Correio Braziliense
Neste final de 2025, a questão sucessória já
se impõe no horizonte dos atuais líderes políticos brasileiros. Todos tentam
alcançar o melhor lugar para sensibilizar o eleitor
A crise do sistema democrático acontece, normalmente, nos pródromos da eleição presidencial. É o período em que os sinais da tensão originária pela substituição no poder começam a tomar conta do cenário político. Neste final de 2025, a questão sucessória já se impõe no horizonte dos atuais líderes políticos brasileiros. O presidente Lula trabalha com um olho na administração diária e outro travado na eleição de 2026, quando ele tentará o quarto mandato. As rebeliões, os projetos, os discursos e as reviravoltas acontecem em torno da dança da sucessão. Todos tentam alcançar o melhor lugar para sensibilizar o eleitor.
Na Câmara dos Deputados, foi votado projeto
de lei que reduz penas daqueles que cometeram crimes contra o poder público.
Esse projeto visa, na realidade, melhorar a vida de Jair Bolsonaro, condenado a
mais de 27 anos de prisão. Seus filhos fazem qualquer negócio para reduzir a
ansiedade do pai. São amadores, que estão aprendendo a fazer política nos
tempos atuais. Será muito difícil reproduzir aquele ambiente em que Jair, de
repente, tornou-se um presidenciável em condições de ganhar a eleição. Eduardo
transferiu-se para os Estados Unidos e conseguiu, durante algum tempo,
influenciar nas decisões de Donald Trump contra o Brasil. Ele cometeu crime de
lesa-pátria. Ainda não foi julgado pela Câmara dos Deputados, onde não aparece
há muito tempo. Deve perder o mandato por excesso de faltas. Atrapalhou
bastante a vida no Brasil. Mas é difícil brigar contra o poder constituído.
Bastou uma conversa entre Trump e Lula para que o poder maior prevalecesse.
Outro filho, Flávio, senador, declarou-se
candidato à Presidência da República. Ele esqueceu, ou revelou não conhecer, a
regra de ouro de qualquer postulante: ninguém pode ser candidato de si mesmo. A
candidatura, para ter força e consequência, deve brotar do desejo de grupo ou
segmento expressivo da sociedade. Flávio proclamou, em primeiro lugar, que
tinha preço. Depois disse que iria até o final. Mas é atitude precária. Fugaz.
Passageira. Não resistirá ao tempo nos próximos meses. O pessoal que coordena a
ação anti-PT, que é forte, saberá se livrar dos oportunistas para poder indicar
um candidato real, com possibilidade de vitória. Ele precisará aglutinar forças
e movimentar a significativa massa de eleitores que pretende um governo federal
moderno, com privatização de empresas estatais, redução do tamanho do Estado,
menos impostos e recuperação do crescimento econômico. Enfim, tudo o que o
governo Lula nega.
Os desejos fugazes de notoriedade devem ser
traduzidos em vantagens específicas pelo pessoal do dinheiro que fica na Faria
Lima. Ali, o jogo é profissional. Os donos do dinheiro querem a candidatura de
Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, 50 anos, que hesita em
assumir a responsabilidade. Revela ter noção dos perigos dessa aventura. Ele,
carioca, pode perder tudo numa jogada infeliz. Melhor e mais seguro postular o
governo do estado, apoiar um candidato à Presidência da República e esperar.
Fazer o tempo trabalhar a seu favor. O contrário é ser um candidato tutelado
por Jair Bolsonaro & filhos, situação que tumultua qualquer candidatura e
eventual posterior governo. A reeleição dele ao governo de São Paulo é mais
segura e mais tranquila. Ele não depende de apoio de ninguém. Já fez seu nome.
Na sua ausência, a escolha dos donos do dinheiro se transfere, naturalmente,
para o governador do Paraná, o jovem Carlos Massa, ou Ratinho Junior.
As crises, as soluções de emergência e os
faniquitos acontecem, como o do deputado Glauber Braga, que assumiu à força a
cadeira do presidente da Câmara e foi retirado aos pescoções pela Polícia
Legislativa. Aliás, na operação apareceu uma orientação há muito esquecida: em
caso de briga entre parlamentares, a primeira ação da segurança é atacar a
imprensa. É uma diretriz antiga, que não foi colocada em vigor antes porque não
foi necessário. As excelências trocaram socos e palavrões, mas o sinal da TV
Câmara foi cortado e os jornalistas foram convidados, com ênfase, a deixar o
plenário.
O projeto de lei que modifica a
dosimetria das penas e beneficia Jair Bolsonaro ainda vai passar pela CCJ do
Senado, pelo plenário daquela casa e poderá ser vetado pelo presidente Lula.
Tudo o que está acontecendo na política brasileira se resume na liturgia que
precede a disputa pelo poder. Cada um executa sua dança como melhor conseguir.
Quem não entendeu o momento foi Carla Zambelli. Ela achou que poderia fugir nas
garras da lei. Deputados tentaram salvá-la. Mas o ministro Alexandre de Moraes,
rapidamente, declarou a perda de seu mandato. Ela está presa numa penitenciária
em Roma, Itália. Deve pagar o resto de sua pena em terras brasileiras. Aprendeu
que fora do poder não há salvação. E que os erros em política costumam punir
severamente seus autores.

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