O Estado de S. Paulo
Brasil tem de fazer acenos à Ásia-Pacífico, que concentra muitos países dinâmicos e abertos aos negócios
O ano de 2025 valeu por uma década. Uma nova ordem geoeconômica toma corpo. O Brasil precisa se elevar acima de suas aflições e disputas internas para elaborar um plano de inserção nesse mundo repleto de riscos e de oportunidades.
Assistimos a um encolhimento abrupto do
Ocidente, entendido não como geografia, mas como conjunto de valores do pós-2.ª
Guerra. A aliança transatlântica, que sustentava essa ordem, sofreu uma fratura
muito difícil de reparar, porque envolve confiança.
Ela foi formalizada na nova Estratégia de Segurança Nacional (ESN) dos EUA, na qual a Europa é apresentada como adversário, por causa de seus valores liberais. Esse documento desloca as preocupações americanas da Ásia, Oriente Médio e Europa para a América Latina.
Os EUA se propõem a negar o acesso da China
aos ativos estratégicos do Hemisfério Ocidental, entre eles, os minérios, e a
impedir a criação de corredores que permitam o cerco e a asfixia da América do
Norte pelos chineses.
A redação foi concluída em agosto e divulgada
no dia 4, mas a ESN já é colocada em prática no Caribe. Felizmente para o
Brasil, Donald Trump tem identificado em Lula e no País um parceiro que lhe
pode trazer vantagens. Isso deve ser cultivado com afinco. Entretanto, como
país grande e rico em recursos naturais, não interessa ao Brasil viver sob a
tutela dos EUA – ou da China.
O movimento estratégico em direção à Europa
não surtiu os resultados esperados. A onda de nacional-populismo que assola o
continente europeu impediu a União Europeia de negociar em boa-fé o acordo
comercial com o Mercosul.
Embora o presidente francês, Emmanuel Macron,
e outros governantes acreditem no livre-comércio, eles concorrem com populistas
nacionalistas de direita e de esquerda e por isso fazem concessões ao
protecionismo.
A Europa, assim como EUA e China, continuarão
sendo parceiros do Brasil. Mas, para exercer sua independência e aproveitar seu
potencial em minérios, alimentos, energia renovável, sequestro de carbono e
alguns nichos industriais, o Brasil precisa fazer movimentos em direção à
Ásia-Pacífico, que concentra o maior número de países dinâmicos e abertos aos
negócios, como Japão, Co-reia do Sul, Indonésia, Malásia, Singapura, Canadá e
Austrália.
Para aproveitar as oportunidades e evitar os
riscos, o Brasil deve criar um ambiente de negócios amigável, reduzir as
barreiras tarifárias e burocráticas ao comércio e organizar suas contas
públicas para poder cor-tar os juros. Isso requer um pac-to nacional. •

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