quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Moraes chegou a ligar 6 vezes em 1 dia ao BC para tratar do Banco Master

DAVID FRIEDLANDER ELIANE CANTANHÊDE COLABOROU RICARDO CORRÊA / O Estado de S. Paulo.

Uma reunião com Galípolo foi presencial; ministro diz que trataram só de Lei Magnitsky

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, chegou a ligar 6 vezes em 1 dia para Gabriel Galípolo, do BC, para saber sobre a compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), informam David Friedlander e Eliane Cantanhêde. Os telefonemas fazem parte de uma das conversas de Moraes com Galípolo a respeito do assunto, sendo uma delas presencial. A pressão ocorreu em meio à análise do negócio que salvaria o Master, liquidado pelo BC sob suspeita de fraudes de R$ 12,2 bilhões. A mulher de Moraes, Viviane Moraes, tinha contrato de R$ 129 milhões para representar o Master. Em nota, Moraes afirmou que contatos tiveram como “exclusivo” objetivo tratar da Lei Magnitsky. O BC confirmou, mas não usou o termo “exclusivamente”.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes chegou a telefonar seis vezes no mesmo dia para o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, para saber sobre o andamento da operação de compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). A série de telefonemas faz parte de uma das ao menos cinco conversas de Moraes com Galípolo sobre o tema, sendo uma delas presencial.

A informação, obtida com pessoas do meio jurídico e do mercado financeiro, detalha a intensidade da pressão exercida pelo ministro sobre a autoridade monetária em meio à análise do negócio que salvaria a instituição de Daniel Vorcaro, liquidada pelo BC em 18 de novembro sob suspeita de fraudes de R$ 12,2 bilhões. A mulher de Moraes, Viviane Barci de Moraes, fechou um contrato de R$ 129 milhões para representar o Master em Brasília, inclusive no BC.

O teor e a frequência dessas ligações contradizem as explicações dadas publicamente pelas autoridades ontem. Em notas oficiais divulgadas pela manhã, Moraes afirmou que as reuniões e contatos tiveram como “exclusivo” objetivo tratar dos efeitos da Lei Magnitsky. Já o

BC também disse que o assunto era sobre as sanções econômicas impostas pelos EUA ao ministro, mas não usou o termo “exclusivamente”. Apesar de admitir reuniões, o encontro entre Moraes e Galípolo não consta na agenda do presidente do BC e dos demais diretores do banco. Houve ainda uma alteração no texto enviado por Moraes à imprensa sobre um dos bancos com o qual teria conversado sobre as sanções. ( leia abaixo).

PRESENCIAL. A existência de conversas entre Moraes e Galípolo fora da agenda foi revelada originalmente pela colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo. Segundo a jornalista, fo

“Em todas as reuniões, foram tratados (...) assuntos específicos sobre as graves consequências da aplicação da lei, em especial a possibilidade de manutenção de movimentação bancária, contas correntes, cartões de crédito e débito”

Alexandre de Moraes Ministro do STF

ram ao menos quatro encontros, sendo um presencial. O Estadão confirmou a existência de, ao menos, cinco conversas – uma das quais presencial – com pessoas que ouviram relatos, inclusive, de um dos envolvidos.

A pressão de Moraes no presidente do BC se deu no momento em que havia uma divisão dentro da autarquia sobre a aprovação ou rejeição do negócio, conforme publicado pelo Estadão. Moraes repetiu a Galípolo os argumentos usados por Vorcaro de que os grandes bancos não viam com bons olhos sua atuação no mercado financeiro porque temiam a concorrência do Master.

A compra do Master pelo BRB foi anunciada no fim de março e só foi rejeitada pelo BC no dia 3 de setembro. Moraes foi sancionado pelo governo de Donald Trump com base na Lei Magnitsky no dia 30 de julho e a mulher dele, no dia 22 de setembro. Os EUA justificaram a medida em razão do processo no STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, do qual Moraes era o relator.

PRESSÃO. Pressionado pela repercussão do caso, o ministro Moraes divulgou nota afirmando que procurou Galípolo apenas para mitigar os danos das sanções aplicadas a ele em julho pelo presidente americano. Nem ele ou o BC citaram o Banco Master em suas notas.

A revelação das seis ligações focadas no negócio BRB-Master lança suspeitas sobre o real motivo da urgência de Moraes. O banco liquidado possui laços financeiros com a família do ministro. Conforme revelado pelo jornal O Globo, o escritório da mulher de Moraes firmou

Versões O ministro Moraes repetiu a Galípolo os argumentos usados por Vorcaro para defender o banco

um contrato com o Master que prevê o pagamento de R$ 3,6 milhões mensais de 2024 a 2027.

Se cumprido integralmente, o acordo renderia R$ 129 milhões ao escritório da família Moraes. O contrato estava vigente enquanto Moraes abordava Galípolo e foi encerrado na liquidação do banco pelo BC em 18 de novembro.

O cenário político já reage às denúncias. Na segunda-feira, o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) anunciou que está colhendo assinaturas para uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) investigar o contrato do escritório de Viviane Barci e a suposta advocacia administrativa de Moraes. •

 

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