O Estado de S. Paulo
Nem todo ministro compartilha o mesmo conceito de institucionalidade de Edson Fachin
Há pouco mais de um mês no comando do Supremo
Tribunal Federal (STF), Edson Fachin já viu fracassar seu plano de manter a Corte
longe da rinha política. Ele preferia que o tribunal se manifestasse sobre a
megaoperação no Rio de Janeiro em decisões judiciais, mas outros ministros
optaram por declarações públicas. Alexandre de Moraes foi além: viajou até a
capital fluminense para se reunir com autoridades locais.
A intenção de Fachin era dar uma contribuição institucional para solucionar a crise no Rio. Entretanto, nem todo ministro do STF compartilha o mesmo conceito de institucionalidade. O governador Cláudio Castro chamou de “maldita” a decisão do tribunal que criou regras para a realização de operações policiais na cidade. Diante do silêncio de Fachin, Gilmar Mendes e Flávio Dino saíram em defesa do tribunal.
Fachin logo entendeu que o silêncio não era
uma forma viável de lidar com a situação. Em tom mais manso que o dos colegas,
defendeu publicamente depois deles a “cooperação institucional” para combater o
crime organizado no País.
Como novo relator da ADPF das Favelas, Moraes foi pessoalmente cobrar explicações de Castro. Quer entender se a polícia descumpriu as regras fixadas pelo STF em abril para operações em comunidades.
Ao menos duas premissas podem ter sido ignoradas no Rio. A primeira é o uso de câmeras corporais por parte dos agentes. A segunda é mais subjetiva: o uso proporcional da força. Ainda assim, ela pode ser aferida diante do resultado da operação, que contabilizou quatro policiais entre os 121 mortos.
Se ficar comprovada a desobediência do
governo do Rio à decisão do STF, caberá a Moraes definir os próximos passos. A
decisão não será fácil. Em tese, não é tarefa do Supremo processar e julgar
governadores ou policiais por abusos cometidos em operações.
Para além da atuação do STF no caso
específico, dois fatos mostram que não é possível despolitizar a atuação de um
tribunal formado por ministros de perfil político.
Na terça-feira, Moraes se reuniu com o
presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para tratar de ações
de combate à criminalidade. Horas depois, Cármen Lúcia comandava a sessão do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que julgaria um processo de cassação contra
Castro por irregularidades na campanha de 2022 – fatos bem anteriores,
portanto, à operação da semana passada.
Integrantes do TSE ficaram incomodados com a decisão da ministra de incluir o processo em pauta no meio da crise política do Rio. Um pedido de vista adiou o julgamento para data indefinida.

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