quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

O Banco Central no ano da eleição. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

BC vai acelerar cortes da Selic no início do ano ou eleição vai complicar calendário?

Taxa básica ficou em 15% ao ano; prossegue dúvida a respeito de baixa em janeiro ou março

A inflação deve chegar a 3,2% ao ano no segundo trimestre de 2027, o "horizonte relevante" do Banco Central, aquele momento em que a política monetária (de juros) estaria fazendo efeito maior. É o número que cuspiu o modelo do BC, que fez a conta considerando também que a Selic segue a trajetória estimada por economistas de "o mercado". Isto é, cairia aos poucos até 12,25% no final de 2026 e a 10,5% no final de 2027.

A projeção está no comunicado em que o BC divulgou a decisão de manter a Selic em 15% ano, nesta quarta. A meta de inflação é 3% ao ano; 3,2% é inflação na meta, na prática.

O BC então vai cortar a Selic já em janeiro de 2026? E as "expectativas desancoradas"? Isto é, inflação esperada por "o mercado" ainda em 3,8% no final de 2026. E as inflações de serviços ainda correndo em torno de 6%? E o comunicado do BC, similar ao da reunião anterior, com diferenças apenas para quem vê mensagens ocultas nas entrelinhas dos hieróglifos?

Na praça do mercado e entre seus porta-vozes, a discussão é sobre a data do corte, janeiro ou março, com chances de meio a meio nos chutes da finança. Para quem precisa saber o que fazer de dinheiro grosso, é relevante. Para o ritmo de crescimento econômico, mesmo no curto prazo, essa diferença de datas é irrelevante.

Mais importante é saber como será possível que o Banco Central leve a Selic pelo menos para 12,25% no fim de 2026, que é a mediana das previsões de "o mercado" recolhidas pelo BC (no Boletim Focus).

Começando pela aritmética e supondo que o BC venha a ser comedido nas oito reuniões do ano que vem, viriam cinco cortes de 0,25 ponto percentual mais três de 0,5 ponto percentual, em ordem desconhecida, para que se passe de 15% ao ano para 12,25% ao ano. Vai dar tempo? Ou vai haver atropelo, com cortes de 0,5 e 0,75 ponto percentual no primeiro semestre do ano que vem?

Em outubro, tem eleição. Setembro, mês de reunião do Copom do BC, é de possível confusão pré-eleitoral: indefinição do favorito, instabilidades financeiras, declarações programáticas finais. Antes disso, haverá cinco decisões sobre a Selic.

Em tese, eleição não tem nada a ver com política monetária, embora algum BC possa, por pudor, evitar altas e baixas no tempo próximo da votação, a fim de evitar acusações de partidarização.

Além do mais, desarranjo financeiro, especificamente alta daninha do dólar, pode afetar decisões de BCs. É razoável especular que a eleição possa causar encrenca na taxa de câmbio, em particular se os programas de governo favoritos forem indigestos quanto à arrumação das contas públicas e quanto a meios de o fazer (mais impostos, por exemplo). Esse possível efeito será muito incerto até agosto, mês de registro de candidaturas a presidente da República, história que anda confusa, como sabe qualquer leitora de jornais.

Não quer dizer necessariamente que vá ocorrer encrenca com preços dos mercados financeiros. Não quer dizer que, ocorrendo pressão no dólar, haverá efeito maior na inflação ou em expectativas (depende do andamento da economia, aqui e alhures, e do tamanho da desvalorização do real).

No entanto, o risco de alta do dólar e outros desarranjos podem fazer com que o BC seja mais cauteloso? Se é o caso, vai deixar cortes da Selic para as reuniões de novembro e dezembro, se quiser cortar mais?

O que vai ser do ritmo da queda da Selic importa mais do que a dúvida de janeiro ou março.

 

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