Folha de S. Paulo
Projeção de inflação do BC para o segundo
trimestre de 2027 cai para 3,3%, mas não basta
Selic fica em 15%, BC espera mercado de
trabalho mais frio e expectativa de IPCA menor
A estimativa de inflação do Banco Central para
o segundo trimestre de 2027 caiu de 3,4% para 3,3% (em 12 meses, em um ano),
lê-se no comunicado em que a autoridade monetária anunciou
Selic ainda em 15% ao ano.
A meta de inflação é de 3%. Parece que se
está perto da meta, nas contas do BC, pois. Mas o BC, ao que parece, quer ver
contenção maior em emprego e salário e expectativa de inflação menor. Corte
da Selic,
por ora, só a partir de março de 2026.
Parêntese: por que interessa o segundo trimestre de 2027? É o "horizonte relevante" para o BC, aquele momento em que a política monetária, de juros, deveria estar fazendo mais efeito.
O comunicado do BC foi duro como o anterior.
"O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de
inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de
trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de
expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar
significativamente contracionista por período bastante prolongado".
A projeção do BC para a inflação em 2027 ora
não importa. O que interessa: algum desemprego extra, com crescimento (bem)
menor de salários e expectativas de inflação em queda.
Por ora, a mediana da centena e meia de previsões de "o mercado" que
chega ao BC é de IPCA em 3,8% no final de 2027. Mas não é preciso que as
expectativas cheguem a 3% para que o BC se coce. É preciso que a inflação
"convirja" para 3%. Quando apareceria o sinal verde para o BC? Essa
vai ser a conversa agora.
Nem com as diretorias mais duras e puras o BC
passou a agir apenas quando a expectativa de inflação estivesse na meta, nem
essa é a boa técnica padrão.
Além do mais, "convergir" implica
obviamente movimento ou a ideia de que, no limite, em certo nível, pode se
considerar que a expectativa de inflação chega à meta. Em suma, dados um certo
nível de juros reais, a progressão das expectativas e um esfriamento do mercado
de trabalho, não é preciso manter o arrocho.
Pois então. Qual é esse nível, quanto a expectativas?
3,5%? Depende de contexto, depende do andamento de salário e emprego.
Depende também de um pouco de cálculo,
depende um pouco de arbítrio de quem faz política monetária e de chutes
informados sobre certas variáveis que não são observadas (quão aquecida estaria
a economia, a quanto estaria rodando acima do seu "potencial", por
exemplo). O chute desse nível depende também um tanto de política, no sentido
amplo.
Essa vai ser a próxima conversa a respeito da
política monetária, afora choques positivos ou negativos. Por ora, não há clima
para essa conversa, pelo que diz o BC. A mediana da expectativa de inflação de
"o mercado" cai muito devagar e, repita-se, está em 3,8% para o FINAL
de 2027.
No Relatório de Política Monetária do
terceiro trimestre, as projeções ("contas") de inflação do BC estavam
acima da meta até o primeiro trimestre de 2028.
O que pode acelerar a queda de expectativas?
Um empecilho maior é que pouco se sabe do que será a política fiscal, em 2026
ou 2027. Um empurrão para baixo seria a valorização maior do real ("queda
do dólar").
Um impulso essencial, a julgar pelo
palavreado do BC, seria uma diminuição adicional da criação de empregos (que
acontece, devagar) e queda no ritmo de aumento de salários (que não se vê, com
salário médio real voltando a crescer 4% ao ano).
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