Folha de S. Paulo
Temos metas de inflação e fiscais; faltam
metas para a mata, o agro e a segurança energética
Transformações importantes, como a
tributária, revelam coalizões daninhas para o interesse nacional
Quase ninguém se lembra do que foi a COP29,
em 2024, no Azerbaijão, além de ambientalistas, certos militantes sociais,
estudiosos, diplomatas, jornalistas especializados e poucos políticos
envolvidos. Como a COP30 é
no Brasil, vamos ler mais manchetes dramáticas sob impasses em negociações ou
financiamentos frustrados. Dias depois da cúpula, quase todos nos esqueceremos
do assunto.
Em parte, é normal, por assim dizer; em
parte, não pode ser mais assim. No Brasil, temos condições especiais de fazer
que assim não seja. O país progride na área e pode ganhar
muito se fizer mais coisa certa.
Além de se tratar da nossa contribuição para atenuar o desastre climático planetário, assuntos como devastação ambiental, transição energética ou modo de produzir alimentos e materiais são centrais para o desenvolvimento socioeconômico do país, se não os principais.
Assim como no caso de segurança, contas
públicas ou saúde, os temas que cabem sob o chapéu "ambiente" devem
ser objeto de programa nacional duradouro. Parece blablablá. Na prática,
significa criar ou definir instituições responsáveis por fazer planos, estabelecer
metas, arrumar recursos; definir responsáveis técnicos e políticos pelo
cumprimento dos objetivos e explicar as consequências dos fracassos.
Parece abstrato? Mal e mal, isso já existe na
economia, com inflação e contas públicas. Quando o Brasil não era tão
barbarizado pela ultradireita, criamos e cumpríamos metas de vacinação. Temos
dados de desmatamento, mas não um programa institucionalizado, operacional e
vinculante, de metas de redução da devastação, que precisa ser apoiado por
planos de recuperação da terra (que até começamos a ter, sob Lula 3).
Para tanto, precisamos de liderança política
(principalmente federal) e coalizões socioeconômicas para levar a coisa
adiante. Por ora, temos coalizões de elites pela destruição ambiental e pelo
caos energético, com apoio do Congresso.
É difícil atrair o público para assuntos tão
complicados. Mas metas e alterações socioeconômicas derivadas da implementação
de programas causam barulho midiático e político. Para ficar no mais banal,
cumprimento (ou descumprimento) de metas rende manchetes; mudanças legais e
alteração do destino de recursos públicos e privados explicitam conflitos e
ajudam a revelar coalizões destrutivas.
Parece abstrato? Vide a reforma tributária.
Seu efeito mais profundo e importante ainda é incompreendido pela maioria:
redução de distorções (alíquotas muito diversas de impostos) que incentivam o
uso improdutivo de capital e trabalho e, pois, reduzem a produtividade, o
crescimento econômico. Mas a discussão política da reforma mexeu com o país,
confrontou lobbies, explicitou danos e desigualdades.
A reforma foi por décadas barrada pela
coalizão de estados que faziam guerra fiscal (isenção de imposto para atrair
investimentos); por empresas e profissionais ricos beneficiados; pela
ignorância nacional. Colocá-la no centro do debate e dar o apoio federal, de
Lula 3, que criou instituição para promovê-la, ajudou a coisa a andar.
Política ambiental e de energia (esta um
fracasso de Lula 3) precisam de arranjo institucional transformador. Progressos
brasileiros na área precisam de organização e aceleração. Ora são dispersos e
inconstantes, quando não vítimas do ultradireitismo. A próxima coluna vai
tratar do que o país tem feito de bom e do potencial para fazer mais nessa
área.
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