Folha de S. Paulo
Novo formato frearia a proliferação de
partidos e ajudaria eleitor a escolher melhor seu deputado
No sistema atual, legenda do presidente
eleito não forma bancada suficiente para apoiá-lo
O sistema eleitoral brasileiro de voto
proporcional com listas abertas parece muito democrático, mas é uma
aberração política. Se o Brasil fosse um país pequeno e relativamente
homogêneo, como Dinamarca e Noruega, esse formato poderia ser uma boa solução,
mas não diante das nossas características exatamente opostas.
Por isso, ao ler nesta Folha (1º/11) que o
presidente da Câmara
dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB),
e o relator
Domingos Neto (PSD-CE) estão prestes a acelerar a tramitação do projeto
de lei que estabelece o voto distrital misto, fiquei surpreso e
animado. É uma luz nas trevas. A ideia é que o projeto possa ser aprovado pelas
duas Casas do Congresso para valer nas eleições gerais
de 2030.
Eu defendo o voto distrital misto desde 1961, quando soube que o novo sistema eleitoral da Alemanha era dessa natureza. No sistema alemão, o eleitor deposita dois votos: um para seu candidato no distrito e o outro para o partido político que apoia —que, como os demais, tem uma lista fechada de candidatos a serem possivelmente eleitos pelo voto proporcional, ordenados conforme decisão da legenda. Assim, apurados os votos, os primeiros das listas serão eleitos, observando-se o número de votos que a sigla obteve.
No sistema brasileiro em discussão na Câmara,
o voto é igualmente distrital misto: 50% dos deputados serão eleitos pelo voto
distrital e os outros 50% pelo voto proporcional —e as listas serão fechadas.
Mas, em vez de o eleitor depositar dois votos, deposita apenas um. A
proporcionalidade é alcançada considerando-se o total dos votos de cada partido
em cada estado federativo. Segundo o relator, o voto duplo gera um problema de
proporcionalidade, obrigando o Parlamento a corrigi-la recorrentemente.
O atual formato é uma aberração primeiro porque
todos os grandes países adotam o sistema distrital misto, como é o caso da
Alemanha, ou simplesmente distrital, a exemplo dos Estados Unidos, da França e
do Reino Unido.
Segundo, o modelo atual permite a
proliferação de partidos políticos. Terceiro, porque os deputados
eleitos estão muito distantes dos eleitores. Quarto, porque os eleitores
sabem muito bem em quem votar nas eleições majoritárias para presidente e
senador, mas não têm realmente um candidato para deputado.
De acordo com o Datafolha, em setembro de
2022, dois meses antes da eleição, 70%
dos eleitores ainda não sabiam em quem votariam para deputado federal.
Quinto: assim que eleitos, os deputados com
pouco compromisso irão se preocupar com seus eleitores apenas quando o novo
pleito se aproximar.
Tudo isso é péssimo, mas a pior consequência
do voto proporcional com listas abertas é que, desta maneira, o partido
político do presidente eleito não forma uma grande bancada para apoiá-lo e,
assim, o permita levar adiante as políticas que prometeu. Ou obrigará o
presidente a diminuir suas expectativas de mudança, que poderiam ser maiores se
o voto fosse distrital misto e, neste caso, melhor ainda, se fosse simplesmente
distrital.

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