O Globo
O que aconteceria se os fatos de agora
levassem à desmoralização da Justiça, principalmente do Supremo?
Essa história do Banco Master e do STF
atravessará o ano. Posso deixar de lado os detalhes e me concentrar agora num
tema mais abstrato. Olhando para trás, constato que a Operação Lava-Jato
desmoralizou a política e contribuiu para a ascensão de uma proposta radical de
direita. O que aconteceria se os fatos de agora levassem à desmoralização da
Justiça, principalmente do Supremo?
Imagino que estejam preocupados com isso alguns dos milhares que pedem um código de conduta para o STF. A partir de um conjunto de regras claras ficaria mais difícil transgredir e estaria construída, mesmo independentemente delas, uma forte blindagem para um organismo que dá a última palavra em todas as nossas questões.
É uma boa ideia, que une o atual presidente
do STF, juristas e uma esclarecida parcela da opinião pública. No entanto ela
seria mais eficaz se criasse um órgão independente para fiscalizar e punir as
transgressões ao Código de Conduta. Mais eficaz ainda seria recuperar o trecho
do artigo 144 do Código de Processo Civil, derrubado pelo próprio Supremo, que
dizia que o juiz ficaria impedido de julgar um processo quando a parte for
cliente de escritório de advocacia em que atua o cônjuge, companheiro ou
parente do magistrado — mesmo que esse advogado não esteja no processo
principal. A julgar pela história recente, aí está o grande problema, bem maior
que viagens ou festas no exterior bancadas por empresas interessadas em
processos que correm na Corte.
O famoso inquérito das fake news, que
produziu uma investigação interminável, nasceu do problema de parentes. A
Receita investigava as contas da mulher de Gilmar Mendes e as da mulher de Dias
Toffoli. Vazaram notícias sobre o tema. Toffoli, que era o presidente na época,
designou Moraes para conduzir o inquérito. Lembro que na época censuraram a
revista Crusoé e escrevi um artigo protestando.
O problema agora se repete não mais apenas
com Toffoli, que perdeu completamente a noção, perdoando dívidas bilionárias e
viajando de graça para toda parte, até com advogados do Banco Master para
assistir à final da Libertadores. Agora o foco é Alexandre de Moraes, cuja
mulher tinha um contrato ao redor de R$ 130 milhões com o Master. Ele é acusado
de tentar intervir junto ao Banco Central para evitar a liquidação. Se, alguns
anos atrás, Moraes assumiu um inquérito para salvar a mulher de Gilmar e a de
Toffoli da fiscalização da Receita, agora é Toffoli que assume o inquérito do
Banco Master e, certamente, fará muitas acrobacias, pois perdeu completamente o
sentido do razoável.
Os políticos se perderam no Brasil não apenas
porque precisavam de dinheiro para suas campanhas. Isso foi apenas o ponto de
partida. Eles se perderam por causa da ganância. Curiosamente, o jornal alemão
Handelsblatt afirma, numa reportagem sobre o Supremo brasileiro, que os juízes
se perderam por causa da ganância. É difícil acreditar na tese de que a
ganância arruinou a política e a Justiça em nosso país. Isso significaria que
nossa história é medíocre, previsível e vulgar. Seria devastador para todos nós
que passamos parte do tempo tentando entendê-la e analisá-la.
As viradas de ano podem trazer surpresas e
boas notícias. No campo político, a esteira de escândalos fechou
melancolicamente 2025.

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