O Estado de S. Paulo
O combate ao crime organizado se tornou nota de rodapé das verdadeiras intenções da atual gestão
O que deveria ser o objetivo central do
Projeto Antifacção, melhorar o combate a milícias e organizações criminosas,
tornouse secundário, praticamente uma nota de rodapé das verdadeiras intenções
do governo Lula, que queria usar o texto original apresentado à Câmara dos
Deputados para rebater a percepção popular de que é mole com bandidos, e da
oposição bolsonarista, que não quer dar essa colher de chá para Lula, nem que
para isso tenha que destruir algo potencialmente positivo para a segurança
pública.
Os governos do PT foram historicamente negligentes com o tema, com equívocos ideológicos como a vitimização sociológica de criminosos à frente da capacidade de encontrar soluções para o problema.
Já a turma do deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP), relator do Projeto Antifacção na Câmara, conseguiu conectar seu discurso aos anseios de boa parte da sociedade cansada de viver com medo, mas é um fracasso na prática. Até recentemente, como secretário de Segurança do governo paulista, na gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), o ex-capitão da PM instituiu uma política de “tiro na cabecinha” de bandidos que, além de inaceitável do ponto de vista legal e moral, não se refletiu em ganhos inequívocos nas estatísticas criminais. As mudanças que o deputado quis fazer no projeto na semana passada, esvaziando a atuação da Polícia Federal, sugerem uma tentativa de unir o fortalecimento da estratégia brucutu em âmbito estadual à blindagem de autoridades locais corruptas. Os beneficiados, no fim, seriam as próprias facções.
O governo Lula, por sua vez, parece ter
compreendido que, para não ser massacrado nas eleições de 2026, precisa sair da
inércia prática em relação ao tema e adotar a tática do reenquadramento moral
do seu discurso público. Isso significa desvencilhar-se da linguagem
esquerdista sobre segurança pública. Lula não estava errado, por exemplo,
quando classificou a operação policial que matou 121 pessoas no Rio como
“matança” e “desastrosa”. Mas essas críticas, feitas poucos dias após dizer, no
contexto das operações dos EUA contra embarcações venezuelanas, que os
traficantes é que são vítimas dos usuários, não ajudam os esforços para um
reenquadramento moral em relação ao tema.
As pesquisas mostram que esse ajuste de
discurso é fundamental para os planos eleitorais do presidente. Segundo
levantamento da Genial/Quaest, a maioria absoluta dos brasileiros, até mesmo
entre os eleitores de Lula, aprovou a operação no Rio. O governo não pode ser
conivente com chacinas. Mas a falta de conexão com a população sobre segurança
pública vai muito além disso.

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