O Estado de S. Paulo
Lembre-se de que Derrite regressava ao Parlamento – era este o texto até a última sexta – para relatar o projeto oposicionista que teria por objeto a Lei Antiterrorismo e faria a disputa política com o governista. Sobreveio a reviravolta. Pouquíssimo depois de indicado à relatoria da proposta originalmente do governo, já tinha o relatório pronto. Alguém não foi pego de surpresa.
Motta, à cata artificial da própria
relevância, não é confiável. Está sempre em busca de protagonismo – de
identidade, de existência mesmo – para a sua gestão, o que produz
instabilidade. O político fraco que usa o poder circunstancial para baixar um
marco pessoal, agora – ao sabor da moda da vez – o “novo marco legal do combate
ao crime organizado no Brasil”. O reativo Motta também quer surfar a onda da
segurança pública.
Ficará com a espuma – novamente. Encaixotado,
engolindo água, o governo Lula – que tem toda a razão para aborrecimento. Foi
traído. Traído nos seguintes termos: concebeu um projeto por meio do qual (com
atraso) pretendia ter lugar (incerto) no debate que será o mais importante em
2026; esperava um relator do Centrão-Centrão, como fora Lira para a isenção do
Imposto de Renda; afinal levando o secretário de Segurança Pública de Tarcísio
de Freitas.
Noutras palavras: Lula, candidato à
reeleição, terá por relator de seu projeto-aposta para tema decisivo o próprio
representante daquele a lhe ser o provável desafiante, Tarcísio. Essa é a obra
de Motta, que Derrite compreendeu ao estado da arte, conforme evidenciam as
constituições estratégicas de seus discurso – pacífico, conciliador – e
relatório; que não classifica as organizações criminosas como terroristas,
antes dedicado a propor “tratamento penal equiparado quanto à gravidade e às
consequências jurídicas” para atos praticados por PCC, CV, etc.
A equiparação via pena, que “não redefine a
natureza jurídica de um fenômeno, mas amplia o alcance de uma norma punitiva já
existente para abranger condutas que geram o mesmo tipo de lesão ao bem
jurídico protegido”. O governo Lula não apenas traído, ameaçado de perder a
autoria-propriedade do que criou. Também encurralado ante uma armadilha. Ou
poderá votar contra um projeto que propôs, que tem a base preservada, e que foi
esvaziado da preocupação de que franqueasse condições para intervenções
estrangeiras no território brasileiro?
A primeira reação do governo à arapuca foi
apontar que o relatório de Derrite levantaria barreiras à atuação da Polícia
Federal e seria um presente ao crime organizado. O jogo está jogado. •

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.