Folha de S. Paulo
Resultado era esperado e PIB ainda deve
crescer mais do que 2% neste 2025
Ritmo fraco aumenta ligeiramente as
possibilidades de corte de juros em janeiro
A economia está ainda morninha por causa do desempenho daqueles setores que reagem menos ou pouco às andanças da atividade dita "doméstica" (mais nacional) ou às taxas de juros daqui. Isto é, indústria extrativa (petróleo e minérios), grande agropecuária e exportações. Por tabela, um setor que presta serviços a essas atividades, como transportes, logística, anda melhorzinho também, assim como a construção civil, empurrada por obras de infraestrutura e, menos, pelo Minha Casa Minha Vida. Mas, no geral, quanto à dita "absorção doméstica", o ritmo de crescimento baixou a níveis pré-Lula 3 ou pré-epidemia. É o que se depreende dos dados do PIB divulgados nesta quinta-feira (4) pelo IBGE.
O PIB cresceu 0,1% no terceiro trimestre, em relação ao
segundo (quando crescera 0,3%). Recentemente, chegou a cair 0,1% no quarto trimestre do ano passado, um quase
nada. Não há desastre. Era esperado, por causa da alta de juros e esgotamentos
da capacidade produtiva e de trabalho qualificado em certos setores.
É ritmo ainda compatível com um crescimento
de pouco mais do que 2% neste 2025. É bem menos do que os por ora
insustentáveis 3,4% de 2024 e bem mais do que os deprimidos 1,4% ao ano de 2017
a 2019. É medíocre, dados o nosso potencial e as nossas necessidades. Mas
parecia impensável faz meros dois anos.
O consumo privado, "das famílias",
cresceu 0,1% no trimestre, praticamente nada. O investimento aumentou 0,9%, um
tanto distorcido por artificialidade contábil, depois de ter caído 1,5% no
segundo trimestre. "Investimento":
despesa em aumento de capacidade de produção de bens e serviços, em novas
instalações produtivas, casas, softwares etc. Tudo somado e ponderado, dá perto
de estagnação. Enfim, o aumento das exportações de bens e serviços e a
contenção de importações deram alento ao PIB trimestral.
Dúvida maior de curtíssimo prazo é o tamanho
da desaceleração até o ano que vem. Na mediana das previsões de economistas do
setor privado, basicamente finança, "o mercado", o PIB cresceria 1,8%
em 2026 (são as estimativas compiladas pelo Banco Central). Para o Ministério
da Fazenda, deve crescer 2,4%. Além do erro esperado para previsões para
período ainda tão distante, resta saber também qual será a composição desse PIB
(se o crescimento é aquele mais sentido pela população, o que se reflete no
consumo, ou se é empurrado por um fator tal como exportações, apenas para dar
um exemplo didático). Pode ter relevância, embora a economia entre mesmo na
veia da política por causa de preços e emprego.
Se não crescer nada no quarto trimestre, o
que é provável, o PIB de 2025 ainda aumenta perto de 2,3%. Em sua estimativa
mais recente, o BC previa 2%. Fica mais fácil ou difícil cortar a Selic?
Pelos dados do PIB, fraco na "absorção doméstica" e pelos números do
emprego, desacelerando mais em outubro, parece que não. Pelo menos até a tarde
desta quinta, o resultado do PIB parecia favorecer quedas de juros na praça,
embora o mercado mundial estivesse pesando mais por aqui.
No curtíssimo prazo, é isso. No mais,
continuam todos os nossos problemas de investimento baixo, crédito caro,
crescimento e juros voláteis, ineficiências, distorções tributárias, incerteza
jurídica, escola ruim, dívida pública alta e milhões de pessoas empregadas em
atividades de baixíssima produtividade (quando têm trabalho), um jeito de
resumir motivos do nosso crescimento cronicamente baixo.
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