quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Queda dos juros para o ano eleitoral, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Manutenção desagrada governo e deverá ter consequências na escolha de Lula para os dois novos diretores

Presidente do BC parece querer fazer todo o trabalho de ancoragem das expectativas de inflação enquanto a pressão política ainda está suportável

manutenção da taxa Selic no patamar de 15% pela terceira vez consecutiva eleva as cobranças sobre o presidente do Banco CentralGabriel Galípolo, que passou a enfrentar uma artilharia mais pesada de críticas de integrantes do governo contra a política de juros altos.

No comunicado da decisão desta quarta (5), Galípolo e os demais diretores foram duros ao insistir na avaliação de que será preciso manter a taxa no nível atual por um período "bastante" prolongado. O bastante, nesse caso, tem peso e pode, inclusive, empurrar o início da queda dos juros de janeiro para março de 2026.

É um tremendo balde de água fria para Lula e, especialmente, Fernando Haddad, que na posição de ministro-candidato nas eleições do ano que vem tem puxado o coro dos descontentes contra Galípolo. Todos no governo esperavam um sinal de fumaça de que os juros poderiam começar a cair ainda neste ano após o ciclo de alta da Selic, que começou em março de 2022.

Mas não foi só isso.

A pressão terá influência direta na indicação de Lula para substituir os diretores do BC (Diogo Guillen e Renato Gomes), que deixarão o cargo no fim deste ano. O grau de influência de Galípolo pode diminuir, como já comentam auxiliares do presidente Lula no Palácio do Planalto.

Remanescentes do time do ex-presidente do BC Roberto Campos Neto, os dois são apontados como os falcões ("hawks") do Copom, como são chamados os diretores com uma postura mais rígida para combater a inflação, mesmo que cause desaceleração econômica e desemprego.

O presidente do BC e o seu time de diretores estão jogando mais duro por mais tempo do que o governo imaginava. No primeiro semestre, Lula aceitou. Até porque o Banco Central estava ajudando a entregar uma taxa de câmbio mais valorizada.

Gabriel Galípolo parece querer fazer todo o trabalho de ancoragem das expectativas para a meta de inflação de 3% enquanto a pressão política ainda está suportável… E, quando chegar mais perto da eleição, começar a soltar os juros.

 

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