Isso se deu por ocasião de uma homenagem
prestada a ela no Teatro. Casa lotada, e eu tentando me virar para,
literalmente, controlar a situação, o entra-e-sai. Conferindo os bilhetes, de
cabeça baixa, eu não reparei quando a princesa se aproximou de mim. Mecanicamente,
estendi uma das mãos para ela e pedi o seu bilhete. Precisamente nesse momento,
Jean-Louis Barrault, o dono do teatro, se aproximou de mim e sussurrou: Mais...c´est
la princesse!” E me deu uma espécie de beliscão... Um vexame e tanto. Conforme
já relatei uma vez, barrei a princesa no baile. Acontece nas melhores famílias
– ou dinastias, o que digo eu.
Por que estou me lembrando disso,
transcorridos tantos anos – bem mais de quarenta, para dizer a verdade? Por uma
razão: li, certa vez, que James Joyce, aos 18 anos, se dirigiu a um teatro em
Dublin, na sua Irlanda natal, para assistir a uma peça ali apresentada. Só que
ele não tinha um tostão furado no bolso. O então adolescente não se fez de
rogado:
- “I am James Joyce”, lançou ele ao perplexo bilheteiro do teatro.
Impressionado com a ousadia do rapaz, o bom
homem o deixou entrar. Isto é, caiu no canto da sereia do jovem. Vale dizer,
agiu de forma mais sensata do que eu, provavelmente, que dei um cartão vermelho
para a princesa.
Às vezes eu me pergunto se James Joyce não
teria se inspirado nele mesmo e nesse episódio tão destemido quando escreveu o
seu célebre romance Ulisses, no qual o personagem Leopold Bloom lutava com
bravura para escapar... do canto das sereias e de sua sedução.
Quem sabe começava ali, naquele teatro de Dublin, a vitoriosa carreira de James Joyce na Literatura - ou a sua cartada inicial.

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