sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

A Câmara se esculhamba. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Ao anular manobra em favor da bolsonarista, Moraes agrava desmoralização de Hugo Motta

Eram quase 23h de quarta-feira quando o advogado Fabio Pagnozzi subiu à tribuna da Câmara. Sem bons argumentos para defender Carla Zambelli, o doutor apelou ao corporativismo dos parlamentares.

“Neste momento, os senhores abrem um precedente perigosíssimo. Existem mais de cem processos contra deputados federais no STF”, disse, em tom de alerta. “Vocês não precisam gostar dela. Vocês só precisam pensar que, se a Carla Zambelli for cassada, vai virar uma coisa repetitiva nesta Casa”, sustentou.

Carla Zambelli é uma criminosa condenada duas vezes a penas que somam 15 anos de prisão. Em vez de se entregar, ela fugiu do país e entrou na lista de procurados da Interpol. Capturada na Itália, foi recolhida a uma penitenciária feminina, onde aguarda o julgamento do processo de extradição.

Na primeira sentença, o Supremo Tribunal Federal determinou que a Mesa Diretora da Câmara declarasse a perda do mandato da bolsonarista. O deputado Hugo Motta ignorou a ordem judicial e remeteu o caso ao plenário, como se os colegas tivessem o poder de revisar decisões da Corte.

Na noite de quarta, o advogado Pagnozzi apostou no instinto de sobrevivência de Suas Excelências. “No mundo, nós não sabemos o dia de amanhã. Amanhã podem ser os senhores de esquerda ou os senhores de centro que vão ser perseguidos”, disse.

O doutor ainda garantiu que a absolvição seria apenas simbólica, porque a cliente renunciaria após a votação. A promessa durou pouco. Horas depois de a Câmara absolver Zambelli, o filho da deputada desmentiu o causídico. “Esse acordo não aconteceu nunca”, informou à Folha de S.Paulo.

A operação para salvar a presidiária teve vida curta. Só serviu para desmoralizar ainda mais o presidente da Câmara. Ontem o ministro Alexandre de Moraes anulou a manobra, decretou o fim do mandato de Zambelli e ordenou que Motta dê posse ao suplente.

Em mensagem a colegas, o deputado Arthur Lira reclamou que a gestão do sucessor “está uma esculhambação”. Tem razão, mas faltou dizer que ele foi o responsável por sua escolha.

 

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