O Globo
Refém de padrinhos, presidente da Câmara
revela fraqueza política que nem truculência em plenário é capaz de disfarçar
No sábado, Flávio Bolsonaro abriu um leilão
para retirar sua recém-lançada candidatura à Presidência. “Eu tenho preço para
isso”, informou, sem corar. O senador não quis dizer o que ou quanto cobraria
para sair da disputa. Diante da insistência dos repórteres, arriscou um
gracejo: “Quem dá mais?”.
Ontem o deputado Hugo Motta fez seu lance. De surpresa, pautou a votação de um projeto sob medida para reduzir as penas dos golpistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal. O objetivo, claro, é livrar o capitão da cadeia. Pela manobra, sua temporada no xadrez seria abreviada para pouco mais de dois anos.
O presidente da Câmara também ofereceu um
mimo a Eduardo Bolsonaro. Foragido nos EUA e réu por coação no curso do
processo, o Zero Três terá o mandato cassado por um motivo menor: excesso de
faltas. Com isso, escapará da inelegibilidade e ficará livre para retomar a
cadeira no ano que vem.
Motta ainda acenou com um terceiro brinde ao
bolsonarismo: a cassação do deputado Glauber Braga, do PSOL. Ele deve ter a
cabeça entregue num pacote que inclui os extremistas Carla Zambelli e Alexandre
Ramagem, já condenados à perda do mandato pelo Supremo. Glauber entrou na mira
do Conselho de Ética após se destemperar e agredir um provocador que xingou sua
mãe. O episódio virou pretexto para retaliá-lo por sua cruzada contra a farra
das emendas.
O processo contra o psolista começou com ar
de perseguição e termina em tom de espetáculo. Ontem ele se aboletou na cadeira
de presidente em protesto contra a cassação anunciada. Numa reação truculenta,
Motta mandou cortar o sinal da TV Câmara e expulsar os jornalistas do plenário.
Protegidos pela censura à imprensa, seguranças imobilizaram Glauber com
violência, rasgando seu paletó. A deputada Célia Xakriabá, que tentava defender
o aliado, foi arremessada ao chão.
Sem liderança sobre os colegas, Motta tem se
mostrado um presidente débil, tutelado pelos padrinhos Ciro Nogueira e Arthur
Lira. O cambalacho para abortar a candidatura de Flávio Bolsonaro escancarou
mais uma vez sua dependência do Centrão. E expôs uma fragilidade que nem o
surto autoritário de ontem foi capaz de disfarçar.

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