segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Retrospectiva política 2025. Por Lara Mesquita

Folha de S. Paulo

Chegamos ao final do ano em um cenário ambíguo após reviravoltas

Verão será de intensas articulações políticas para a definição das candidaturas nas eleições de 2026

O ano de 2025 foi de reviravoltas políticas no Brasil. Chegou-se a decretar o fim do governo Lula nos primeiros meses; com o tarifaço e a queda no custo dos alimentos, a popularidade do presidente voltou a crescer em meados do ano. Chegamos ao final do ano em um cenário mais ambíguo.

Por um lado, o anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro e a provável retirada do governador de São Paulo da corrida presidencial em 2026 foram vistos como um bom presságio para Lula. Por outro, a aprovação do Orçamento de 2026, com a obrigação de execução de grande parte das emendas no primeiro semestre, e a confirmação de que as derrubadas de vetos presidenciais atingiram patamares históricos pintam um cenário de maior dificuldade para o presidente no último ano de governo.

O ano começou sem a aprovação da Lei Orçamentária Anual, limitando os gastos do Executivo e com muita atenção dedicada às emendas parlamentares do orçamento. A ausência das cúpulas do Congresso e do Judiciário no ato de 8 de Janeiro foi simbólica. Em fevereiro, Hugo Motta foi eleito presidente da Câmara com apoio do governo e da oposição, mesmo sem ser a primeira opção de Arthur Lira. Na mesma época, a aprovação de Lula atingia seu pior patamar.

Março foi marcado pela aprovação tardia do orçamento, por mudanças na articulação política do governo e pela licença de Eduardo Bolsonaro para atuar nos Estados Unidos. Em abril, a recusa de Pedro Lucas (União Brasil) em assumir um ministério pôs em dúvida o poder de atração do Executivo, enquanto denúncias no INSS derrubaram sua cúpula.

Em maio, foi publicado o decreto do Executivo que elevou a alíquota do IOF, derrubado pela Câmara em junho, quando também foi aprovado o aumento do número de deputados. Em julho, Bolsonaro passou a usar tornozeleira eletrônica, e o STF reverteu decisão da Câmara sobre o decreto do IOF. No mesmo período, Lula recuperou popularidade e indicou que vetaria o aumento no número de deputados.

O segundo semestre foi dominado pela escalada judicial contra Jair Bolsonaro, os generais e outros cúmplices da tentativa de golpe, culminando em condenações no STF e, mais adiante, na prisão domiciliar do ex-presidente e no retorno ao regime fechado. Ao mesmo tempo, o Congresso avançou em pautas sensíveis, como a PEC da Blindagem e mudanças no licenciamento ambiental, enquanto operações policiais de grande impacto recolocaram a segurança pública no centro do debate.

Lula também teve vitórias, como a aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000 mensais e o sucesso na negociação com Trump para a reversão das tarifas impostas ao país.

O ano se encerra com novos desgastes institucionais no STF, sobretudo em torno do Banco Master, e com a aprovação de um orçamento que reduz ainda mais o espaço para investimentos discricionários do Executivo. O anúncio de Flávio como herdeiro político do pai tensiona a relação da família Bolsonaro com o centrão e complica os planos do governador de São Paulo.

O ano termina marcando a fragilidade do presidente da Câmara, a covardia dos golpistas que tentam fugir do país e reservando um verão de intensas articulações políticas para a definição das candidaturas nacionais e estaduais, tanto do governo quanto da oposição.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.