domingo, 2 de novembro de 2025

O inimigo é outro, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O embate político impede o combate real porque o banditismo não é de direita nem de esquerda

Cabe ao presidente liderar processo de unificação de forças para organizar o Estado e desorganizar o crime

Bandeira em disputa na campanha para a próxima eleição, a segurança pública da maneira como vem sendo abordada no impacto da operação no Rio não tem a menor chance de ser o vetor de unificação nacional necessário ao enfrentamento efetivo dessa calamidade.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem pisado com cuidado nesse terreno depois de ser traído pelo cacoete ideológico e injustificado desconhecimento da realidade, na frase sobre traficantes vítimas de usuários.

Claro que fica parecendo omissão da parte de quem fala de tudo, até do que não deve. Mas, pela tendência a impulsos oratórios inapropriados, no caso desse assunto para lá de sensível é melhor que Lula ouça os bons conselhos, organize as ideias, tenha algo de consistente a oferecer e, sobretudo, messa as palavras antes de se manifestar a respeito. Em breve.

Sim, porque uma resposta além da declaração protocolar em rede social, o presidente da República haverá de dar à sociedade em algum momento. É ele o líder da nação. A ele cabe a condução de processo capaz de ao menos estancar a expansão da criminalidade tenha ela a qualificação de organizada, faccionada, mafiosa ou terrorista. O argumento de que não é prudente levar o tema para dentro do Palácio do Planalto está com prazo de validade vencido.

A oposição ou direita, como se queira chamar, com seu discurso de que a força bruta é o melhor remédio fala bem aos ouvidos do público farto da violência, não obstante seja um palavrório sem eficácia.

A leniência tampouco dá conta do recado cruento. Vemos isso no Rio há mais de 40 anos, desde que Leonel Brizola proibiu a polícia de subir os morros e a elite glamourizava a bandidagem. Vimos isso no país, com governos pós-redemocratização evitando o tema para não serem confundidos com repressores contaminados pelos ecos da ditadura.

Pois a conta chegou e é de um presidente de esquerda a difícil tarefa de carregar a bandeira da segurança sem dividir ainda mais a nação, porque o inimigo é outro.

 

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