O Globo
Não é a primeira vez que o nome de Fábio Luís
Lula da Silva, o Lulinha, é citado em casos espinhosos para o PT
O governo estava em clima de confraternização
natalina, comemorando a recuperação nas pesquisas e o saldo da batalha do
tarifaço, quando foi pego no contrapé pela nova fase da investigação do
escândalo do INSS, que atingiu o número 2 do Ministério da Previdência, o
vice-líder do governo no Senado e chegou bem perto da família de Lula.
Quando revelado, no primeiro semestre, o caso de descontos ilegais nos benefícios previdenciários de milhões de aposentados e pensionistas do INSS foi responsável por uma queda na popularidade de Lula e reavivou, na cabeça de grande parte do eleitorado, a associação entre ele e seu partido, o PT, com casos de corrupção. A pesquisa Quaest divulgada nesta semana coloca o enfrentamento da corrupção como uma das áreas mais mal avaliadas do governo. Para 55% dos entrevistados, a forma como a administração lulista lida com o assunto é ruim ou péssima.
Toda a estratégia de comunicação do Planalto
no caso do INSS consistiu em jogar a culpa na gestão Bolsonaro, uma vez que o
esquema dos descontos sem autorização dos beneficiários começou no governo
anterior. Mas, desde o princípio, a lista das entidades envolvidas e o fato de
o volume de recursos desviados ter aumentado explosivamente a partir de 2021
dificultaram esse jogo de empurra.
Agora a coisa piora de figura, porque um
senador governista é apontado pela Polícia Federal como sócio oculto do esquema
criminoso, e o secretário executivo do ministro Wolney Queiroz, nomeado já
depois das investigações, está em prisão domiciliar, pois apareceu numa
planilha apreendida pela Polícia Federal como receptor de propina de Antônio
Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS.
No tradicional café da manhã de fim de ano
com jornalistas que cobrem o Planalto, quando pretendia bater bumbo nas
notícias auspiciosas do ano (aprovação da reforma do Imposto de Renda, reversão
do tarifaço e recuperação nas pesquisas) e plantar as sementes da campanha à
reeleição, Lula teve de passar pelo constrangimento de dizer que, se houver
qualquer familiar seu envolvido no escândalo das aposentadorias, deve ser
investigado. Não é a primeira vez que o nome de Fábio Luís Lula da Silva, o
Lulinha, é citado em casos espinhosos para o PT e os governos petistas.
Nesta nova fase das investigações do INSS, a
Polícia Federal apreendeu mensagens em que Antunes determina o repasse de R$
300 mil à empresa de Roberta Luchsinger, amiga de Lulinha. Na mensagem, o
Careca do INSS se refere a ela como amiga do “filho do rapaz”. O nome “Fábio”
aparece em diálogos entre Antunes e a empresária.
O caso e, sobretudo, as menções a Lulinha são
um prato cheio para o bolsonarismo, que vinha sem bandeira ao longo de todo o
ano, com a condenação e a prisão de Bolsonaro e outros reveses, como a cassação
do mandato de Eduardo Bolsonaro por faltas, determinada nesta quinta-feira pelo
presidente da Câmara, Hugo Motta. Bater na tecla de ligar Lula e o PT a
escândalos de corrupção foi uma das tônicas da receita que levou Bolsonaro, até
então num partido nanico e tido como um deputado do baixo clero com pouca
viabilidade política, a vencer a eleição de 2018.
Essa estratégia já vinha sendo construída por
Bolsonaro nas redes sociais desde pelo menos 2016, na discussão do impeachment
de Dilma Rousseff e, mesmo com a revisão de uma série de decisões da Lava-Jato,
inclusive a condenação de Lula, pesquisas mostram que a associação do
presidente e de seu partido com a “roubalheira” colou de forma indelével junto
a uma parcela do eleitorado que já foi tucana e migrou fortemente para a
direita nos últimos anos.
Tudo de que Lula não precisava era um telhado
de vidro nessa seara, no momento que Bolsonaro está preso e o bolsonarismo
andava meio atônito, sem eixo em torno do qual tentar aprumar a candidatura de
Flávio.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.