terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Onda da direita terá mais dificuldades no Brasil. Por Christopher Garman

Valor Econômico

O presidente Lula entra no pleito com índices de aprovação mais altos que os de seus pares de esquerda na região

A América Latina está claramente passando por uma transformação política: candidatos da direita venceram nos últimos anos e estão bem posicionados para os próximos pleitos. A tendência começou com a eleição de Javier Milei na Argentina em 2023 e seguiu com as vitórias de conservadores na Bolívia, no Equador, no Chile e em Honduras em 2025. Em 2026, candidatos da direita têm boas chances de vencer na Colômbia, na Costa Rica e no Peru. Após uma onda eleitoral que elegeu várias lideranças de esquerda há cerca de quatro anos, o mapa político da região está claramente em transformação.

No Brasil, a direita certamente entrará em 2026 competitiva — em parte, pelas mesmas razões que têm rendido vitórias aos conservadores. Mas a situação do Brasil difere da de seus vizinhos por uma simples razão: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entra no pleito com índices de aprovação mais altos que os de seus pares de esquerda na região — fazendo dele um leve favorito e abrindo a possibilidade de que o Brasil contrarie essa tendência regional.

A onda da direita na região apoia-se sobre duas bases. A primeira é a mudança da principal preocupação dos eleitores. Há quatro anos, colombianos, chilenos, peruanos e brasileiros lidavam com as consequências sociais da pandemia e o surto inflacionário que se seguiu, e se preocupavam mais com o custo de vida e com a desigualdade. Neste cenário, eleitores do Chile, da Colômbia e do Brasil elegeram candidatos de esquerda para substituir presidentes de direita. Governos de esquerda também sofreram nessas condições, como na Argentina, onde as mazelas econômicas elegeram Milei em 2023. Mas, em geral, a região tinha mais governantes da direita, e a esquerda estava bem posicionada para prevalecer com um desejo de mudança.

Nesse ciclo eleitoral, a grande preocupação é a segurança pública, como mostram pesquisas de opinião realizadas no Chile, na Colômbia, no Peru, no Brasil, no México, no Paraguai e no Equador. Muito advém da crescente atuação do crime organizado. As rotas de tráfico de cocaína se deslocaram para países como Equador, Chile e Costa Rica, ao mesmo tempo em que o crime organizado tem se sofisticado e migrado cada vez mais suas atividades para os setores de transporte, de combustíveis, agrícola e de bebidas e destilados. No México e na América Central, o alvo é também o tráfico de migrantes para os EUA. Nesse contexto, candidatos com maior credibilidade no combate ao crime têm vantagem eleitoral.

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, é certamente o caso mais emblemático. Desde que foi eleito em 2018, o índice de homicídios do país caiu entre 96% e 98%, com a implementação de políticas públicas muito duras contra o crime organizado. Embora Bukele seja criticado por abusos de direitos humanos, a redução da criminalidade o tornou uma das lideranças mais populares na região. Seu êxito virou referência para candidatos da direita na região e serve de norte para governantes que buscam ganhos políticos por meio de métodos dramáticos de combate ao crime. Já no Brasil, a falta de credibilidade no combate ao crime organizado e na segurança pública é certamente o calcanhar de Aquiles do governo Lula, que pode pesar contra suas chances de reeleição.

O segundo pilar das recentes vitórias de candidatos da direita na América Latina, no entanto, não encontra eco no Brasil: governos de esquerda mal avaliados. Na Argentina, Alberto Fernández gozava de uma aprovação popular de apenas 23%. No Chile, Gabriel Boric era aprovado por apenas 31% dos eleitores antes da eleição de José Antonio Kast no último dia 14. E, na Colômbia, onde a direita é favorita a vencer as eleições de 2026, Gustavo Petro tem aprovação entre 34% e 39%. O ambiente hostil para governantes que, há quatro anos, ajudou a eleger candidatos de esquerda, agora está ajudando a eleger candidatos da direita.

Lula, no entanto, vive uma situação distinta, com aprovação de cerca de 46% (variando entre 42% e 49%, dependendo da pesquisa). Segundo um conjunto de dados de mais de 500 eleições dos últimos quarenta anos coletado pela IPSOS Public Affairs, candidatos à reeleição com esse patamar de apoio popular tendem a ganhar em mais de 70% das vezes.

É verdade que fatores econômicos são menos decisivos que no passado. Mas esse patamar de apoio é resultado de um aumento de quase 19% na renda real nos últimos três anos e de um desemprego historicamente baixo de 6%. Essa aprovação pode subir ainda mais um pouco em 2026, com a isenção do Imposto de Renda para a classe média, a ampliação do vale-gás e o lançamento de linhas de crédito para reforma habitacional, colocando Lula como um leve favorito.

Mas a eleição no Brasil pode, de fato, testar se candidatos da direita têm prevalecido em virtude da má avaliação de governantes da esquerda por favores econômicos — ou se é a preocupação com segurança e o aumento do conservadorismo dos eleitores que estão levando a esses resultados. A resposta deve estar no meio do caminho, mas a eleição brasileira será um teste importante para avaliar qual fator é mais decisivo.

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