O Estado de S. Paulo
Na véspera do Natal, morreu Tainara Souza Santos, aos 31 anos, mãe de dois filhos, vítima de feminicídio. Ela sofreu por quase um mês, após ter sido atropelada e arrastada por quase um quilômetro na Marginal do Tietê, ter as duas pernas amputadas e passar por diversas cirurgias.
O nome do assassino é Douglas Alves da Silva. Ele não nega o atropelamento, só diz que não tinha relacionamento com a vítima. O caso é brutal, mas está longe de ser isolado. O Brasil registrou 1.492 feminicídios em 2024, o maior número desde que o crime foi tipificado em 2015. É uma média de quatro mulheres assassinadas todos os dias. É uma epidemia.
E elas são mortas com requintes de crueldade:
asfixiadas, grávidas, queimadas, esquartejadas, na frente dos filhos. Não há
limite para a violência física. Num contexto em que as mulheres tentam ocupar
espaços de poder e, finalmente, ganhar liberdade sexual, a violência chega para
deixar marcas, humilhar e subjugar.
Além da violência física, existe também a
violência psicológica, que não chega às vias de fato, mas deixa marcas
profundas e paralisa vidas. Demorou, mas a legislação penal brasileira avançou.
Um marco na história de proteção à mulher, a Lei Maria da Penha foi sancionada
em 7 de agosto de 2006. Em 2015, o País passou a reconhecer o feminicídio como
tipo penal e aumentou a punição. Em 2018, a importunação sexual também virou
crime. Em 2021, foi criada a tipificação para a violência psicológica.
A pena para o feminicídio chega a 40 anos de prisão,
mas, é claro, que muitos criminosos ainda ficam pelo caminho nas mãos de juízes
machistas e policiais inertes. O problema brasileiro hoje também é,
principalmente, cultural.
Nós – mães, pais, e sociedade – estamos
ensinando nossos meninos a não serem como Douglas Alves da Silva? Estamos
ensinando nossos meninos a não serem atropeladores de meninas?
Não pense que o problema está longe de você.
Ele está dentro da sua casa. Dê o exemplo na vida cotidiana, converse sobre o
assunto, ensine a criança a pensar, preste a atenção no que eles repetem,
corrija, fique atento ao que assistem na internet. Viva a igualdade de gêneros.
E mães e pais não são os únicos responsáveis por educar crianças. É preciso uma aldeia inteira. São necessárias políticas públicas efetivas. Com o País comovido pelo caso de Tainara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “resolveu assumir a tarefa de criar uma mobilização de homem nesse País”. “Não é uma coisa de mulher, é uma coisa de homem, que é a violência do homem contra a mulher. Então, nós vamos ter de criar juízo, criar vergonha e nos educar, sabe? Ao invés de ser violento contra a mulher, a gente vai tratá-la com respeito”, disse. É urgente sair do discurso e transformar em prática. Meninas e meninos precisam da nossa ajuda.

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