Correio Braziliense
A resistência a Messias reflete a nova
correlação de forças do Senado. Alcolumbre tornou-se fiador informal das
indicações ao Judiciário e não gostou de ver sua autoridade contrariada
Quando a marcação é constante e a distância
diminui, a rota é de colisão, ensinam os velhos navegantes. É mais ou menos o
que está acontecendo entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o
presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), por causa da indicação do
advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no Supremo Tribunal
Federal (STF), em vez do nome do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), que teria amplo apoio dos colegas.
Criou-se uma situação muito complicada, porque Lula não pode recuar — se o fizer, não nomeará mais ninguém que dependa de aprovação do Senado — nem Alcolumbre pode perder a votação, porque isso fragilizaria sua liderança irremediavelmente. Caso o nome de Messias não seja aprovado, o que não acontece desde o governo do presidente Floriano Peixoto, no começo da República, Lula também não indicará Pacheco. Terá de apresentar outro nome, que forme maioria no Senado. É ou não é uma rota de colisão?
Assim, a indicação de Messias para a vaga
deixada pelo ministro Roberto Barroso no STF é o mais sério teste de força para
a base de Lula no Senado. Com a sabatina marcada para o próximo dia 10, pela
pressão convergente de governistas, independentes e oposicionistas, o atual
advogado-geral da União chega à Comissão de Constituição e Justiça em situação
delicada: segundo levantamento do Poder360, tem apenas 10 votos assegurados,
enquanto precisa de 14 para ser aprovado no colegiado. Outros oito senadores
declararam-se contrários, três não responderam e seis preferiram não antecipar
posição — justamente o bloco que decidirá o desfecho. Se o nome for rejeitado,
mesmo assim vai ao plenário.
A disputa é voto a voto, bancada a bancada.
Entre os governistas que já anunciaram apoio, destacam-se no MDB: Alessandro
Vieira (SE), Confúcio Moura (RO), Eduardo Braga (AM), Fernando Dueire (PE),
Fernando Farias (AL), Ivete da Silveira (SC), Jader Barbalho (PA) e Marcelo
Castro (PI). No PT, alinham-se Augusta Brito (CE), Beto Faro (PA), Fabiano
Contarato (ES) e Humberto Costa (PE), além do apoio mais recente, a senadora
Leila Barros (PDT-DF).
No PSB, somam-se Ana Paula Lobato (PDT-MA),
que atua em bloco com o PSB em várias pautas, Chico Rodrigues (RR), Cid Gomes
(CE), Flávio Arns (PR) e Jorge Kajuru (GO). No PSD, apoiam Messias Eliziane
Gama (MA), Angelo Coronel (BA), Irajá (TO), Jussara Lima (PI) e Mara Gabrilli
(SP). No União Brasil, Jayme Campos (MT) já deu aval. E no Republicanos, o
apoio de Mecias de Jesus (RR) é considerado seguro.
Oposição e indefinidos
No bloco contrário, o núcleo duro da direita
e da extrema-direita reúne PL, parte do PP, Podemos, Novo e parte do
Republicanos. Pelo PL, já declararam voto contra: Carlos Portinho (RJ), Flávio
Bolsonaro (RJ), Izalci Lucas (DF), Jaime Bagattoli (RO), Jorge Seif (SC),
Marcos Rogério (RO), Rogério Marinho (RN), Romário (RJ), Magno Malta (ES) e
Wilder Morais (GO). No PP, votam contra: Esperidião Amin (SC) e Luiz Carlos
Heinze (RS), além de Márcio Bittar (PL-AC). No Podemos, Carlos Viana (MG) e
Marcos do Val (ES) já se posicionaram a favor da rejeição. A eles se somam
Cleitinho (Republicanos-MG), Damares Alves (Republicanos-DF), Hamilton Mourão
(Republicanos-RS), Eduardo Girão (Novo-CE), Plínio Valério (PSDB-AM), Styvenson
Valentim (PSDB-RN) e Sergio Moro (União-PR).
Entre os indefinidos — decisivos — figuram
Alan Rick (Republicanos-AC), Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), Daniella Ribeiro
(PP-PB), Dr. Hiran (PP-RR), Dra. Eudócia (PL-AL), Eduardo Gomes (PL-TO),
Giordano (MDB-SP), José Lacerda (PSD-MT), Lucas Barreto (PSD-AP), Oriovisto
Guimarães (PSDB-PR), Sergio Petecão (PSD-AC), Tereza Cristina (PP-MS) e Zenaide
Maia (PSD-RN). Duas ausências notáveis marcam essa lista de incógnitas: Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), que mantém silêncio institucional, e Davi Alcolumbre
(União-AP), cuja posição pública é justamente a variável mais sensível da
crise.
A resistência a Messias reflete a nova
correlação de forças do Senado. Alcolumbre tornou-se fiador informal das
indicações ao Judiciário e não gostou de ver sua autoridade contrariada quando
Lula optou por Messias sem consultar previamente os principais líderes. O
Senado, que busca recuperar protagonismo após anos de hegemonia da Câmara, leu
a indicação como um ato unilateral.
Nesse ambiente, a tensão entre os Poderes
cresceu. Alcolumbre subiu o tom no domingo e acusou setores do Executivo de
tentar criar a “falsa impressão” de que a aprovação dependeria de barganhas com
cargos e emendas, e criticou duramente o fato de o Planalto ter demorado a
enviar a mensagem formal ao Senado. Lula, por sua vez, entrou de sola nas
articulações e tenta reconstruir pontes: nesta segunda-feira, almoçou com o
relator, Weverton Rocha (PDT-MA), e pretende entregar pessoalmente a indicação
a Alcolumbre, num gesto de pacificação.
Nos bastidores, aliados de Messias avaliam
que parte da bancada evangélica pode lhe dar votos silenciosos, mesmo entre
bolsonaristas. A sabatina, marcada para o dia 10, será seguida de votação
secreta — e isso abre espaço para traições de todos os lados. O cálculo mais
otimista do governo fala em 45 a 48 votos; nas contas de Alcolumbre, Messias
teria apenas de 28 a 31. São 81 senadores, a aprovação precisaria de 41, no
mínimo.

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