Folha de S. Paulo
Governador tem boas razões para não querer
ser presidente em 2027
Em pleno dia de Natal, Jair publicou uma
carta comparando sua decisão de tentar arrumar para Flávio uma boquinha de
presidente com a decisão
de Deus de entregar seu filho ao martírio.
Talvez Jair tenha embarcado nessa fantasia de grandeza depois que Jim Caviezel, que interpretou Jesus em "A Paixão de Cristo", foi escolhido para interpretá-lo no filme "Dark Horse", uma espécie de "Cinderela Baiana" fascista dirigida pelo ex-ministro da Cultura Mário Frias.
A carta de Natal pode parecer notícia velha:
Jair já tinha anunciado que apoiaria Flávio em 2026. Mas a novidade é
exatamente essa: nada mudou, o centrão esperava que tivesse mudado, e o tempo
está passando.
Agora vem recesso parlamentar, depois tem
Carnaval. Quando a política brasileira voltar a funcionar a pleno vapor, vai
haver pouco tempo para trocar Flávio
Bolsonaro por Tarcísio de
Freitas. Vai estar bem em cima do prazo para Tarcísio decidir se
deixará o Governo de São Paulo para
concorrer à Presidência.
Para piorar, a carta saiu ao mesmo tempo que
a mensagem de Natal de Michelle
Bolsonaro, em que a ex-primeira-dama, admiradora notória de joias
sauditas e de cheques do Queiroz, reclamou da
"traição das pessoas mais próximas". Parecia se referir ao
enteado Flávio, admirador notório de mansões compradas com dinheiro vivo e,
enfim, cheques do Queiroz.
Ou seja: Flávio e Michelle ainda se
enfrentarão na semifinal e, só então, jogarão a final contra Tarcísio. Na data
prevista para a final, Tarcísio terá que escolher entre uma competição fácil de
ganhar e outra bem mais arriscada.
Por isso tudo, muita gente bem-informada viu
na carta de Jair o obituário da candidatura de Tarcísio de Freitas a presidente
em 2026.
É cedo para cravar. De qualquer maneira,
Tarcísio tem boas razões para não querer ser presidente em 2027.
Seria eleito com apoio do mercado, que
esperaria dele um ajuste fiscal duríssimo. Também seria eleito com apoio do
centrão, que a cada ano adquire controle de uma parte maior do Orçamento sob a
forma de emendas parlamentares.
Seu único aliado potencial nessa briga contra
o Congresso –o mesmo de Lula,
hoje em dia– seria o STF. Qualquer
corte constitucional que se preze sabe que a captura do Orçamento pelo
Congresso está mudando a divisão entre os Poderes no Brasil em uma direção
muito diferente da prevista pelos constituintes.
Tarcísio poderá contar com o STF? Seus
eleitores bolsonaristas terão votado nele confiando na promessa de uma guerra
contra a Suprema Corte. Quando chamou Alexandre de
Moraes de "tirano" na avenida Paulista, Tarcísio
registrou a promessa em cartório.
Nos últimos três anos, Lula teve enorme dificuldade
em governar enfrentando oposição da aliança direita golpista/direita corrupta.
Tarcísio, que é um sujeito inteligente, já deve ter se perguntado se governar
tendo essa aliança a seu favor não é mais difícil ainda.
A expectativa de que os conservadores
brasileiros terminassem o ano com um candidato consolidado à Presidência foi
frustrada.
A direita brasileira é imensamente mais
poderosa do que a esquerda, mesmo quando perde a eleição presidencial. O
notável é que essa imensa máquina conservadora, criada durante nossa transição
para a democracia, seja tão difícil de dirigir.

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