quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Profissão: perigo. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Escolha de carreira de um indivíduo impõe limitações sobre vida pessoal

Moraes deve explicações sobre relacionamento com banco Master

As escolhas profissionais de um indivíduo afetam seu estilo de vida. Se você quiser ter uma esposa, filhos e conviver publicamente com eles, risque o item padre católico de sua lista de opções. Se não desejar ser acordado no meio da madrugada por uma mãe aflita, descarte a pediatria em consultório particular. Quem não se dispuser a trabalhar aos fins de semana não deveria ser mestre-cuca, garçom nem jornalista esportivo.

De modo análogo, candidatos a juiz de direito precisariam renunciar a uma vida social normal, se por "normal" se entende participar do circuito de festas, viagens e convívio intenso com a nata da sociedade. Idealmente, magistrados iriam de casa para o trabalho e do trabalho para casa sem nunca confraternizar com políticos, empresários, advogados e promotores.

Os mais puristas, cuja posição vai ficando cada dia mais difícil criticar, defendem até uma PEC que, no espírito da igreja católica, inclua "celibatário e sem filhos" entre os requisitos para integrar o STF e cortes superiores. Se há algo bastante corrosivo para a credibilidade de decisões judiciais, são as relações promíscuas entre os tribunais e escritórios de advocacia de parentes dos ministros.

Não é porque o Judiciário é um Poder não eleito que ele não precisa legitimar-se diante da sociedade. Os julgados podem e frequentemente devem ir contra a opinião majoritária, mas precisam ser percebidos como imparciais e livres de influências inconfessáveis. Quando o magistrado viola esse dever de parecer honesto, não pode reclamar das cobranças que se seguem.

Alexandre de Moraes deve explicações sobre conversas que teve com o presidente do Banco Central em torno do banco Master, que contratara o escritório de sua família por valores bem acima dos de mercado, como revelou Malu Gaspar no jornal O Globo. Ações de outros ministros do Supremo Tribunal Federal para avocar o caso para a corte, colocá-lo sob sigilo e para blindar seus integrantes de responder perante outros Poderes só pioram a situação.

 

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