O Globo
A reação dos Bolsonaro indica que não
pretendem se conformar com a prisão do pai e líder e mais uma vez estão se
insubordinando contra a lei.
A prisão
preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro foi provocada por uma
“curiosidade” infantil de saber como funcionava a tornozeleira eletrônica que
carrega na perna, alegou ele. Tal “curiosidade” irresistível ocorreu na
madrugada, pouco depois da meia-noite, e foi detectada pelo equipamento de
recepção dos sinais da tornozeleira na Polícia Federal. Usar um ferro de solda
para tal ação demonstra não sinais de que preparava uma fuga, mas talvez que
tenha feito de propósito essa violação para provocar uma reação política de
seus seguidores.
Não há outra explicação para tamanha irresponsabilidade, que significa uma confrontação com a decisão judicial que o colocou em prisão domiciliar. É típico de Bolsonaro essa afronta, que sempre foi seguida de um pedido de desculpas, uma alegação de que estava transtornado pela “injustiça” que estão cometendo contra ele.
Não é possível comparar a vigília convocada
pelo senador Flávio Bolsonaro com o que aconteceu com o então ex-presidente
Lula quando foi preso pela Polícia Federal. Naquela ocasião, ao contrário de
Bolsonaro hoje, Lula não estava preso, mas era esperado o pedido de prisão
quando ele foi condenado em segunda instância. Fazer vigília para proteger seu
líder é atitude comum entre os seguidores dos políticos populistas, e foi o que
aconteceu no Sindicato dos Metalúrgicos. Houve quem estimulasse que Lula
fugisse para uma embaixada para pedir asilo, ou que resistisse à prisão nas
dependências do sindicato que já presidira. Nada disso aconteceu,
Lula demorou a se entregar, mas nunca ameaçou
não o fazer. Lembro que o então juiz Sérgio Moro também resistiu às sugestões
de invadir o Sindicato para fazer a prisão, o que teria sido desastroso. Hoje,
Bolsonaro já estando preso, reage à ordem da Justiça tentando desativar sua
tornozeleira eletrônica. Claro que ele sabia que a tentativa seria detectada
pela Polícia Federal, e a atitude só pode ser interpretada como proposital,
para demonstrar sua indignação com as prisões. Uma atitude política que não
levaria à fuga para uma embaixada próxima, mas a um alerta policial que
rapidamente cercaria seu condomínio.
Não há injustiça nenhuma na decisão do
ministro Alexandre de Moraes em determinar sua prisão preventiva, que logo se
transformará em definitiva com o trânsito em julgado de sua condenação. Difícil
vai ser conseguir uma nova prisão domiciliar, pois ele já demonstrou que não se
conforma com ela e pretende continuar a tentar se safar da condenação. A
vigília em frente ao seu condomínio em Brasília não difere da vigília que foi
feita em Curitiba diante do prédio da Polícia Federal onde Lula ficou preso. O
policiamento tem condições de limitar o transtorno causado aos vizinhos, que
não deveria ter sido usado como mais um agravante para a prisão preventiva.
Se antes desse episódio já havia dificuldade
para determinar a prisão domiciliar, agora ficou mais difícil defendê-la por
questões de saúde. A reação dos Bolsonaro indica que não pretendem se conformar
com a prisão do pai e líder. Mais uma vez estão se insubordinando contra a lei,
abandonaram o caminho dos recursos judiciais para seguir na contestação pura e
simples da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Dão margem aos adversários de os acusarem de
estar mais uma vez tentando a solução de seus problemas fora da lei, um
prosseguimento da atitude golpista que os levou para a cadeia. Agora que o
grande aliado, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump os abandonou, já
inteirado de que não têm poder para contestar a decisão oficial, os
bolsonaristas passam a apelar a atitudes contestatórias, desafiando as normas
legais.
Reafirmam, assim, que não trabalham “dentro
das quatro linhas” da Constituição, mas à margem dela. E o STF não é Supremo
por ser a mais alta Corte de Justiça do país, como muitos de seus membros
alegam, mas por ser o guardião da Constituição, esta sim, a Lei Suprema.

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