Correio Braziliense
Na COP30, os técnicos, os teóricos e os
curiosos poderão, afinal, conhecer um pouco da Amazônia, de seus problemas e
das ambições do povo que vive no norte do Brasil
A realização da COP30 em Belém significa a
redescoberta da Amazônia para brasileiros e alguns estrangeiros. Os europeus
conhecem a região desde há muito. Ingleses roubaram o látex para fazer borracha
na Malásia, e diversos produtos da região foram patenteados por marcas
internacionais. Mas o resultado da reunião na capital do Pará será positivo,
porque os técnicos, os teóricos e os curiosos poderão, afinal, conhecer um
pouco da Amazônia, de seus problemas e das ambições do povo que vive no Norte
do Brasil.
Os governos brasileiros sempre mantiveram posição dúbia na relação com a Amazônia. A primeira reação é nacionalista, no sentido de que a Amazônia é brasileira e ninguém toca. Mas os governos nada fizeram em 500 anos para integrar a região que é a metade do território nacional. Getúlio Vargas iniciou tímida marcha para oeste com a criação das cidades de Ceres e Rialma, em Goiás. E visitou Belém rapidamente. Juscelino Kubitschek fez mais: criou a rodovia Belém-Brasília sob violentas críticas dos chamados especialistas no Sul do país. Jânio Quadros, sucessor de JK, chegou a designar a obra de estrada das onças. Hoje, ao longo de seu trajeto, florescem boas cidades médias com economia própria e dinamismo impressionante. O Brasil cresce apesar dos críticos.
Mas a Amazônia guarda segredos e mistérios
além de aldeias indígenas que mexem com a imaginação dos europeus. São os povos
nativos que sobraram sobre a face da Terra depois que os conquistadores
devastaram as Américas. Na Amazônia, vivem cerca de 20 milhões de pessoas que
precisam de emprego, renda e comércio para prosperar. E a região, além de
índios e animais selvagens, possui enorme capacidade de gerar renda por meio da
pesquisa e lavra de minerais preciosos, como diamantes, ouro e, agora, petróleo.
São raras as regiões do planeta que oferecem ao mesmo tempo quantidades
significativas de petróleo e ouro. Há o outro lado: seus rios se transformaram
em caminhos do tráfico de drogas.
Não há número exato de garimpeiros no Brasil.
No entanto, é possível estimar a quantidade deles com base no número de
permissões de lavra ativas (2.765) e na área ocupada pelo garimpo ilegal na
Amazônia. Na região funcionam mais de 4 mil garimpos ilegais, de acordo com
estudos de organismo especializado. Em 2022, o garimpo ilegal ocupava 25 mil
hectares.
Hoje, os garimpeiros estão mais concentrados
no extremo norte do Pará e no Amapá. Há quem fale em 80 mil, o que parece um
exagero. Mas 40 mil pode ser um número perto da realidade. É um exército de
gente que se conecta diretamente com o mercado exterior. Os estrangeiros
compram ouro sem pagar qualquer imposto. É uma farra. O garimpo ilegal é
problema crescente, com aumento de 265% na área ocupada em terras indígenas
entre 2018 e 2022. Estimativas sugerem que pelo menos um terço do ouro
exportado anualmente pelo país tem origem no garimpo ilegal.
O preço do ouro hoje varia de acordo com a
fonte, mas está cotado em torno de R$ 700,97 a R$ 717,31 por grama, enquanto a
cotação internacional em dólares é de aproximadamente 4.032,02. Os valores
exatos podem mudar dependendo da pureza do ouro e do local de compra ou
venda. A medida do ouro é chamada de onça troy, que equivale a 32g. Ou
seja, cabe na palma da mão. Valor hoje é cerca de US$ 4 mil.
O interessado pode carregar seu tesouro no
bolso da calça e chegar a Amsterdã e conseguir os dólares. Ou o contrário:
Amsterdã vai a ele. A ingenuidade brasileira supõe que será possível com
polícia ou Exército conter as levas de gente que está ganhando dinheiro dentro
e fora do Brasil com o garimpo. Há um atuante mercado de ouro em plena
atividade. O dólar está em queda, e o ouro se coloca como referência monetária
em qualquer lugar do mundo. A Amazônia abastece esse mercado.
Representantes de 143 países confirmaram
presença na COP30. Estados Unidos e Argentina não estão no grupo. A questão da
hospedagem foi resolvida. O presidente Lula, que está morando num barco,
transferiu a capital para Belém, cidade que está recebendo melhorias jamais
imaginadas nos últimos séculos. O presidente brasileiro vai se reunir com os
principais chefes de Estado na Cúpula dos Líderes. Inegável sucesso
diplomático. Estrangeiros poderão comer pato no tucupi, tacacá, provar jambu,
experimentar os melhores sorvetes de sabores exóticos, fotografar macaco e
jacaré, além de descobrir que a região é riquíssima, mas habitada por povo
pobre. A Amazônia resistiu e sobreviveu desde o confuso episódio da
Independência do Brasil no Norte do país, em agosto de 1823. Brasileiros e
estrangeiros, até jornalistas, poderão desfrutar, afinal, da oportunidade de
descobrir a realidade.

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