O Estado de S. Paulo
Grupos trabalham para próxima eleição repetir
o clima de polarização extrema e, mais uma vez, sufocar o espaço do centro
político
O ano que se aproxima promete ser decisivo para algumas apostas arriscadas na política. No Brasil, existe um esforço evidente, à esquerda e à direita, para recriar o clima de polarização extrema que definiu a eleição presidencial de 2022 e desaguou nos eventos de aspiração golpista após a vitória de Lula. O que se quer, para o pleito de 2026, é mais uma vez sufocar o espaço do centro político.
Para a
esquerda lulista, que está no poder e pretende mantê-lo, isso pode
parecer uma boa estratégia, mas carrega o risco de, em reação, dar novo fôlego
a uma militância bolsonarista que vem murchando desde o início do
périplo criminal do ex-presidente Jair Bolsonaro. A reação irracional
da esquerda às denúncias contra a atuação
para lá de suspeita de ministros do STF é outro exemplo de como
a aposta na polarização é arriscada. Interessa mesmo ao governo do PT conviver
por mais quatro anos, se reeleito, com um Supremo cada vez mais fora de
controle?
A outra aposta de alto risco consiste em
marchar teimosamente em direção ao abismo do
desequilíbrio fiscal, de mãos dadas com um Congresso sedento por emendas
bilionárias. Os efeitos da dívida pública galopante já se fazem
sentir de diversas formas, inclusive na resistência
do Banco Central em reduzir os juros. Em ano eleitoral, o
crescimento mais lento da renda dos mais pobres pode acabar anulando o impacto
de benefícios desenhados para atrair votos.
Já a direita bolsonarista caiu na armadilha
do personalismo. Condenado e preso, Bolsonaro se
deixou dominar pela paranoia e insiste em ter o seu sobrenome nas urnas,
apostando no filho Flávio como sucessor. Este vangloriou-se de ser um Bolsonaro
“moderado”, mas logo buscou
os préstimos do influenciador Pablo Marçal, que incendiou e vulgarizou a
eleição para a prefeitura de São Paulo em 2024. Por aí se vê o tipo
de campanha que teremos em 2026.
Se Flávio for derrotado, arrisca-se a esvaziar ainda mais o capital político de seu pai — mesmo que seus aliados conquistem maioria no Senado. Fora o discurso e os métodos eleitorais (que consistem em explorar até propaganda de chinelo para reforçar a identidade de grupo), o bolsonarismo se parece cada vez mais com o Centrão, que não resiste a um governo disposto a distribuir cargos. Enquanto isso, as forças políticas que poderiam se apresentar como alternativa se amarram com as cordas do ceticismo excessivo, como se o duopólio dos extremos fosse um fato da vida.

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