Folha de S. Paulo
Acordo na Câmara tem a ver com emendas e
campanha presidencial
Jogados aos leões, Glauber Braga e Carla
Zambelli salvaram-se
Os embalos na Câmara são
um primor de organização e não acontecem ao acaso ou de surpresa, como se quer
dar a entender. Deles fica de fora a plebe ignara, pobres mortais que, por não
terem pulseirinha vip, jamais poderiam se misturar com a nata em ambiente tão
fino e conservador.
A coisa é preparada nos mínimos detalhes para se precipitar no momento oportuno, a tradição obrigando que o clímax seja atingido na alta madrugada. A sessão que aprovou o PL da Dosimetria, que reduz a pena de Bolsonaro e outros golpistas, terminou às quatro da manhã de quarta (10), um mês após a condenação do ex-presidente no STF.
Planejado com meses de antecedência, fruto da
impostura ideológica e do conceito de "pacificação", o cambalache
estava na agulha. O anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência,
que prejudica o governador de São Paulo como nome preferido para derrotar Lula
em 2026, e a demora na liberação de emendas —sempre, e sob qualquer pretexto, a
farra das emendas deve continuar— dispararam a bala da quase anistia.
Um tiro arriscado. Segundo o Datafolha,
a maioria dos brasileiros considera a condenação de Bolsonaro justa. A
possibilidade, no entanto, de o ex-presidente permanecer em regime fechado, ou
em prisão domiciliar, por três anos, e não 27, enfraquece o efeito da
vitimização e da perseguição nos debates eleitorais.
A costura da mutreta envolveu a antiga
direita, nas figuras quase sepultadas de Michel Temer e Aécio Neves, os
caciques do centrão Ciro Nogueira e Arthur Lira, a mais hidrófoba extrema
direita representada pelo Partido Liberal e até alguns ministros do Supremo.
Por fim, de dentro de sua cela na
Superintendência da Polícia Federal, o capitão deu OK. A expressão de
xingamento nas redes —"bandido de estimação"— está perto de tornar-se
oficial, só dependendo do Senado.
Um detalhe da tramoia deu errado. O gran
finale previa duas cabeças rolando espetacularmente, as de Glauber Braga e Carla Zambelli.
Os dois salvaram-se, no calor da orgia.
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