quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

EUA ainda crescem, Trump não. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Economia deve crescer perto de 2% em 2025, menos do que em 2024 e com mais desigualdade

PIB dos EUA deve avançar mais em 2026, ano de eleição crucial para política mundial

Donald Trump não estropiou a economia americana, no curto prazo, como se imaginava pelo menos até abril, quando muito se discutia o risco de recessão. Ajudou que tenha desistido das idiotices piores. Nos primeiros três trimestres do ano, o PIB cresce pouco mais do que 2%. Em 2024, cresceu 2,8%.

PIB não diz lá tanta coisa sobre o bem-estar material das pessoas, afora em recessões ou em épocas raras de exuberância contínua. Por vezes, mesmo um PIB andando bem não diz lá tanta coisa sobre possibilidades políticas. Ainda assim, convém prestar atenção. As andanças dos juros americanos e do dólar definem parte importante da vidinha econômica no Brasil.

Além do mais, emprego, inflação e até ritmo do PIB podem influenciar a eleição legislativa dos Estados Unidos do final de 2026, quando é possível que Trump perca a maioria no Congresso, apesar da incompetência do Partido Democrata. Podem influenciar também rumos das direitas e da extrema direita por lá.

O destino eleitoral do trumpismo ou de seus derivados vai influenciar o que será de autoritarismos e nacionalismos que se espalham pelo mundo, para nem falar da natureza do conflito com a China e dos riscos de guerra em geral. Será importante também para a definição dos sucessores de Trump e da parte do cardápio reacionário trumpista que vão escolher.

Aparecem rachaduras entre a tecnocracia da direita, seus intelectuais e "think tanks". Os mais liberais e assemelhados não estão gostando das intervenções de Trump na economia e da expansão de um capitalismo de compadres mais tosco. Nas bases mais populares, Maga inclusive, há insatisfeitos com o fato de que Trump não venha sendo o ferrabrás das cavernas que imaginavam. Isto é, mais isolacionista na política mundial, mais nacionalista, mais repressor, mais racista, mais machista etc.

Quanto à economia, para começar há dúvidas sobre a continuidade do atual ritmo do PIB, sobre a aparente disparidade dos dados e, ainda pior, sobre a qualidade das estatísticas.

O PIB cresce, o desemprego aumenta de leve e, mais relevante, a criação de empregos está em ritmo baixíssimo. Ou até pode estar ocorrendo redução do número total de empregos, pois o Fed, o Banco Central americano, acredita que os dados oficiais estejam superestimados, por problemas técnicos. Ainda que o crescimento do número de empregos venha a ser nenhum, será possível que apenas mais investimento (em inteligência artificial e entorno) sustente o avanço do PIB?

A inflação incomoda muito. Segundo a média das pesquisas de opinião calculada pelo Silver Bulletin, 62,5% dos americanos desaprovam Trump nesse quesito. Quanto ao governo em geral, a desaprovação é de 54,5%, ante 41,9% de aprovação, um saldo negativo de 12,6 pontos. Na posse, em janeiro, a aprovação era de 51,6%; a desaprovação de 40%. A confiança do consumidor, na medida do Conference Board, está no nível mais baixo em cinco anos.

Há otimismos para o ano que vem, como se nota por exemplo nas projeções econômicas do Fed. Em 2026, o PIB cresceria 2,3% (ante 1,7% neste 2025), a taxa de desemprego cairia de 4,6% (de agora) para 4,4% e a medida de inflação preferida do BC dos EUA (a do PCE), baixaria de 2,9% para 2,4%.

Talvez o combate político venha a pesar mais. Mas inflação e emprego estão preocupando muito a metade mais pobre do país, que padece e vive de crédito. O terço mais rico floresce.

 

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