O Globo
A COP 30 só será um grande sucesso se definir
um plano para eliminação dos combustíveis fósseis, considera Tasso Azevedo, do
MapBioma
A queda das emissões de gases de efeito
estufa do Brasil foi maior do que se esperava: 17% em 2024 comparado a 2023.
Isso é outro trunfo que o país levará para Belém. O coordenador do MapBiomas,
Tasso Azevedo, diz que é uma vitória importante, mas acredita que a COP30 só
será um grande sucesso se dela sair um mandato para construir um roteiro para a
eliminação gradual dos combustíveis fósseis. “Não sairemos dessa enrascada sem
resolver os combustíveis fósseis.” O TFFF foi pensado inicialmente como um compromisso
de doação da indústria do petróleo, mas acabou virando um fundo.
Tasso explicou a diferença. Idealizador do Fundo Amazônia, foi ele quem primeiro levou, em 2023, ao Ministério do Meio Ambiente a ideia da criação de um projeto de remunerar a floresta em pé. Na época, a proposta era fazer um acordo com as empresas produtoras de petróleo para que elas pagassem US$ 1 por barril para remunerar os países que preservassem suas florestas tropicais. Uma empresa como a Petrobras teria que doar algo perto de US$ 1 bilhão, pois produziu 900 milhões de barris no ano passado.
A ideia mudou totalmente e virou um fundo, o
TFFF, Fundo Florestas Tropicais Para Sempre. Funcionará assim: o Banco
Mundial vai administrar as doações iniciais de países e emitirá
títulos que rendem 3% ao comprador. Com base nessa captação, o Bird emprestará
em torno de 7% ao ano. A diferença entre o custo de captação — que pagará pouco
porque lastreado por papéis triplo A —, e o retorno dos empréstimos vai render
dinheiro suficiente para remunerar os países tropicais.
— O que foi pensado originalmente era pagar
US$ 30 por hectare não desmatado. E haveria um sistema de incentivo e de
desincentivo no mesmo instrumento. Ou seja, haveria um desconto punitivo para
quem desmatasse. Mas como está formatado hoje, a remuneração não deve passar de
US$ 4 por hectare. A questão é quem vai pegar empréstimo a esse custo? Quem é
que paga 7%? Brasil, Turquia, Argentina, países em desenvolvimento. No fim,
quem vai pagar a conta somos nós mesmos. Os governos ou empresas desses países
é que vão pegar empréstimos com base nesse dinheiro. O mecanismo é
superimportante, que bom que o fundo vai existir, mas é preciso entender melhor
como ele funcionará. Da maneira como está desenhado é dinheiro nosso, dos
países em desenvolvimento. Não é como havia sido pensado originalmente, um
pledge, um compromisso, com a indústria do petróleo para que ela colocasse lá
um dólar por barril. E o que é um dólar para este mercado? Num dia, numa tarde,
o preço pode variar nesse valor — diz Tasso Azevedo.
O plano preliminar, disse ele, era captar
dinheiro desses setores que estão poluindo demais, como a indústria do
petróleo, e direcionar às florestas. No Golfo do México existe mecanismo
parecido desde os anos 70 para financiar a proteção dos everglades da Flórida.
Tasso estava em Belém na semana passada e
está de malas prontas para voltar para lá e ficar até o fim da Conferência.
Perguntei o que seria uma COP bem-sucedida:
— Sucesso seria sair de lá com um mandato
para, nos próximos dois, três anos, criar o roteiro, as regras e as metas para
um phase out dos combustíveis fósseis. Para fazer o Acordo de Paris, houve um
mandato para o acordo dois, três anos antes. Agora teria que ser essa
eliminação aos poucos dos combustíveis fósseis. A gente pode quintuplicar em
dois anos, multiplicar por 100 as energias renováveis, mas se não diminuir os
fósseis, as emissões não caem. A não ser que as renováveis entrem substituindo
os fósseis. O grande dilema do mundo é como cortar os combustíveis fósseis —
diz o pesquisador.
O Brasil conseguiu reduzir suas emissões
porque o desmatamento, a principal causa de emissão do país, caiu fortemente no
governo Lula em
relação ao anterior. A indústria aumentou em 2%, a eletricidade subiu 17% por
causa do uso das termelétricas. Transportes caiu 1%.
Para o coordenador do MapBiomas, o Brasil tem
todas as condições para propor essa diretriz do fim dos combustíveis porque o
país tem soluções baseadas na natureza, está fazendo o dever de casa na redução
da principal causa das emissões, é um grande produtor de petróleo, ou seja, tem
o que perder. E tem uma diplomacia profissional que viabilizou a Rio92 e foi
super importante para construir o Acordo de Paris.

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