EDITORIAL
DEU EM O GLOBO
Há tempos o PMDB atua como uma federação de caciques regionais, aberta a negociações fisiológicas com os inquilinos do Planalto, em busca de vagas e verbas públicas, conquistadas em troca de apoio parlamentar e político. Por isso, o maior partido do país adota a estranha postura - estranha para desavisados - de não pleitear a sério a Presidência da República, a fim de mercadejar apoios nos balcões da fisiologia. Não paga o ônus e ainda capitaliza bônus inconfessáveis do poder.
Nada disso é desconhecido. Mas, ao sair da boca de um senador peemedebista, o pernambucano Jarbas Vasconcelos, a verdade ganha outra dimensão política. Em entrevista à "Veja", Jarbas acusou o próprio partido de corrupto, criticou de forma pesada a eleição de José Sarney para a presidência do Senado, em cujo comboio voltou à boca de cena Renan Calheiros, e tratou sem rodeios de sua desilusão com Lula, pelo fato de o presidente e o partido dele, o PT, terem frustrado todos os que confiaram na defesa que ambos faziam da ética na política.
Nada disso é desconhecido. Mas, ao sair da boca de um senador peemedebista, o pernambucano Jarbas Vasconcelos, a verdade ganha outra dimensão política. Em entrevista à "Veja", Jarbas acusou o próprio partido de corrupto, criticou de forma pesada a eleição de José Sarney para a presidência do Senado, em cujo comboio voltou à boca de cena Renan Calheiros, e tratou sem rodeios de sua desilusão com Lula, pelo fato de o presidente e o partido dele, o PT, terem frustrado todos os que confiaram na defesa que ambos faziam da ética na política.
A desilusão do senador também tem outro motivo: nenhuma das reformas importantes de que o país necessita foi feita pelo governo, que optou pelo assistencialismo populista numa dimensão jamais vista.
Pode ser que a entrevista de Jarbas Vasconcelos, deputado, governador de Pernambuco, com 43 anos de vida política, iniciada no MDB da resistência à ditadura, seja considerada um ato da sucessão de 2010. Afinal, o senador não escondeu à revista apoiar José Serra para sucessor de Lula. Diga-se, também como uma falange do seu partido, dentro da conhecida esperteza peemedebista de colocar fichas na situação e na oposição, para nunca perder uma eleição presidencial.
A entrevista, porém, transcende a conjuntura político-eleitoral, e aborda algo mais profundo: a degradação da vida pública, alimentada por um quadro partidário anêmico, em que as legendas, em geral, são obrigadas a se submeter a puxadores de votos, e não conseguem atrair eleitores em função de projetos e programas, mas por meio de práticas populistas.
A entrevista, porém, transcende a conjuntura político-eleitoral, e aborda algo mais profundo: a degradação da vida pública, alimentada por um quadro partidário anêmico, em que as legendas, em geral, são obrigadas a se submeter a puxadores de votos, e não conseguem atrair eleitores em função de projetos e programas, mas por meio de práticas populistas.
A degradação do PMDB é parte da metástase deflagrada a partir da Constituição de 88, com a qual houve uma excessiva proliferação de legendas - algumas de aluguel. Além disso, plasmou-se uma legislação sem qualquer rigor, responsável por permitir a entrada na política de fichas-sujas de toda espécie e do próprio crime organizado.
Tudo isso e ainda a inexistência de uma regra séria sobre a fidelidade partidária criaram um estado de coisas na política brasileira que leva Jarbas Vasconcelos a admitir aposentar-se.
Entre as razões que motivaram o senador a assinar embaixo das mais ácidas críticas ao PMDB e ao governo, é provável que tenha sido determinante a constatação de que o governo e o PT foram contaminados pelo vírus da baixa política, do toma-lá-dá-cá, na montagem das alianças partidárias.
No mínimo, o senador contribuiu para a agenda de uma discussão séria sobre o poder no Brasil.