Folha de S. Paulo
Aceito provocação de leitor e tento explicar
critérios para uso de ultra e extremo na política
Não é a veemência com que se defende uma
ideia que caracteriza o extremismo, mas a natureza do posicionamento
O leitor Guilherme Fernandes me cutuca:
"Prezado Helio, Bom dia! Queria um esclarecimento. O que significa
ultradireita, além de alguém com quem vc não concorda? Pergunto isso pois,
raramente, vejo Boulos sendo descrito como extrema esquerda… ou Jean Willys…".
Aceito a provocação. Costumo reservar o prefixo "ultra" e o adjetivo "extremo" para grupos ou indivíduos com atuação contra o sistema. E o que significa ser antissistema? Essa é uma categoria que comporta uma ampla gama de ações, que vão desde não aceitar derrotas eleitorais até tentar implementar medidas que violam ou debilitam cláusulas pétreas do Estado liberal democrático e de Direito.
Quando o fazem com violência, uso
"extremo"; enquanto a violência ainda não chegou, emprego o
"ultra". Vejam que essa definição, que não pretendo que seja
universal nem inequívoca (é apenas uma tentativa pessoal de ser minimamente
consistente), não implica preferência política. O Estado liberal, afinal, é
compatível tanto com ideologias mais à esquerda (social-democracias, por
exemplo) quanto com conservadoras (democracias cristãs). O que define o
liberalismo é o respeito às regras básicas do jogo.
Faltou o Boulos. É só a direita que é ultra ou extremista? Historicamente, não.
Mas, nos últimos anos, temos visto muito mais representantes da direita do que
da esquerda atuando contra o sistema. Pense em Trump e o Capitólio ou
em Bolsonaro e a praça dos Três Poderes. Até algumas décadas atrás, a
situação era a inversa. Eram grupos de esquerda, como as Brigadas Vermelhas,
que se valiam da violência para tentar promover uma ruptura e impor suas
ideias.
Mas, a partir dos anos 80, a esquerda foi se
institucionalizando. A maioria dos partidos renunciou à revolução pelas armas.
Muitas de suas ideias, sobre a igualdade de direitos, por exemplo, acabaram
sendo incorporadas ao pensamento "mainstream". Isso pode ter levado a
uma espécie de fossilização que explicaria a atual crise da esquerda, que já
não parece capaz de oferecer novidades.
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