"Uma coisa na cidade se perde: são as estrelas", escreveu certa vez Rachel de Queiroz, uma admiradora do céu do sertão. De um céu tão bonito e iluminado que continuaria assim mesmo sem a lua, mesmo sem a Estrela d'Alva. Até sem o Cruzeiro do Sul.
Navegado por Américo Vespúcio, no longínquo ano de 1501, o velho Chico era
conhecido pelo nome de Opará pelos índios que habitavam a região. Hoje, é
o velho Chico dos violeiros e dos cantadores. Dos carranqueiros e dos
pescadores. Das ceramistas e das bordadeiras. E também o Chico dos mineiros,
dos baianos, dos pernambucanos e dos alagoanos. Dos homens e das mulheres.
O Velho Chico para lá de brasileiro.
Eu fui parar em Ibiaí quando deixava a cidade
de Pirapora, em demanda da casa onde se refugiou, por duas décadas seguidas, o
temível capitão Rotílio Manduca, que inspirou o personagem Zé Bebelo, ninguém
menos do que o protagonista de o Grande Sertão: Veredas. E pensar que o
velho Guimarães Rosa caminhou por debaixo daquele céu estrelado de Ibiaí! O
Rosa – eu estou totalmente convencido disso - orvalhou por lá. E espalhou seu
perfume por toda aquela bonita região, por seus caminhos e segredos. O
Rosa deve ser mais uma dessas estrelas penduradas no céu de Ibiaí. Que digo eu:
o Rosa valia por toda uma constelação.
Pequenina tal qual um anel de ouro, Ibiaí é
uma jóia do sertão de Minas. A cidadezinha tem histórias tão misteriosas e
antigas quanto a luz de suas estrelas. E, como suas estrelas, Ibiaí tem brilho
próprio - se não for ainda mais luminosa.
*Ivan Alves Filho, historiador.

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