Folha de S. Paulo
Manutenção desagrada governo e deverá ter
consequências na escolha de Lula para os dois novos diretores
Presidente do BC parece querer fazer todo o
trabalho de ancoragem das expectativas de inflação enquanto a pressão política
ainda está suportável
A manutenção da
taxa Selic no
patamar de 15% pela terceira vez consecutiva eleva as cobranças sobre o
presidente do Banco Central, Gabriel
Galípolo, que passou a enfrentar uma artilharia mais pesada de
críticas de integrantes do governo contra a política de juros altos.
No comunicado da decisão desta quarta (5), Galípolo e os demais diretores foram duros ao insistir na avaliação de que será preciso manter a taxa no nível atual por um período "bastante" prolongado. O bastante, nesse caso, tem peso e pode, inclusive, empurrar o início da queda dos juros de janeiro para março de 2026.
É um tremendo balde de água fria para Lula e,
especialmente, Fernando
Haddad, que na posição de ministro-candidato nas eleições do ano que
vem tem puxado o coro dos descontentes contra Galípolo. Todos no governo
esperavam um sinal de fumaça de que os juros poderiam começar a cair ainda
neste ano após o ciclo de alta da Selic, que começou em março de 2022.
Mas não foi só isso.
A pressão terá influência direta na indicação
de Lula para substituir os diretores do BC (Diogo Guillen e Renato Gomes), que
deixarão o cargo no fim deste ano. O grau de influência de Galípolo pode
diminuir, como já comentam auxiliares do presidente Lula no Palácio do
Planalto.
Remanescentes do time do ex-presidente do
BC Roberto
Campos Neto, os dois são apontados como os falcões
("hawks") do Copom,
como são chamados os diretores com uma postura mais rígida para combater a
inflação, mesmo que cause desaceleração econômica e desemprego.
O presidente do BC e o seu time de diretores
estão jogando mais duro por mais tempo do que o governo imaginava. No primeiro
semestre, Lula aceitou. Até porque o Banco Central estava ajudando a entregar
uma taxa de câmbio mais valorizada.
Gabriel Galípolo parece querer fazer todo o
trabalho de ancoragem das expectativas para a meta de inflação de 3% enquanto a
pressão política ainda está suportável… E, quando chegar mais perto da eleição,
começar a soltar os juros.

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