O Globo
Novo titular do Turismo nunca disputou
eleições, mas é herdeiro de uma oligarquia regional
Em Brasília, como no romance de Lampedusa, às
vezes tudo deve mudar para continuar como está.
Em setembro, o União Brasil anunciou o rompimento com o governo e a saída de Celso Sabino do Ministério do Turismo. O paraense se segurou na cadeira por três meses, até ser expulso do partido. Ontem o presidente Lula deu posse ao novo titular da pasta, o paraibano Gustavo Feliciano. Para surpresa de ninguém, ele foi indicado pelo União Brasil.
O novo ministro nunca disputou eleições, mas
é herdeiro de uma oligarquia regional. O pai, dublê de médico e radialista, é
deputado de sete mandatos. A mãe foi duas vezes vice-governadora. Hoje está
pendurada no terceiro escalão no Ministério de Desenvolvimento Social.
Feliciano, o patriarca, chegou à Câmara no
governo Fernando Henrique. Sempre integrou o baixo clero, massa de
parlamentares que habita o fundo do plenário e se dedica a assuntos paroquiais.
Neste ano, o veterano se empenhou na defesa da casta política. Apoiou a PEC da
Blindagem e relatou o projeto que previa aumentar o número de deputados.
Em 2011, o congressista apostou no
corporativismo para tentar se eleger ministro do Tribunal de Contas da União.
Vendeu-se como “líder anônimo” e representante do “novo clero”, que seria
“diferente do baixo clero de antigamente”. “Nós, o novo clero, temos a maioria
aqui”, proclamou. Terminou em quarto lugar, com apenas 33 votos.
Ontem o pai se debulhou em lágrimas ao ouvir
o filho descrevê-lo como seu “maior orgulho”. O pranto foi exibido em close na
transmissão oficial.
O novo ministro não deve o cargo só ao
progenitor. Ele foi apadrinhado pelo deputado Hugo Motta, a quem chamou de
“maior líder” da Paraíba. “O Ministério do Turismo é a sua casa”, derramou-se.
Ele ainda caprichou nos elogios ao novo chefe. “O senhor é muito mais que um
presidente. É um marco na história do Brasil e do mundo”, empolgou-se. Apesar
do clima de bajulação, Lula preferiu não discursar.
O petista sempre usou a pasta do Turismo como
instrumento de barganha. Agora nomeia o terceiro ministro em menos de três
anos. Após definir sua escolha como um “sonho”, Feliciano encerrou a cerimônia
de posse com um grito: “O Brasil é lindo!”. Para políticos como ele, mais
ainda.

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