Correio Braziliense
O negacionismo encontra campo fértil nas
redes sociais, onde se nutre das fake news e de visões reducionistas e
estereotipadas do mundo.
O negacionismo soa como atestado de
ignorância mesclada a insensatez. Encontra campo fértil nas redes
sociais, onde se nutre das fake news e de visões reducionistas e
estereotipadas do mundo. O negacionista é cético não por convicção, mas por
influência de uma massa de manobra que prefere agir de forma desarrazoada a
perceber que serve a interesses alheios. Os antivax, por exemplo, agarram-se a
uma crença sem qualquer base sólida ou comprovação empírica. Acreditam numa
verdade que apenas lhes convém, ainda que tal crença lhes custe a própria vida.
Convencem-se de que a vacina mina o sistema imunológico ou acarreta doenças,
quando é exatamente o contrário que ocorre.
Um certo ex-presidente condenado chegou a propalar em alto e péssimo som que a imunização contra a covid-19 poderia infectar a pessoa vacinada com o HIV, o vírus causador da Aids. Durante a pandemia, preferiu agir como garoto-propaganda da ivermectina e da cloroquina — comprovadamente ineficazes contra o coronavírus — a acelerar a compra dos imunizantes. Agiu como caixa de ressonância do negacionismo. Quantas pessoas não morreram por acreditar em suas inverdades?
O negacionismo climático é outro vilão da
ciência e do bom senso. Muitos preferem colocar uma venda nos olhos e defender
com veemência que as mudanças climáticas não passam de alucinação ou utopia.
Preferem, uma vez mais, ignorar evidências científicas. Também não se atêm ao
fato de que eventos climáticos extremos se tornaram cada vez mais comuns. O que
aconteceu em Rio Bonito do Iguaçu (PR), na semana passada, era algo impensável
no Brasil: um tornado matou sete pessoas, feriu 700 e arrasou com 90% do
município. Atribuir essa catástrofe a um infortúnio soa como cinismo barato.
O maior negacionista climático chama-se
Donald Trump, também presidente da maior nação poluidora do planeta. Ao
priorizar a sanha pelo lucro à preservação ambiental, o Tio Sam coloca um
atestado de culpa pendurado na cartola ou na testa. A ausência de Trump da
COP30, em Belém (PA), indicou o desprezo pelas mudanças climáticas e a falta da
mínima vontade de autorresponsabilização. Durante toda a campanha eleitoral,
o republicano defendeu, sem o menor dos pudores, a política de perfurar poços
de petróleo.
Um terceiro tipo de negacionista é o
histórico. São aqueles que cultuam a ditadura, sonham com um regime de exceção
e idolatram torturadores como o coronel Brilhante Ustra. Tudo (pasmem!) em nome
da liberdade de expressão (?). Viúvos e viúvas dos anos de chumbo no Brasil,
mas também gente que nem tinha nascido e, por fanatismo político, passou a
defender o indefensável. A vacina contra o negacionismo é a informação. Não
aquela despejada a esmo nas redes sociais. Mas a profissional, garimpada pelo
jornalismo comprometido com a ética e com a busca pela verdade. Apenas a
disseminação de fatos pode deter a propagação de fake news e salvar a sensatez.
Não é questão da inclinação política, mas de sobrevivência. Negar o inegável é
convite ao suicídio.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.