sábado, 29 de novembro de 2008

PT acusa Lula de ter escolhido Serra!

Nhenhenhém :: Jorge Bastos Moreno
DEU EM O GLOBO

Gravei, sem autorização da Justiça, naturalmente, uma reunião informal do comando do PT sobre a sucessão de Lula.

Se a transcrição abaixo não for verdadeira, que me desmintam o Berzoini, o Gilberto Carvalho, o Tarso, o Dulci, o Marco Aurélio e o Zé Eduardo. Aí eu mostro a fita inteira.

Petista 1: - Bem, definidos os nomes dos dois candidatos, temos que começar a montar nossa estratégia de ação.

Petista 2: - Mas quem definiu?

Petista 3: - O presidente, uai!

Petista 4: - É verdade, tchê! Antes, só o dr. Getulio fez isso.

Petista 5: - E nós vamos aceitar a Dilma pacificamente?

Petista 4: - E o PT, depois de tudo o que fez, pode exigir?

Petista 6: - O Lula nos tirou da lama e a Dilma é limpa.

Petista 1: - Teremos uma grande dificuldade. É mais do que coerente que o Serra continue combatendo a política econômica. Ele combate os juros desde o governo FH.

Petista 5: - E a Dilma, mesmo que não queira, vai ser obrigada a defender Meirelles.

Petista 4: - Barbaridade, tchê! Então a Dilma ficará à direita do Serra. Ou seja, o PSDB será nós e o PT serão eles?

Petista 5 : - A culpa é do Lula. Quem mandou indicar Serra?

Petista 4: - E tem no país alguém mais Lula do que Serra?

As águas vão rolar


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


O desfecho da participação do senador José Sarney no veto à candidatura do petista Tião Viana para a presidência do Senado seguiu o roteiro previsto na semana passada pela cúpula do PMDB, que só via um jeito de resolver a questão: Sarney recusar ser candidato em qualquer hipótese e atuar como coordenador das adesões a Viana.

Em tese, isso aconteceu. Já no início da semana, o senador Sarney assegurou à direção do partido que não está no páreo e, ato contínuo, foi a Tião Viana emprestar o seu apoio e aconselhá-lo a levar em frente seu projeto.

Se a motivação foi ou não uma conversa franca com o presidente Luiz Inácio da Silva, não importa.

Fato é que tudo ocorreu conforme haviam antecipado os caciques que viam no encontro com Lula a única possibilidade de Sarney expor as verdadeiras razões do desagrado, falar francamente do propósito do PMDB em assumir o controle total do Congresso pondo em risco o equilíbrio da base governista e definir se pretende ou não assumir o cargo.

Na hipótese de negativa, seria convidado por Lula a coordenar a campanha de Tião Viana. O noticiário registrou que o grande fiador da mudança do cenário foi o presidente do PMDB, Michel Temer.

Pouco provável, uma vez que é parte, candidato a presidente da Câmara e, além disso, não dispõe de intimidade, estatura, confiança e poder suficientes para levar Sarney a esta ou àquela definição. De duas uma: ou o gesto de Sarney foi sincero ou não foi produto do apelo de Temer.

Os próprios senadores de vários partidos vêem com desconfiança essa paz antecipada e tão satisfatória para grupos até outro dia abertamente insatisfeitos.

O senador Heráclito Fortes, do DEM, diz do alto de décadas de política, boa parte ao lado de Ulysses Guimarães: “Alguma coisa não combina, porque estão todos muito felizes: Tião Romero (Jucá, líder do governo no Senado), Sarney, Renan (Calheiros, o foco inicial da infecção). Quando é assim, alguém está enganando alguém ou todos estão enganando a todos.”

Convidado a apostar em quem será o próximo presidente do Senado, Heráclito não hesita: “José Sarney.” Como? “Não sei, tem muita água ainda para rolar daqui até fevereiro (data da eleição).”

Já o senador pemedebista Jarbas Vasconcelos, um dissidente de oposição, acredita no que vê pela absoluta impossibilidade lógica de se eternizar a enganação que, mais cedo ou mais tarde, teria de expor seus objetivos.

“Se Sarney já disse a todo mundo que não é candidato, liberou Tião para tocar a candidatura, não há mais espaço para recuo. Compreendo que o jogo das falsas aparências seja um método em uso, mas não entendo que integrantes de um grupo possam patrocinar engodos mútuos sem o risco de perder tudo. Há um momento em que as coisas são mesmo como parecem.”

Aposta de Jarbas para o próximo presidente do Senado? “Tião Viana.”

Portanto, com Michel Temer eleito presidente da Câmara. Isso, se o “outsider” Ciro Nogueira não repetir, em outros termos, a trajetória de seu antigo padrinho político, Severino Cavalcanti.

Noves fora todos os relatos e avaliações, fica-se com a nítida impressão de que o que está havendo no Congresso não é bem uma briga entre PT e PMDB.

O conflito instala-se mesmo dentro do partido, contrapondo as bancadas da Câmara e do Senado. Pela disputa do poder dentro do que resta do governo Lula. A constatação desmente a tese de que o PMDB está unido com o governo.

Com o governo, de fato, está todo, mas não unido. Inclusive porque houve, do primeiro para o segundo mandato de Lula, uma inversão de influência. Na primeira fase, Sarney e Renan comandaram do Senado toda a ocupação da máquina administrativa pelo partido. Indicavam, aconselhavam o presidente, eram os interlocutores de todas as demandas.

Depois da reeleição, a balança passou a pesar em favor da bancada da Câmara. Um exemplo simples: Sarney é respeitado no Palácio do Planalto, Renan Calheiros é visto como um estorvo, mas Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional, é o grilo falante com cadeira cativa autorizada junto aos ouvidos do presidente.

Basta ver: o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, falou mal da Funasa, se indispôs com a bancada de deputados, de forma implícita foi convidado a guardar a viola em receptáculo bem fechado.

Quer nos parecer que o PMDB no Senado insiste na presidência não por ambição desmedida de ocupar também a presidência da Câmara. Mas para tentar podar o aumento de poder da bancada, inviabilizar a candidatura Michel Temer manifestando a ele todo apoio e, de posse do álibi, mandar a conta à tesouraria (no bom sentido) do PT.

Pensando bem

Se o governador Aécio Neves estaria cogitando da hipótese de deixar o PSDB porque o partido está dividido entre a candidatura dele a presidente e a do governador José Serra, o que encontraria no PMDB, um partido unido?

Despreparo sem fim


Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Basta um momento de necessidade para vir abaixo a tese de que o Brasil é hoje um país preparado para enfrentar crises e situações de necessidade. Não vale comparar com a conjuntura de 20 anos atrás. Desenvolvimento inercial é algo bem diferente. O Paraguai também está muito melhor do que há duas décadas.

No plano econômico, a quimera da blindagem brasileira se desmancha a cada dia. A Petrobras acaba de pedir água estatal ao BB e à CEF.

Onde foi parar o sólido e bem regulado sistema financeiro? Ainda sobre blindagem, nunca é demais lembrar o tamanho da queda do índice Bovespa: 43% neste ano (cerca de 50% em dólar). Em Nova York, a perda foi de 34%.

Mas desgraças cotidianas atestam de maneira mais doída a crônica incapacidade gerencial dos governos brasileiros, em todos os níveis -municipais, estaduais e federal. Reportagem de Evandro Spinelli na Folha ontem mostrou a inexistência de mapeamento de áreas de risco nos municípios destruídos pela chuva em Santa Catarina.

Embora seja uma responsabilidade municipal, nada impede governos estaduais e federal de ajudarem. Nunca na história deste país houve tantos ministérios. São 37 os assessores de Lula no primeiro escalão. Pelo menos três teriam condições de atuar incentivando as cidades a executar estudos sobre áreas de risco: Integração Nacional (onde está a Defesa Civil), Minas e Energia (que comanda o Serviço Geológico do Brasil) e a pasta das Cidades (por razões óbvias).

Mas o ministro de Minas e Energia quer ser governador do Maranhão. O da Integração Nacional sonha em comandar a Bahia. O das Cidades é um tecnocrata colocado na cadeira para "atender ao PP".

Esse foi o azar de Santa Catarina.

Não há nenhum político do Estado ocupando um lugar vistoso na Esplanada dos Ministérios de Lula.

América Latina no radar


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

NOVA YORK. Mesmo que tenha sido publicado num período em que ninguém está muito atento à leitura, mais preocupado com o período de festas - que, nos Estados Unidos, começa com o Dia de Ação de Graças, festejado na última quinta-feira, e vai até o Natal -, o editorial do "The New York Times" de ontem sobre o que deveria ser a política do futuro governo Obama para a América Latina tem o mérito de trazer à discussão pública, e quem sabe chamar a atenção de um assessor ou outro da futura administração, uma parte da política externa que tudo indica não será prioritária, mas terá importância por motivos diretos citados pelo jornal americano: é da América Latina que saem para os Estados Unidos um terço de suas importações de petróleo (a maior parte da Venezuela), a maioria de seus imigrantes e "virtualmente toda sua cocaína".

No que se refere ao Brasil, o passo mais importante seria eliminar as tarifas para a importação do etanol, o que, segundo o "Times", ajudaria também na política de redução da dependência de petróleo.

Esse é o ponto fundamental da discussão do livre comércio, pois, para as exportações brasileiras, segundo os especialistas, mais importante que o fim dos subsídios aos produtores de etanol de milho seria a abertura do acesso ao mercado americano, com o estabelecimento de uma cota de importação livre de taxas.

Neste momento, o Brasil não tem condições de elevar substancialmente suas vendas de etanol para os Estados Unidos, pois isso provocaria desabastecimento do mercado interno.

O estabelecimento de uma cota daria aos produtores brasileiros tempo e segurança para realizarem os investimentos exigidos pela nova situação.São poucas, no entanto, as possibilidades de ser retomada uma agenda de livre comércio nos Estados Unidos diante da crise econômica que pode vir a ser uma recessão já no início do próximo ano.

Por isso também foi impossível para o governo Bush aprovar no Congresso o tratado de livre comércio com a Colômbia, pois a bancada democrata majoritária é mais protecionista que a republicana. O melhor exemplo vem do próprio Barack Obama e da futura secretária de Estado, Hillary Clinton.

Os dois votaram contra as propostas de renovação de fast track, a permissão para o governo negociar acordos de comércio sem a aprovação prévia do Congresso.

O tratado com o México, negociado no governo de Bush pai e aprovado em pleno governo Clinton, trouxe problemas para a então candidata Hillary Clinton, que disputou com Obama durante as primárias quem era mais contra o Nafta.

A maioria democrata ampliada no Congresso deverá continuar ativamente contra o Nafta, os acordos de livre comércio com a Coréia e com a Colômbia e a Rodada de Doha. Os sindicatos estão cada vez mais ativos na defesa dos empregos nos EUA, e o livre comércio é o principal responsável pelo desemprego crescente, nessa ótica sindical.

Cada um dos temas levantados pelo "Times" - petróleo, imigração e drogas - tem implicações políticas importantes, a começar pela nova política de imigração que deve ser levada a efeito pela futura ministra de Segurança Interna, Janet Napolitano, que também é a responsável pela repressão interna ao tráfico de drogas.

De acordo com o relatório publicado em outubro pelo centro de pesquisas Pew Hispanic Center, no ano de 2050 um em cada três americanos será de origem hispânica. Hoje, são 45 milhões de latinos, que representam 15% da população dos Estados Unidos.

Nada menos que 57% dos latinos registrados para votar se dizem democratas. Dos que votaram em novembro, quase 70% escolheram Obama, o que significou, entre outras, uma vitória na Flórida que reverteu uma predominância republicana que garantiu a vitória de Bush na polêmica eleição de 2000.

O presidente eleito, Barack Obama, parece inclinado a mudar o foco da política de combate às drogas levada a efeito na Colômbia, que não deu resultado.

O caráter estritamente militar do Projeto Colômbia, que mistura a repressão aos cartéis de drogas colombianos com o combate à guerrilha, tem dado certo no plano de segurança interna, mas não deu conta de reduzir a produção de cocaína, cujo destino final na maior parte é o consumo interno nos Estados Unidos.

A política de Obama combinaria estímulos econômicos para que a Colômbia se desenvolvesse por conta própria - e nesse caso aprovar o tratado de livre comércio seria prioridade - e o combate mais efetivo dentro dos EUA para a redução do consumo.

Um outro eixo da política externa na América Latina tem a ver com o antiamericanismo comandado pelo presidente da Venezuela, o cada vez mais ditatorial Hugo Chávez.

Com a crise, o preço do petróleo despencou e a política externa de Chávez está perdendo sua capacidade de financiar países como Cuba, Argentina, Nicarágua, o que pode levá-lo a radicalizar cada vez mais a política interna, como parece estar acontecendo, sobretudo agora com os recentes acordos militares com a Rússia, cujo presidente, Dmitri Medvedev, andou circulando pela região, mostrando os músculos em Brasília, Caracas e Havana.

Ao mesmo tempo, a oposição venezuelana vai ganhando terreno com o fracasso das políticas populistas, o que pode dar aos Estados Unidos um espaço político para agir no continente.

O "Times" sugere que o embargo econômico a Cuba seja levantado para distender a situação política na região.

Sejam quais forem os passos da futura administração com relação à América Latina, o Brasil ocupa lugar de destaque nessa estratégia, e a provável nomeação de Hillary Clinton para a Secretaria de Estado será um bom sinal, pois a senadora por Nova York conhece bem o país e suas potencialidades.

Para não esquecermos


Paul Krugman
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Há alguns meses participei de uma reunião de economistas e autoridades de finanças que debatiam a crise - o que mais poderia ser? O ambiente era de muita introspecção. Um conhecido legislador perguntou: “Por que nós não percebemos essa crise se aproximando?” Naturalmente, como resposta só havia uma coisa a dizer, e eu disse: “Nós quem, cara pálida?”

Mas, falando sério, ele tinha razão. Algumas pessoas dizem que esta é uma crise sem precedentes, mas a verdade é que houve muitos precedentes, alguns deles muito recentes. Mas foram ignorados. E essa história de como “falhamos” em não perceber isso tem uma clara implicação política - ou seja, que a reforma do mercado financeiro deve ser feita rapidamente, que não devemos esperar até que a crise seja resolvida.

Quanto aos precedentes, por que tantos observadores subestimaram os sinais claros de uma bolha imobiliária, apesar da bolha das pontocom ainda estar viva na nossa memória? Por que tantas pessoas insistiram que o nosso sistema financeiro tinha “capacidade de se recuperar”, como dizia Alan Greenspan (ex-presidente do Federal Reserve, o banco central americano), quando, em 1998, o colapso de um único fundo de hedge, o Long-Term Capital Management, paralisou temporariamente os mercados de crédito em todo o mundo? Por que quase todo mundo acredita na onipotência do Federal Reserve quando o seu contraparte, o Banco do Japão, passou uma década tentando - e fracassando - reanimar uma economia estancada?

Uma resposta a essas perguntas é que ninguém gosta dos desmancha-prazeres. Enquanto a bolha imobiliária inflava, os credores ganhavam muito dinheiro emitindo hipotecas para qualquer um que passasse pela porta; os bancos de investimento lucravam ainda mais refinanciando essas hipotecas com a emissão de novos títulos; e os gestores de recursos, que contabilizavam enormes lucros não realizados comprando esses títulos com fundos tomados emprestados, pareciam gênios e eram pagos de acordo.

Quem iria querer escutar aqueles sinistros economistas alertando que o processo todo era, na realidade, um gigante esquema Ponzi (esquema fraudulento de ganhar dinheiro)? Houve uma outra razão pela qual o establishment político econômico não pressentiu a aproximação da atual crise. As crises da década de 90 e dos anos iniciais desta década deveriam ser vistas como terríveis presságios, indícios de que algo pior ainda estava por vir. Mas todo mundo estava muito ocupado, comemorando o sucesso no combate àquelas crises, para notar algo mais.


OS TRÊS MARQUETEIROS

Considere, em particular, o que ocorreu após a crise de 1997-98. Ela mostrou que o sistema financeiro moderno, com seus mercados desregulados, seus participantes altamente alavancados e fluxos de capital globais, estava ficando perigosamente frágil. Mas, quando essa crise foi apaziguada, a ordem do dia foi o triunfalismo e não um exame de consciência.

A revista Time chamou Alan Greenspan, Robert Rubin e Lawrence Summers de o “Comitê para salvar o mundo”, frase que ficou famosa. Os “Três Marqueteiros” que “evitaram um derretimento global”. Na verdade, todos declararam uma vitória, por sairmos da beira da crise, mas esquecendo de indagar, primeiro, como chegamos tão próximo dela.

De fato, tanto a crise de 1997-1998 como o estouro da bolha das pontocom provavelmente tiveram o efeito perverso de tornar investidores e autoridades públicas mais, e não menos, complacentes.

Como nenhuma das crises chegou à altura dos nossos piores temores e nenhuma delas provocou uma outra Grande Depressão, os investidores passaram a acreditar que Greenspan tinha o poder mágico de solucionar todos os problemas - e se suspeita que assim pensava também o próprio Greenspan, que se opôs a todas as propostas de uma prudente regulamentação do sistema financeiro.

Agora estamos em meio a uma nova crise, a pior desde a década de 30. No momento, todos se concentram numa resposta imediata para o problema.

As medidas mais agressivas adotadas pelo Fed para desbloquear os mercados de crédito finalmente vão começar a surtir efeito? O estímulo fiscal preconizado pela administração Barack Obama vai mudar a situação do emprego e da produção? (a propósito, não estou muito certo se a equipe econômica está pensando de maneira suficientemente abrangente).

A PRÓXIMA CRISE

E como nós todos estamos tão preocupados com essa crise, é difícil concentrar a atenção em questões de prazo mais longo - colocar um freio no nosso sistema financeiro descontrolado, e também impedir, ou pelo menos limitar, a próxima crise.

Mas a experiência da última década sugere que devemos nos preocupar com a reforma financeira, sobretudo com uma regulamentação do “sistema bancário paralelo”, no centro da atual desordem, o mais brevemente possível.

Tão logo a economia entre na rota da recuperação, os trambiqueiros novamente começarão a ganhar dinheiro fácil e fazer muito lobby contra qualquer um que tente limitar seus resultados finais. Além disso, o sucesso dessas tentativas de recuperação acabará por parecer algo predestinado, embora não seja, e a urgência de uma ação poderá se perder.

Portanto, eis aqui o meu apelo: mesmo que a agenda da próxima administração já esteja muito cheia, ela não deve adiar a reforma financeira. O momento de começar a impedir a próxima crise é agora.

*Paul Krugman é articulista

As marcas no longo caminho


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


Há 60 anos, no dia 27 de novembro de 1948, a contar do registro na carteira profissional, passando por jornais, revistas, rádios e televisões, acompanho a política nacional como repórter, cronista, chefe de seção e diretor da sucursal do Estadão.

Na verdade, não estou contando os meses de batente na velha A Notícia, de Candido de Campos e Silva Ramos, em que me submeti ao teste de foca e pau para toda a obra, desde a rotina das salas de imprensa de ministérios às chegadas de novos hóspedes para o Jardim Zoológico. A Notícia de então era reconhecida como uma escola prática de jornalismo, antes da exigência de diploma de nível universitário. Caí, e de cabeça, na reportagem política por obra do acaso, em episódio contado e recontado. Esbarrei com um inesquecível personagem, o empresário Ivo Borcioni, de quem ouvi a história fantástica de uma tentativa de suborno, envolvendo altas autoridades do governo do presidente Dutra, na transação da venda de dormentes para a Central do Brasil.

A manchete na primeira página do vespertino estourou na tribuna da Câmara, com a oposição e o governo trocando desaforos. Deu em nada, tal e qual acontece até hoje. Aliás, agora muito mais do que ontem, pois o progresso marcha em cadência acelerada. De meados do governo do presidente Dutra até hoje, venho acompanhando – na sucessão das esperanças que sempre anunciam as solenes promessas de um regime democrático, firme como a rocha, e nos percalços ditatoriais – a série de erros que deflagraram as crises e as recaídas no arbítrio.

Alguns cortes são de solar evidência, como a volta triunfal de Getúlio, na rota aberta com as intrigas da turma da Copa e da Cozinha do governo Dutra e o suicídio que virou o país e o udenismo de Café Filho que abriu a canela para os 5 anos em 5 de JK. O pé-de-valsa, que aliviou a tensão e devolveu a alegria à população, abriu frentes em todas as áreas: da Copa do Mundo de 58, da bossa nova, das risadas e do permanente bom humor, escorregou na precipitação. Inaugurou Brasília, em 21 de abril de 1960, antes de estar pronta, e pagou o preço das mordomias, das vantagens, das exigências absurdas para pavimentar o JK-65. Como nas caçadas de paca, deixou aberto o carreiro para o golpe e a ditadura militar.

A história do aloprado Jânio Quadros é uma inacreditável novela de farsas, desatinos e faniquitos que termina com o golpe fracassado da renúncia com sete meses de mandato, armado com a traição do Jan-Jan do conluio com Jango Goulart e que por muito pouco não ensangüenta o país com o confronto militar.

Carlos Castelo Branco, o maior repórter político do Brasil e que foi assessor de Jânio, presta no seu livro A renúncia de Jânio, de leitura indispensável, o seu depoimento de quem viu por dentro os meses de governo do extravagante personagem. E sem arranhar a ética avançou até o limite do narrador e analista do que testemunhou: o clima de intriga palaciana em que fica transparente a tentativa do golpe, como idéia fixa, para a volta nos braços do povo e com plenos poderes. O povo enganado não saiu de casa. E Jânio teve um fim melancólico.

Jango não sossegou enquanto não antecipou o plebiscito para derrubar o parlamentarismo híbrido, que era a sua proteção. Com o presidencialismo restaurado com cola, esticou a corda até ser deposto pelo golpe de 1° de abril de 1964. Passamos pela provação dos quase 21 anos da ditadura militar, com o rodízio dos cinco generais-presidentes. A nova democracia, que aí está, depois da frustração com o martírio e morte de Tancredo Neves, a Constituinte de 1988 pendulando entre o centrão e a esquerda e o mandato difícil do presidente José Sarney. A crise do curto governo de Collor de Mello e os dois anos e quatro meses sem turbulência do correto governo de Itamar Franco. Dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso e seis anos do Presidente Lula.

Afinal, valeu a pena? Inútil chorar as mágoas passadas. Mas é inevitável a comparação para quem tanto viu e tanto viveu entre a fase de ouro da eloqüência parlamentar dos 14 anos em que freqüentei a Câmara e o Senado até a mudança para Brasília e a chocante evidência de que o atual Congresso dos escândalos, da farra das mordomias, da semana de três dias úteis, da verba indenizatória, da bagunça partidária, é o pior desde o fim do Estado Novo. Mas, como choraminga o Orlando Silva, o maior cantor brasileiro de todos os tempos: "Ninguém foge ao seu destino...".

Pinga Fogo

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

» Tem coisa aí

Que é estranho, é: uma empresa (Petrobrás) anuncia um lucro líquido de R$ 26 bilhões, de janeiro a setembro deste ano, e na semana seguinte toma R$ 2 bi emprestado à CEF para pagar impostos federais? Como diz o matuto, tem coisa aí...

» Dois em um

Embora Roberto Freire (PE) negue, estão avançadas as conversas para fundir PPS com PSDB. Até porque, como diz Serra, há mais ex-comunistas hoje no 2º do que no 1º: Alberto Goldman, Arnaldo Madeira, Aloysio Nunes, etc.

» Todos a favor

A fusão do tucanato com os ex-comunistas não terá qualquer problema nas secções de PE. Ela é aprovada por Roberto Freire, pelo senador Sérgio Guerra e pelos deputados Raul Jungmann (PPS), Bruno Rodrigues e Bruno Araújo (PSDB).

Freire: “chapa Dilma/Maggi será facimente derrotada”


ALEXANDRE APRÁ
Especial para o Diário de Cuiabá

Presidente nacional do PPS, junto com líderes tucanos, participou de evento ontem em Cuiabá que discutiu a crise e seus reflexos

O presidente da Executiva nacional do PPS, deputado Roberto Freire, afirmou que uma possível coligação entre o PT e o PR nas eleições presidenciais, com a ministra Dilma Roussef (PT) presidente e o governador Blairo Maggi (PR) como vice, será facilmente derrotada no pleito 2010.

A declaração foi dada ontem, durante a sua passagem no seminário sobre a crise da economia, promovida pela prefeitura da Capital, na tarde de ontem, onde foi referendada a “Carta de Cuiabá”.

Líderes políticos nacionais do PSDB, como o senador Tasso Jereissati e o deputado federal José Aníbal participaram das discussões sobre a crise, que contou com a palestra do secretário de Estado de Fazenda, Éder Moraes.

Em tom de ironia, ele disse que aprova a união dos partidos. “Eu até gostaria que os dois estivessem juntos na campanha de 2010, porque daí ficaria até mais fácil para o governador José Serra sair vitorioso”, disse.

O governador Blairo Maggi deixou o PPS após assumir publicamente apoio à reeleição do presidente Luis Inácio Lula da Silva, no segundo turno das eleições de 2006. Com ele, vários filiados, entre eles o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Sérgio Ricardo, e o deputado federal Homero Pereira, também provocaram uma debandada dos socialistas para a sigla republicana.

Roberto Freire também se manifestou terminante contra qualquer movimentação para um terceiro mandato. “Terceiro mandato é sinônimo de golpe, de atitude antidemocrática”, afirmou. Para ele, a alternância de poder é uma das prerrogativas da democracia e uma permanência do presidente ou governadores seria uma possível volta da ditadura. “Quem ficava no poder quanto tempo queria eram os militares da ditadura. O Brasil não merece isso”, declarou.

Na avaliação dele, as especulações de um terceiro mandato estão sendo colocadas por políticos inexpressivos e sem credibilidade. “Qual é o parlamentar de bom-senso que se colocaria a favor dessa atitude totalmente antidemocrática? Só se for louco ou não tiver nada a perder”, sustentou o seu argumento.

Com seu estilo de opositor ferrenho, Roberto Freire aproveitou sua fala durante o Seminário “Cuiabá e a Crise” para fazer uma sessão piada. Em poucos minutos, ele leu algumas frases ditas pelo presidente Lula acerca da crise, que arrancaram risos da platéia presente.