O Globo
Ações desastradas de Eduardo e Flávio levaram
ex-presidente mais cedo para a cadeia
Jair Bolsonaro mal havia vestido a faixa
quando aliados começaram a reclamar das ações de seus filhos. O primeiro a se
queixar em público foi o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência,
Gustavo Bebianno. Acabou demitido antes de completar dois meses no cargo.
“Os filhos do presidente atrapalham muito,
são o maior problema do governo”, disse Bebianno, poucos meses depois da queda.
“São mimados, nunca trabalharam na iniciativa privada, nunca enfrentaram um
ambiente de trabalho normal. Sempre mamaram nas tetas do Estado”, acrescentou.
Eleito por um partido de aluguel, Bolsonaro não tinha quadros para montar o governo. Loteou a Esplanada entre militares e permitiu que os filhos Flávio, Carlos e Eduardo interferissem à vontade na gestão federal.
Ao longo de 2019, não foram poucos os aliados
que advertiram o capitão para o risco de dar tanto poder aos herdeiros. “O que
está desgastando muito o presidente são filhos com mania de príncipes”, disse
em outubro o senador Major Olímpio. “Esses moleques precisam de camisa de
força. São um risco para o Brasil e para o mandato do presidente”, emendou dias
depois a deputada Joice Hasselmann.
Os alertas não convenceram Bolsonaro a
reduzir a influência da prole no governo. Ao contrário: ele ampliou o espaço
dos filhos e afastou todos os aliados que se queixaram — alguns deles, com
requintes de crueldade.
Flávio, o senador, foi promovido a líder
informal do governo no Congresso. Carlos, o vereador, ganhou o comando das
redes sociais do Planalto. Eduardo, o deputado, quase virou embaixador nos
Estados Unidos. Terminou aboletado na liderança do PSL na Câmara, o que deixou
mais alguns bolsonaristas insatisfeitos pelo caminho.
A defesa incondicional dos filhos não foi bom
negócio para Jair. A cada crise, o então presidente viu aumentarem o desgaste
público e o isolamento político. Os herdeiros atrapalharam o governo e
afastaram aliados. Agora ajudaram a antecipar a prisão do pai.
Há três meses, a atuação de Eduardo levou o
Supremo Tribunal Federal a impor as primeiras medidas cautelares ao capitão. O
deputado fugiu para os Estados Unidos e passou a tramar contra as instituições
brasileiras. Convenceu a Casa Branca a baixar o tarifaço e presenteou o pai com
uma tornozeleira eletrônica — mais tarde convertida em prisão domiciliar.
Nesta sexta, Flávio incitou seguidores a se
concentrarem na porta do condomínio de Bolsonaro em Brasília. Em vídeo nas
redes sociais, o Zero Um convocou uma “vigília” em favor do pai, que usou ferro
quente para tentar se livrar do monitoramento eletrônico. “Com a sua força, a
força do povo, a gente vai reagir e resgatar o Brasil desse cativeiro que ele
se encontra hoje”, bradou.
O ministro Alexandre de Moraes não quis pagar
para ver. Na madrugada de ontem, decretou a prisão preventiva do ex-presidente
para a garantia da ordem pública. A decisão equipara as ações da família
Bolsonaro às de uma quadrilha. “O vídeo gravado por Flávio Bolsonaro incita o
desrespeito ao texto constitucional, à decisão judicial e às próprias
instituições, demonstrando que não há limites na organização criminosa na
tentativa de causar caos social e conflitos no país”, anotou o ministro.

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