O Estado de S. Paulo
Davi Alcolumbre entregou a sua parte no
trato. Não fez favor, como se verá. Faltava o governo Lula no acordão, que
costurou bolsonarismo, Centrão, os comandos do Congresso e aquela porção do
Supremo composta por senadores-consultores togados. Não falta mais. O governo
aderiu. Aos 45 do segundo tempo, no Senado. Não sem cálculo. Certamente sem
favor, como se verá.
Aderiu ao acordo pela aprovação do projeto de redução de penas, chamado de PL da Dosimetria. Projeto que tem Jair Bolsonaro como objeto beneficiado. O líder do governo, Jaques Wagner, admitiu. Argumentou que o trem seria aprovado de qualquer maneira, cedo ou tarde. Subentendido que via vantagem em acelerá-lo, em troca da aprovação de pauta fiscal decisiva para o Planalto. Subentendido no subentendimento de que Lula vetaria o texto adiante... Há um teatro. Lula o vetará. O Congresso derrubará o veto e ficará com o ônus, explorado pelos governistas, de “defensor de golpista”.
O presidente da República disse que não sabia
do acordo. Não é raro que não saiba de cousas havidas em sua gestão, geralmente
as incômodas. Faz escola, aliás. Fernando Haddad, ministro da Fazenda desde
janeiro de 2023, só saberia que os Correios estavam falidos em setembro de 2025
– talvez porque a empresa estivesse privatizada no curso de quase três anos, só
agora retomada pela administração petista...
O senador Wagner pode matar a
responsabilidade no peito sozinho. Dizer que negociou o arranjo por conta
própria. Não estava sozinho. Não conseguiria relaxar a tramitação do bicho sem
ajuda. Porque o PT, afora discursos indignados em rede social, deixou rolar. Os
outros senadores petistas – Randolfe Rodrigues e Rogério Carvalho desapareceram
– permitiriam que o troço corresse. O partido não trabalhou regimentalmente –
como poderia e sabe proceder – para travar-adiar a prosperidade do texto na
CCJ.
E o projeto então avançou, com pedido de
vista de apenas quatro horas, admitida também a controversa leitura de que a
emenda de Sergio Moro ao relatório de Esperidião Amin seria de redação – e não
de mérito. Solução-puxadinho tão garantidora de que o projeto não voltará à
Câmara quanto de que provocará um mandado de segurança ao STF.
Pouco depois, o plenário do Senado o aprovou.
Pouquíssimo depois, passaria a votar o projeto – o de sustentação da fantasia
cumpridora de metas de Haddad – que corta isenções fiscais e aumenta impostos,
conta de mais de R$ 20 bilhões; projeto fundamental para que se pudesse fechar,
por mentira crível, a lei orçamentária de 2026, aquela em que se formalizou um
calendário para pagamento de emendas (fundo eleitoral paralelo) antes das
eleições, sonho antigo dos senhores do orçamento secreto; projeto em que se
embutiu a alcolúmbrica reabilitação de emendas parlamentares canceladas, restos
a pagar do período entre 2019 e 2023, requentados R$ 3 bilhões que poderão ser
disparados até dezembro do ano eleitoral. Projeto aprovado.

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