Folha de S. Paulo
Mudança de expectativas entre deputados de
centro afeta alianças e estratégias eleitorais
Deputados de esquerda (lulistas ou não) e de
direita (bolsonaristas ou não) divergem em praticamente tudo
Foi divulgada na semana passada pesquisa
Genial/Quaest com deputados federais. A pesquisa questiona os legisladores
sobre temas diversos, e uma constante é como deputados de esquerda (lulistas ou
não) e deputados de direita (bolsonaristas ou não) divergem em praticamente
todos os temas: da avaliação do STF à
escala 6x1, da taxação de fintechs à indicação de favoritismo na eleição de
2026 e à resposta ao tarifaço de Trump.
Alguns pontos se destacam na pesquisa, seja pelas raras convergências entre esquerda e direita, seja pela mudança de ventos entre os deputados de centro.
Um dos dados mais interessantes da pesquisa
aparece justamente entre os deputados que se declaram independentes em relação
ao governo. Quando questionados sobre quem é o favorito para a eleição de 2026,
observa-se uma queda vertiginosa dos que apostam na oposição. Em junho deste
ano, 62% diziam que o candidato de oposição era o favorito; agora são apenas
30%. Entre os deputados que se identificam como de centro, a queda é menos
acentuada, mas o padrão é o mesmo: apenas 33% apostam na oposição, frente 51%
em junho.
A falta de confiança dos deputados de centro
na vitória de um candidato de oposição ao governo Lula vai dificultar a
formação de alianças para as eleições de 2026. Se o termômetro no Congresso
indicar maiores chances para Lula, esses partidos terão incentivos para se
manterem neutros na disputa presidencial, evitando derrubar pontes que
facilitem a adesão ao governo em 2027.
Para Lula, caso reeleito, significa a
manutenção do equilíbrio atual. Para a oposição, significa maior dificuldade
durante a campanha e maior pressão por apresentar candidaturas próprias do PL e
da base bolsonarista também nos estados. Aumentam os custos eleitorais e as
rivalidades com o centrão.
No campo das convergências, mais de 90% dos
deputados afirmam que "Pensando em atingir a meta fiscal, o governo
deveria reduzir gastos com supersalários do setor público". Se há
concordância, por que não se aprova legislação nessa seara? Como já apontado por
diversos estudos, os supersalários no serviço público brasileiro se concentram
no Judiciário e em carreiras do Executivo que atrelam seus salários ao
Judiciário. O corporativismo não é um atributo exclusivo do Congresso, é tão ou
mais presente no STF e no Judiciário como um todo. A diferença é que juízes
estão blindados das pressões sociais.
Outro ponto de convergência aparece na mesma
bateria de perguntas. Cerca de 90% dos parlamentares afirmaram que:
"Pensando em atingir a meta fiscal, o governo deveria aumentar a taxação
das empresas de apostas". Proposta sobre o tema foi aprovada neste início
de dezembro no Senado e
precisa ser apreciada pela Câmara. Resta saber se as preferências declaradas na
pesquisa se traduzirão em votos ou se os interesses de um pequeno grupo de
deputados com fortes vínculos com empresários de bets prevalecerão.
Também há concordância entre esquerda e
direita, governo e oposição, quanto às propostas de endurecimento penal na área
da segurança pública.
As concordâncias encerram-se aí. O contraste
entre consensos pontuais e expectativas eleitorais ajuda a entender por que a
coordenação política no Congresso segue sendo um desafio.

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