terça-feira, 14 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Democracia exige vigília permanente

Correio Braziliense

Não se pode esmorecer na defesa da democracia. E mais: o combate efetivo ao autoritarismo passa obrigatoriamente pelos campos digitais

Considerada um dos marcos da redemocratização do Brasil, a eleição indireta de Tancredo Neves para a Presidência da República completa 40 anos em um momento em que o apelo feito por ele pela manutenção da vigilância democrática faz todo o sentido. "Não vamos nos dispersar. Continuemos reunidos, como nas praças públicas, com a mesma emoção, a mesma dignidade e a mesma decisão", convocou o político mineiro, em 15 de janeiro de 1985, após receber 480 votos do Colégio Eleitoral, contra os 180 concedidos a Paulo Maluf. 

Nada tão atual. A revelação, por parte da Polícia Federal (PF), de uma meticulosa trama golpista costurada durante o governo Jair Bolsonaro para mantê-lo no poder é a prova de que não se pode esmorecer na defesa da democracia. E mais: o combate efetivo ao autoritarismo passa obrigatoriamente pelos campos digitais.

A investigação da PF mostra que, desde o primeiro ano do governo, existia um núcleo dedicado a produzir, divulgar e amplificar notícias que construíssem um ambiente que favorecesse a ruptura democrática. E as redes sociais foram o principal canal de escoamento dessa estratégia. 

Guerra à vista - Merval Pereira

O Globo

A partir do momento em que o Brasil tiver uma regulamentação, como a União Europeia já tem, a Meta terá de lhe obedecer

A discussão do artigo 19 do Marco Civil da Internet no Supremo Tribunal Federal (STF) aborda a responsabilidade das redes sociais sobre as notícias que divulgam e, entre os especialistas, a conhecida como “notice and take down” parece ser a melhor forma de lidar com a questão. Nela, a rede passa a ser responsável perante a Justiça no momento em que recebe uma notificação sobre um post e decide se o tira do ar ou se o mantém por considerar que a notificação não se justifica. Isso nada tem de censura, e sim de responsabilização.

Qualquer empresa tem de obedecer à legislação existente no país onde opera. Como o Brasil tem uma legislação superada com a evolução das plataformas digitais, o Supremo Tribunal Federal (STF) acaba definindo as ações nesse sentido. O ideal seria que o Congresso legislasse sobre isso, mas, como a maioria lá é contra a regulamentação, acha que é preciso uma liberdade total, quem vai ter de decidir é o STF. A partir do momento em que o Brasil tiver uma regulamentação, como a União Europeia já tem, a Meta terá de lhe obedecer; e se a nossa lei obrigar uma moderação, a Meta terá de fazê-la, e essa discussão acaba.

Quatro livros de economia que ainda ditam o curso da humanidade - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Reflexão sobre esses livros, feita por britânico Seymour-Smith no fim do século passado, parece atual por causa de sua capacidade de influenciar a economia e proporcionar bem-estar às pessoas

Quais livros de economia mais influenciaram a humanidade? Se a pergunta for feita a economistas, certamente teremos uma extensa lista, com obras à esquerda ou à direita, ortodoxas ou heterodoxas, marxistas ou capitalistas, conservadoras ou progressistas.

Martin Seymour-Smith, intelectual britânico que morreu em 1998, aos 70 anos, deixou um livro audacioso em que, indiretamente, responde a essa pergunta.

A obra de Seymour-Smith - “Os 100 Livros que mais Influenciaram a Humanidade”, publicada originalmente em 1998 e no Brasil em 2002 - é reconhecida pela coragem intelectual do autor para escolher e analisar os livros que mais alteraram o curso da civilização. Com rara habilidade e vasto conhecimento, Seymour-Smith discorre sobre cada um dos cem que considera mais importantes, desde a Bíblia, o Corão, A Ilíada e a Odisseia, a Teoria da Relatividade, “O Príncipe” etc.

Na questão fiscal, vale o que está escrito – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Lula não precisou adotar uma dura política recessiva no primeiro ano de governo, porém se comprometeu com limites de gastos, arrecadação e endividamento do arcabouço fiscal

No mundo dos negócios, como nas relações pessoais, credibilidade é fundamental. Esse é o xis da questão quando se compara os indicadores positivos da economia, como o crescimento do PIB, a queda do desemprego, os aumentos da renda média e do salário real, com o ambiente de incerteza que tomou conta do mercado. O governo está diante de uma sinuca de bico: cortar os gastos públicos ou ver a inflação comer a renda de milhões de brasileiros, principalmente dos assalariados que saíram da faixa de pobreza e correm o risco de voltar.

Lula foi eleito com uma narrativa de campanha contra o teto de gastos, que foi substituído por novas regras e diretrizes para as finanças públicas. De comum acordo com o Congresso, deu o pulo do gato e evitou um colapso fiscal no final do mandato de Bolsonaro. Com isso, não precisou adotar uma dura política recessiva no primeiro ano de governo. Entretanto, se comprometeu com os limites e as prioridades de gastos, arrecadação e endividamento nos anos subsequentes do arcabouço.

O que deseja Zuck – Pedro Doria

O Globo

Ele está oferecendo a Trump suas plataformas para distrair o público americano

Faz uma semana que o principal acionista da MetaMark Zuckerberg, anunciou ao mundo um cavalo de pau na direção da companhia. Cai o uso de empresas de checagem de fatos, entra um sistema em que a comunidade avalia o que é confiável ou não. A moderação diminuirá, e o espaço para debates sobre política aumentará. Nesse barata-voa geral, quem leu a cobertura da imprensa brasileira possivelmente não compreendeu alguns pontos essenciais. O primeiro, e mais importante, é que estas mudanças valem em sua maioria para os Estados Unidos. Os contratos de checagem, aqui no Brasil, na América Latina, na Europa e no além-mar geral seguem de pé. Este não é um detalhe. Na verdade, para entender o que se passa na cabeça de Zuckerberg, essa é uma das peças essenciais.

Tremenda falta de opções - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Nomes não faltam para a eleição presidencial de 2026, mas candidato para valer não tem

Os dois nomes mais naturais para uma eventual disputa presidencial sem Lula e Bolsonaro chegaram a 2025 devagar, quase parando. Fernando Haddad não sai do Planalto, de reunião em reunião para enfrentar desconfiança, crise fiscal, inflação, juros, dólar. Tarcísio de Freitas é atingido no peito todo dia pelo choro de mães e pais e pelos estilhaços de tiros mortais da ex-polícia mais eficiente do País.

Com dúvidas sobre a candidatura Lula, Bolsonaro inelegível, Haddad mais ocupado com o presente do que preocupado com o futuro e Tarcísio alvo das balas perdidas em São Paulo, 2026 se torna totalmente imprevisível, oscilando entre o ridículo e o aterrorizante.

Pela Paraná Pesquisa, quem lidera as pesquisas hoje é Ciro Gomes, atualmente no PDT, depois de uma fila de partidos, disputar três eleições presidenciais e brigar com todos e qualquer um que tenha passado pela sua frente, da esquerda à direita, até a família e o irmão Cid, seu parceiro político de vida toda. Só isso escancara a tremenda falta de opções.

Vamos discutir o Brasil - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

É quase inexistente hoje o pensamento sobre o Brasil como país, e não como palco de disputas ideológicas e partidárias

“Tinha razão aquele velho brasileiro que, escandalizado com a futilidade dos nossos debates políticos, lembrava a conveniência de, ao lado do Congresso Nacional, organizar-se uma comissão permanente de brasileiros de boa vontade, sem outra preocupação que a prosperidade e a grandeza da Pátria, para o fim de estudar e resolver os grandes problemas políticos de nossa terra. O Congresso ficaria para as parolagens inúteis, para os bate-bocas apaixonados, para as exibições teatrais (...).” Nada mais atual do que o comentário publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 23 de novembro de 1935.

Nos dias que correm, a divisão e a polarização da sociedade brasileira dificultam e influenciam a discussão e o debate sobre os múltiplos aspectos das questões nacionais. O foco de debate reproduzido pela mídia tradicional e pela mídia social reflete aspectos importantes da economia, da política, das questões sociais, das questões identitárias, as reformas estruturais, a relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário, as questões ambientais e de mudança de clima, a violência e a corrupção. São raramente analisados os impactos relacionados com o cenário global (guerras, nacionalismo, protecionismo, geoeconomia e uso da força, inovação, inteligência artificial, entre outras) sobre a economia e a política nacionais.

Obstáculos estruturais à mobilidade social - Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

Além de proteger os vulneráveis, políticas públicas e empresariais devem voltar-se para a preparação adequada dos trabalhadores

Há um contraste entre os dados da evolução da economia e o sentimento de boa parte da população. Com vários recordes históricos, o mercado de trabalho teve desempenho particularmente positivo no ano passado. A economia deve ter crescido 3,5%, de acordo com a última projeção do Banco Central. Nesse cenário, um certo pessimismo da população aferido por algumas pesquisas parece inexplicável.

Para entender essa aparente contradição, é preciso observar outras faces da economia. A inflação estourou o limite das metas fixadas para o ano passado e preocupa as famílias. Incertezas em relação à taxa de câmbio, à política fiscal e à capacidade do governo de enfrentar um quadro internacional provavelmente mais conturbado geram desconfianças entre agentes econômicos.

Lula e PT divergem quanto a Maduro - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

É bom que o presidente esteja se afastando de ditadores de esquerda que antes apoiava

Até alguns mandatos atrás, presidentes brasileiros podiam fazer o que quisessem no campo das relações internacionais sem se preocupar com a repercussão doméstica de suas ações. O brasileiro médio não dava a mínima para a política internacional. O jogo mudou.

A polarização transformou as relações externas em mais um campo de batalha das guerras culturais. Hoje dá para inferir o posicionamento político de um cidadão –e até em quem ele vai votar na próxima eleição presidencial-- perguntando-lhe só o que ele acha da Venezuela e das guerras na Ucrânia e em Gaza.

Verdades inconvenientes ao PT – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Revisão histórica na galeria dos presidentes contaria o que Lula não quer ouvir

Não vai acontecer. A história na galeria dos presidentes da República no Palácio do Planalto não será reescrita como propôs Lula no afã de se comunicar mais e sobre qualquer tema.

Seria a contratação de um caso complicado no âmbito das notícias falsas que o governo se dispõe a combater com vigor em decorrência da nova orientação da Meta sobre moderação de postagens em suas plataformas.

Isso o novo guardião da comunicação oficial, Sidônio Palmeira, não poderia permitir, sob pena de queimar na largada a eficácia de suas funções.

O receio do Pix e fake news? - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Quando o alvo é Lula, propor a supressão de parte do discurso da oposição é quase sinônimo de lutar pela democracia

Ainda é difícil quantificar o dano que a polêmica do Pix causará à popularidade do governo Lula. A repercussão negativa tomou o Brasil. Nas redes, nos táxis, nas Redações; onde você vai, encontra alguém preocupado com o Pix; muitos já preferem negociar em dinheiro.

Defensores do governo atribuem esse receio às fake news. Se ao menos as redes —e, imagino, o WhatsApp— fossem severamente regulamentados, a mentira de que o governo criou uma taxa do Pix teria morrido no berço. As plataformas seriam obrigadas a deletar os posts com erros sobre a instrução da Receita.

O apagamento da memória - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Governador do Rio repete Milei como farsa ao desprezar arquivos da ditadura

pós-verdade está aí, quase palpável. Mas é bom dar uma força. Fechar institutos de memória, demitir pesquisadores, extraviar, deixar apodrecer e destruir documentos é método eficaz para engendrar uma nova versão dos fatos, mesmo que estes, em sua maioria, pareçam falsos e absurdos. No galpão das narrativas há sempre quem os compre e espalhe. Afinal, Hitler era comunista, garante Alice Weidel, líder do partido de extrema direita alemão apoiado por Elon Musk.