Folha de S. Paulo
BC vai acelerar cortes da Selic no início do
ano ou eleição vai complicar calendário?
Taxa básica ficou em 15% ao ano; prossegue
dúvida a respeito de baixa em janeiro ou março
A inflação deve chegar a 3,2% ao ano no
segundo trimestre de 2027, o "horizonte relevante" do Banco Central,
aquele momento em que a política monetária (de juros) estaria
fazendo efeito maior. É o número que cuspiu o modelo do BC, que fez a conta
considerando também que a Selic segue
a trajetória estimada por economistas de "o mercado". Isto é, cairia
aos poucos até 12,25% no final de 2026 e a 10,5% no final de 2027.
A projeção está no comunicado em que o BC divulgou a decisão de manter a Selic em 15% ano, nesta quarta. A meta de inflação é 3% ao ano; 3,2% é inflação na meta, na prática.
O BC então vai cortar a Selic já em janeiro
de 2026? E as "expectativas desancoradas"? Isto é, inflação esperada
por "o mercado" ainda em 3,8% no final de 2026. E as inflações de
serviços ainda correndo em torno de 6%? E o comunicado do BC, similar ao da
reunião anterior, com diferenças apenas para quem vê mensagens ocultas nas entrelinhas
dos hieróglifos?
Na praça do mercado e entre seus porta-vozes,
a discussão é sobre a data do corte, janeiro ou março, com chances de meio a
meio nos chutes da finança. Para quem precisa saber o que fazer de dinheiro
grosso, é relevante. Para o ritmo de crescimento econômico, mesmo no curto
prazo, essa diferença de datas é irrelevante.
Mais importante é saber como será possível
que o Banco Central leve a Selic pelo menos para 12,25% no fim de 2026, que
é a mediana das previsões de "o mercado" recolhidas pelo BC (no
Boletim Focus).
Começando pela aritmética e supondo que o BC
venha a ser comedido nas oito reuniões do ano que vem, viriam cinco cortes de
0,25 ponto percentual mais três de 0,5 ponto percentual, em ordem desconhecida,
para que se passe de 15% ao ano para 12,25% ao ano. Vai dar tempo? Ou vai haver
atropelo, com cortes de 0,5 e 0,75 ponto percentual no primeiro semestre do ano
que vem?
Em outubro,
tem eleição. Setembro, mês de reunião do Copom do BC,
é de possível confusão pré-eleitoral: indefinição do favorito, instabilidades
financeiras, declarações programáticas finais. Antes disso, haverá cinco
decisões sobre a Selic.
Em tese, eleição não tem nada a ver com
política monetária, embora algum BC possa, por pudor, evitar altas e baixas no
tempo próximo da votação, a fim de evitar acusações de partidarização.
Além do mais, desarranjo financeiro,
especificamente alta daninha do dólar, pode afetar decisões de BCs. É
razoável especular que a eleição possa causar encrenca na taxa de câmbio,
em particular se os programas de governo favoritos forem indigestos quanto à
arrumação das contas públicas e quanto a meios de o fazer (mais impostos, por
exemplo). Esse possível efeito será muito incerto até agosto, mês de registro
de candidaturas
a presidente da República, história que anda confusa, como sabe
qualquer leitora de jornais.
Não quer dizer necessariamente que vá ocorrer
encrenca com preços dos mercados financeiros. Não quer dizer que, ocorrendo
pressão no dólar, haverá efeito maior na inflação ou em expectativas (depende
do andamento da economia, aqui e alhures, e do tamanho da desvalorização do
real).
No entanto, o risco de alta do dólar e outros
desarranjos podem fazer com que o BC seja mais cauteloso? Se é o caso, vai
deixar cortes da Selic para as reuniões de novembro e dezembro, se quiser
cortar mais?
O que vai ser do ritmo da queda da Selic
importa mais do que a dúvida de janeiro ou março.
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