê deverá ser muito cauteloso na redução do custo do crédito. Essa expectativa parece compatível com a projeção de um crescimento econômico modesto, provavelmente inferior ao estimado, atualmente, para este ano. Se os juros altos prejudicarem seriamente, como se prevê, a atividade econômica, restará ao presidente, em sua busca pela reeleição, apelar mais fortemente para a gastança governamental. Mas tudo isso está no campo das possibilidades, por enquanto, e qualquer comentário só pode ser especulativo.

Não está claro, ainda, como a oposição poderá batalhar pela Presidência da República na próxima eleição. Há especulações sobre algumas figuras consideradas mais fortes, como os governadores de São Paulo e de Goiás, mas o quadro permanece indefinido. Também se discute como o ex-presidente Jair Bolsonaro, por enquanto inelegível e condenado a uma pena de 27 anos e três meses de prisão, participará do jogo. Não está claro, neste momento, quem poderá ser seu candidato e como se manterá em destaque o nome da família. Temse falado na possível candidatura de um filho do ex-presidente, mas também sobre isso há muita dúvida.

Por enquanto, a busca da reeleição pelo presidente Lula é o componente mais provável do próximo quadro eleitoral. Tendo completado 80 anos em 27 de outubro, ele se declara saudável e em condições de enfrentar uma nova disputa pelo voto e um novo período como chefe da administração federal. Hoje, essa declaração pode parecer um tanto supérflua. Mas talvez haja tempo, ainda, de surgir alguma surpresa.

 

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