quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Até quando vai o arrocho do BC, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Projeção de inflação do BC para o segundo trimestre de 2027 cai para 3,3%, mas não basta

Selic fica em 15%, BC espera mercado de trabalho mais frio e expectativa de IPCA menor

A estimativa de inflação do Banco Central para o segundo trimestre de 2027 caiu de 3,4% para 3,3% (em 12 meses, em um ano), lê-se no comunicado em que a autoridade monetária anunciou Selic ainda em 15% ao ano.

A meta de inflação é de 3%. Parece que se está perto da meta, nas contas do BC, pois. Mas o BC, ao que parece, quer ver contenção maior em emprego e salário e expectativa de inflação menor. Corte da Selic, por ora, só a partir de março de 2026.

Parêntese: por que interessa o segundo trimestre de 2027? É o "horizonte relevante" para o BC, aquele momento em que a política monetária, de juros, deveria estar fazendo mais efeito.

O comunicado do BC foi duro como o anterior. "O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado".

A projeção do BC para a inflação em 2027 ora não importa. O que interessa: algum desemprego extra, com crescimento (bem) menor de salários e expectativas de inflação em queda.


Por ora, a mediana da centena e meia de previsões de "o mercado" que chega ao BC é de IPCA em 3,8% no final de 2027. Mas não é preciso que as expectativas cheguem a 3% para que o BC se coce. É preciso que a inflação "convirja" para 3%. Quando apareceria o sinal verde para o BC? Essa vai ser a conversa agora.

Nem com as diretorias mais duras e puras o BC passou a agir apenas quando a expectativa de inflação estivesse na meta, nem essa é a boa técnica padrão.

Além do mais, "convergir" implica obviamente movimento ou a ideia de que, no limite, em certo nível, pode se considerar que a expectativa de inflação chega à meta. Em suma, dados um certo nível de juros reais, a progressão das expectativas e um esfriamento do mercado de trabalho, não é preciso manter o arrocho.

Pois então. Qual é esse nível, quanto a expectativas? 3,5%? Depende de contexto, depende do andamento de salário e emprego.

Depende também de um pouco de cálculo, depende um pouco de arbítrio de quem faz política monetária e de chutes informados sobre certas variáveis que não são observadas (quão aquecida estaria a economia, a quanto estaria rodando acima do seu "potencial", por exemplo). O chute desse nível depende também um tanto de política, no sentido amplo.

Essa vai ser a próxima conversa a respeito da política monetária, afora choques positivos ou negativos. Por ora, não há clima para essa conversa, pelo que diz o BC. A mediana da expectativa de inflação de "o mercado" cai muito devagar e, repita-se, está em 3,8% para o FINAL de 2027.

No Relatório de Política Monetária do terceiro trimestre, as projeções ("contas") de inflação do BC estavam acima da meta até o primeiro trimestre de 2028.

O que pode acelerar a queda de expectativas? Um empecilho maior é que pouco se sabe do que será a política fiscal, em 2026 ou 2027. Um empurrão para baixo seria a valorização maior do real ("queda do dólar").

Um impulso essencial, a julgar pelo palavreado do BC, seria uma diminuição adicional da criação de empregos (que acontece, devagar) e queda no ritmo de aumento de salários (que não se vê, com salário médio real voltando a crescer 4% ao ano).

 

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