quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Eles negam o inegável, por Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

O negacionismo encontra campo fértil nas redes sociais, onde se nutre das fake news e de visões reducionistas e estereotipadas do mundo.

O negacionismo soa como atestado de ignorância mesclada a insensatez.  Encontra campo fértil nas redes sociais, onde se nutre das fake news e de  visões reducionistas e estereotipadas do mundo. O negacionista é cético não por convicção, mas por influência de uma massa de manobra que prefere agir de forma desarrazoada a perceber que serve a interesses alheios. Os antivax, por exemplo, agarram-se a uma crença sem qualquer base sólida ou comprovação empírica. Acreditam numa verdade que apenas lhes convém, ainda que tal crença lhes custe a própria vida. Convencem-se de que a vacina mina o sistema imunológico ou acarreta doenças, quando é exatamente o contrário que ocorre.

Um certo ex-presidente condenado chegou a propalar em alto e péssimo som que a imunização contra a covid-19 poderia infectar a pessoa vacinada com o HIV, o vírus causador da Aids. Durante a pandemia, preferiu agir como garoto-propaganda da ivermectina e da cloroquina — comprovadamente ineficazes contra o coronavírus — a acelerar a compra dos imunizantes. Agiu como caixa de ressonância do negacionismo. Quantas pessoas não morreram por acreditar em suas inverdades?

O negacionismo climático é outro vilão da ciência e do bom senso. Muitos preferem colocar uma venda nos olhos e defender com veemência que as mudanças climáticas não passam de alucinação ou utopia. Preferem, uma vez mais, ignorar evidências científicas. Também não se atêm ao fato de que eventos climáticos extremos se tornaram cada vez mais comuns. O que aconteceu em Rio Bonito do Iguaçu (PR), na semana passada, era algo impensável no Brasil: um tornado matou sete pessoas, feriu 700 e arrasou com 90% do município. Atribuir essa catástrofe a um infortúnio soa como cinismo barato.

O maior negacionista climático chama-se Donald Trump, também presidente da maior nação poluidora do planeta. Ao priorizar a sanha pelo lucro à preservação ambiental, o Tio Sam coloca um atestado de culpa pendurado na cartola ou na testa. A ausência de Trump da COP30, em Belém (PA), indicou o desprezo pelas mudanças climáticas e a falta da mínima vontade de autorresponsabilização.  Durante toda a campanha eleitoral, o republicano defendeu, sem o menor dos pudores, a política de perfurar poços de petróleo. 

Um terceiro tipo de negacionista é o histórico. São aqueles que cultuam a ditadura, sonham com um regime de exceção e idolatram torturadores como o coronel Brilhante Ustra. Tudo (pasmem!) em nome da liberdade de expressão (?). Viúvos e viúvas dos anos de chumbo no Brasil, mas também gente que nem tinha nascido e, por fanatismo político, passou a defender o indefensável. A vacina contra o negacionismo é a informação. Não aquela despejada a esmo nas redes sociais. Mas a profissional, garimpada pelo jornalismo comprometido com a ética e com a busca pela verdade. Apenas a disseminação de fatos pode deter a propagação de fake news e salvar a sensatez. Não é questão da inclinação política, mas de sobrevivência. Negar o inegável é convite ao suicídio.

 

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