sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Só a direita é extremista? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Aceito provocação de leitor e tento explicar critérios para uso de ultra e extremo na política

Não é a veemência com que se defende uma ideia que caracteriza o extremismo, mas a natureza do posicionamento

O leitor Guilherme Fernandes me cutuca: "Prezado Helio, Bom dia! Queria um esclarecimento. O que significa ultradireita, além de alguém com quem vc não concorda? Pergunto isso pois, raramente, vejo Boulos sendo descrito como extrema esquerda… ou Jean Willys…".

Aceito a provocação. Costumo reservar o prefixo "ultra" e o adjetivo "extremo" para grupos ou indivíduos com atuação contra o sistema. E o que significa ser antissistema? Essa é uma categoria que comporta uma ampla gama de ações, que vão desde não aceitar derrotas eleitorais até tentar implementar medidas que violam ou debilitam cláusulas pétreas do Estado liberal democrático e de Direito.

Quando o fazem com violência, uso "extremo"; enquanto a violência ainda não chegou, emprego o "ultra". Vejam que essa definição, que não pretendo que seja universal nem inequívoca (é apenas uma tentativa pessoal de ser minimamente consistente), não implica preferência política. O Estado liberal, afinal, é compatível tanto com ideologias mais à esquerda (social-democracias, por exemplo) quanto com conservadoras (democracias cristãs). O que define o liberalismo é o respeito às regras básicas do jogo.

Faltou o Boulos. É só a direita que é ultra ou extremista? Historicamente, não. Mas, nos últimos anos, temos visto muito mais representantes da direita do que da esquerda atuando contra o sistema. Pense em Trump e o Capitólio ou em Bolsonaro e a praça dos Três Poderes. Até algumas décadas atrás, a situação era a inversa. Eram grupos de esquerda, como as Brigadas Vermelhas, que se valiam da violência para tentar promover uma ruptura e impor suas ideias.

Mas, a partir dos anos 80, a esquerda foi se institucionalizando. A maioria dos partidos renunciou à revolução pelas armas. Muitas de suas ideias, sobre a igualdade de direitos, por exemplo, acabaram sendo incorporadas ao pensamento "mainstream". Isso pode ter levado a uma espécie de fossilização que explicaria a atual crise da esquerda, que já não parece capaz de oferecer novidades.

 

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