DAVID FRIEDLANDER ELIANE CANTANHÊDE COLABOROU RICARDO CORRÊA / O Estado de S. Paulo.
Uma reunião com Galípolo foi presencial;
ministro diz que trataram só de Lei Magnitsky
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, chegou a ligar 6 vezes em 1 dia para Gabriel Galípolo, do BC, para saber sobre a compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), informam David Friedlander e Eliane Cantanhêde. Os telefonemas fazem parte de uma das conversas de Moraes com Galípolo a respeito do assunto, sendo uma delas presencial. A pressão ocorreu em meio à análise do negócio que salvaria o Master, liquidado pelo BC sob suspeita de fraudes de R$ 12,2 bilhões. A mulher de Moraes, Viviane Moraes, tinha contrato de R$ 129 milhões para representar o Master. Em nota, Moraes afirmou que contatos tiveram como “exclusivo” objetivo tratar da Lei Magnitsky. O BC confirmou, mas não usou o termo “exclusivamente”.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Alexandre de Moraes chegou a telefonar seis vezes no mesmo dia para o
presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, para saber sobre o
andamento da operação de compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). A
série de telefonemas faz parte de uma das ao menos cinco conversas de Moraes
com Galípolo sobre o tema, sendo uma delas presencial.
A informação, obtida com pessoas do meio
jurídico e do mercado financeiro, detalha a intensidade da pressão exercida
pelo ministro sobre a autoridade monetária em meio à análise do negócio que
salvaria a instituição de Daniel Vorcaro, liquidada pelo BC em 18 de novembro
sob suspeita de fraudes de R$ 12,2 bilhões. A mulher de Moraes, Viviane Barci
de Moraes, fechou um contrato de R$ 129 milhões para representar o Master em
Brasília, inclusive no BC.
O teor e a frequência dessas ligações
contradizem as explicações dadas publicamente pelas autoridades ontem. Em notas
oficiais divulgadas pela manhã, Moraes afirmou que as reuniões e contatos
tiveram como “exclusivo” objetivo tratar dos efeitos da Lei Magnitsky. Já o
BC também disse que o assunto era sobre as
sanções econômicas impostas pelos EUA ao ministro, mas não usou o termo
“exclusivamente”. Apesar de admitir reuniões, o encontro entre Moraes e
Galípolo não consta na agenda do presidente do BC e dos demais diretores do
banco. Houve ainda uma alteração no texto enviado por Moraes à imprensa sobre
um dos bancos com o qual teria conversado sobre as sanções. ( leia abaixo).
PRESENCIAL. A existência de conversas entre
Moraes e Galípolo fora da agenda foi revelada originalmente pela colunista Malu
Gaspar, do jornal O Globo. Segundo a jornalista, fo
“Em todas as reuniões, foram tratados (...)
assuntos específicos sobre as graves consequências da aplicação da lei, em
especial a possibilidade de manutenção de movimentação bancária, contas
correntes, cartões de crédito e débito”
Alexandre de Moraes Ministro do STF
ram ao menos quatro encontros, sendo um
presencial. O Estadão confirmou a existência de, ao menos, cinco conversas –
uma das quais presencial – com pessoas que ouviram relatos, inclusive, de um
dos envolvidos.
A pressão de Moraes no presidente do BC se
deu no momento em que havia uma divisão dentro da autarquia sobre a aprovação
ou rejeição do negócio, conforme publicado pelo Estadão. Moraes repetiu a
Galípolo os argumentos usados por Vorcaro de que os grandes bancos não viam com
bons olhos sua atuação no mercado financeiro porque temiam a concorrência do
Master.
A compra do Master pelo BRB foi anunciada no
fim de março e só foi rejeitada pelo BC no dia 3 de setembro. Moraes foi
sancionado pelo governo de Donald Trump com base na Lei Magnitsky no dia 30 de
julho e a mulher dele, no dia 22 de setembro. Os EUA justificaram a medida em
razão do processo no STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, do qual Moraes
era o relator.
PRESSÃO. Pressionado pela repercussão do
caso, o ministro Moraes divulgou nota afirmando que procurou Galípolo apenas
para mitigar os danos das sanções aplicadas a ele em julho pelo presidente
americano. Nem ele ou o BC citaram o Banco Master em suas notas.
A revelação das seis ligações focadas no
negócio BRB-Master lança suspeitas sobre o real motivo da urgência de Moraes. O
banco liquidado possui laços financeiros com a família do ministro. Conforme
revelado pelo jornal O Globo, o escritório da mulher de Moraes firmou
Versões O ministro Moraes repetiu a Galípolo
os argumentos usados por Vorcaro para defender o banco
um contrato com o Master que prevê o
pagamento de R$ 3,6 milhões mensais de 2024 a 2027.
Se cumprido integralmente, o acordo renderia
R$ 129 milhões ao escritório da família Moraes. O contrato estava vigente
enquanto Moraes abordava Galípolo e foi encerrado na liquidação do banco pelo
BC em 18 de novembro.
O cenário político já reage às denúncias. Na
segunda-feira, o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) anunciou que está colhendo
assinaturas para uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) investigar o
contrato do escritório de Viviane Barci e a suposta advocacia administrativa de
Moraes. •

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