domingo, 21 de dezembro de 2025

Brasil precisa de um plano de inserção. Por Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Brasil tem de fazer acenos à Ásia-Pacífico, que concentra muitos países dinâmicos e abertos aos negócios

O ano de 2025 valeu por uma década. Uma nova ordem geoeconômica toma corpo. O Brasil precisa se elevar acima de suas aflições e disputas internas para elaborar um plano de inserção nesse mundo repleto de riscos e de oportunidades.

Assistimos a um encolhimento abrupto do Ocidente, entendido não como geografia, mas como conjunto de valores do pós-2.ª Guerra. A aliança transatlântica, que sustentava essa ordem, sofreu uma fratura muito difícil de reparar, porque envolve confiança.

Ela foi formalizada na nova Estratégia de Segurança Nacional (ESN) dos EUA, na qual a Europa é apresentada como adversário, por causa de seus valores liberais. Esse documento desloca as preocupações americanas da Ásia, Oriente Médio e Europa para a América Latina.

Os EUA se propõem a negar o acesso da China aos ativos estratégicos do Hemisfério Ocidental, entre eles, os minérios, e a impedir a criação de corredores que permitam o cerco e a asfixia da América do Norte pelos chineses.

A redação foi concluída em agosto e divulgada no dia 4, mas a ESN já é colocada em prática no Caribe. Felizmente para o Brasil, Donald Trump tem identificado em Lula e no País um parceiro que lhe pode trazer vantagens. Isso deve ser cultivado com afinco. Entretanto, como país grande e rico em recursos naturais, não interessa ao Brasil viver sob a tutela dos EUA – ou da China.

O movimento estratégico em direção à Europa não surtiu os resultados esperados. A onda de nacional-populismo que assola o continente europeu impediu a União Europeia de negociar em boa-fé o acordo comercial com o Mercosul.

Embora o presidente francês, Emmanuel Macron, e outros governantes acreditem no livre-comércio, eles concorrem com populistas nacionalistas de direita e de esquerda e por isso fazem concessões ao protecionismo.

A Europa, assim como EUA e China, continuarão sendo parceiros do Brasil. Mas, para exercer sua independência e aproveitar seu potencial em minérios, alimentos, energia renovável, sequestro de carbono e alguns nichos industriais, o Brasil precisa fazer movimentos em direção à Ásia-Pacífico, que concentra o maior número de países dinâmicos e abertos aos negócios, como Japão, Co-reia do Sul, Indonésia, Malásia, Singapura, Canadá e Austrália.

Para aproveitar as oportunidades e evitar os riscos, o Brasil deve criar um ambiente de negócios amigável, reduzir as barreiras tarifárias e burocráticas ao comércio e organizar suas contas públicas para poder cor-tar os juros. Isso requer um pac-to nacional. •

 

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