Folha de S. Paulo
Economia deve crescer perto de 2% em 2025,
menos do que em 2024 e com mais desigualdade
PIB dos EUA deve avançar mais em 2026, ano de
eleição crucial para política mundial
Donald Trump não
estropiou a economia americana,
no curto prazo, como se imaginava pelo menos até abril, quando muito
se discutia o risco de recessão. Ajudou que tenha desistido das
idiotices piores. Nos primeiros três trimestres do ano, o PIB cresce
pouco mais do que 2%. Em 2024, cresceu 2,8%.
PIB não diz lá tanta coisa sobre o bem-estar material das pessoas, afora em recessões ou em épocas raras de exuberância contínua. Por vezes, mesmo um PIB andando bem não diz lá tanta coisa sobre possibilidades políticas. Ainda assim, convém prestar atenção. As andanças dos juros americanos e do dólar definem parte importante da vidinha econômica no Brasil.
Além do mais, emprego, inflação e até ritmo
do PIB podem influenciar a eleição legislativa dos Estados
Unidos do final de 2026, quando é possível que Trump perca a
maioria no Congresso, apesar da incompetência do Partido Democrata. Podem
influenciar também rumos das direitas e da extrema direita por lá.
O destino eleitoral do trumpismo ou de seus
derivados vai influenciar o que será de autoritarismos e nacionalismos que se
espalham pelo mundo, para nem
falar da natureza do conflito com a China e dos riscos de guerra em geral.
Será importante também para a definição dos sucessores de Trump e da parte do
cardápio reacionário trumpista que vão escolher.
Aparecem rachaduras entre a tecnocracia da
direita, seus intelectuais e "think tanks". Os mais liberais e
assemelhados não estão gostando das intervenções de Trump na economia e da
expansão de um capitalismo de compadres mais tosco. Nas bases mais populares,
Maga inclusive, há
insatisfeitos com o fato de que Trump não venha sendo o ferrabrás das cavernas
que imaginavam. Isto é, mais isolacionista na política mundial, mais
nacionalista, mais repressor, mais racista, mais machista etc.
Quanto à economia, para começar há dúvidas
sobre a continuidade do atual ritmo do PIB, sobre a aparente disparidade dos
dados e, ainda pior, sobre a qualidade das estatísticas.
O PIB cresce, o desemprego
aumenta de leve e, mais relevante, a criação de empregos está
em ritmo baixíssimo. Ou até pode estar ocorrendo redução do número total de
empregos, pois o Fed,
o Banco Central americano, acredita que os dados oficiais estejam
superestimados, por problemas técnicos. Ainda que o crescimento do número de empregos
venha a ser nenhum, será possível que apenas mais investimento (em inteligência
artificial e entorno) sustente o avanço do PIB?
A inflação
incomoda muito. Segundo a média das pesquisas de opinião
calculada pelo Silver Bulletin, 62,5% dos americanos desaprovam Trump nesse
quesito. Quanto ao governo em geral, a
desaprovação é de 54,5%, ante 41,9% de aprovação, um saldo
negativo de 12,6 pontos. Na posse, em janeiro, a aprovação era de 51,6%; a
desaprovação de 40%. A confiança do consumidor, na medida do Conference Board,
está no nível mais baixo em cinco anos.
Há otimismos para o ano que vem, como se nota
por exemplo nas projeções
econômicas do Fed. Em 2026, o PIB cresceria 2,3% (ante 1,7% neste
2025), a taxa de desemprego cairia de 4,6% (de agora) para 4,4% e a medida de
inflação preferida do BC dos EUA (a do PCE), baixaria de 2,9% para 2,4%.
Talvez o combate político venha a pesar mais.
Mas inflação e emprego estão preocupando muito a metade mais pobre do país, que
padece e vive de crédito. O terço mais rico floresce.
.jpg)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.