terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Uma Agenda

EDITORIAL
DEU EM O GLOBO
Há tempos o PMDB atua como uma federação de caciques regionais, aberta a negociações fisiológicas com os inquilinos do Planalto, em busca de vagas e verbas públicas, conquistadas em troca de apoio parlamentar e político. Por isso, o maior partido do país adota a estranha postura - estranha para desavisados - de não pleitear a sério a Presidência da República, a fim de mercadejar apoios nos balcões da fisiologia. Não paga o ônus e ainda capitaliza bônus inconfessáveis do poder.

Nada disso é desconhecido. Mas, ao sair da boca de um senador peemedebista, o pernambucano Jarbas Vasconcelos, a verdade ganha outra dimensão política. Em entrevista à "Veja", Jarbas acusou o próprio partido de corrupto, criticou de forma pesada a eleição de José Sarney para a presidência do Senado, em cujo comboio voltou à boca de cena Renan Calheiros, e tratou sem rodeios de sua desilusão com Lula, pelo fato de o presidente e o partido dele, o PT, terem frustrado todos os que confiaram na defesa que ambos faziam da ética na política.
A desilusão do senador também tem outro motivo: nenhuma das reformas importantes de que o país necessita foi feita pelo governo, que optou pelo assistencialismo populista numa dimensão jamais vista.
Pode ser que a entrevista de Jarbas Vasconcelos, deputado, governador de Pernambuco, com 43 anos de vida política, iniciada no MDB da resistência à ditadura, seja considerada um ato da sucessão de 2010. Afinal, o senador não escondeu à revista apoiar José Serra para sucessor de Lula. Diga-se, também como uma falange do seu partido, dentro da conhecida esperteza peemedebista de colocar fichas na situação e na oposição, para nunca perder uma eleição presidencial.

A entrevista, porém, transcende a conjuntura político-eleitoral, e aborda algo mais profundo: a degradação da vida pública, alimentada por um quadro partidário anêmico, em que as legendas, em geral, são obrigadas a se submeter a puxadores de votos, e não conseguem atrair eleitores em função de projetos e programas, mas por meio de práticas populistas.
A degradação do PMDB é parte da metástase deflagrada a partir da Constituição de 88, com a qual houve uma excessiva proliferação de legendas - algumas de aluguel. Além disso, plasmou-se uma legislação sem qualquer rigor, responsável por permitir a entrada na política de fichas-sujas de toda espécie e do próprio crime organizado.
Tudo isso e ainda a inexistência de uma regra séria sobre a fidelidade partidária criaram um estado de coisas na política brasileira que leva Jarbas Vasconcelos a admitir aposentar-se.
Entre as razões que motivaram o senador a assinar embaixo das mais ácidas críticas ao PMDB e ao governo, é provável que tenha sido determinante a constatação de que o governo e o PT foram contaminados pelo vírus da baixa política, do toma-lá-dá-cá, na montagem das alianças partidárias.
No mínimo, o senador contribuiu para a agenda de uma discussão séria sobre o poder no Brasil.

A corrupção vista de dentro

EDITORIAL
O ESTADO DE S. PAULO

Desde que, em junho de 2005, o então deputado Roberto Jefferson, do PTB do Rio de Janeiro, denunciou a compra sistemática de parlamentares para servir ao governo Lula - no esquema que entraria para a história com o sugestivo nome de "mensalão" - não se via um político apresentar um libelo tão devastador sobre o comportamento dominante entre os seus pares como a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB de Pernambuco, à revista Veja. Com uma agravante que ofusca: aos 66 anos, duas vezes governador do seu Estado, com quatro décadas de atividade política sem prontuário, um dos fundadores do partido que viria a liderar a campanha pela redemocratização do País, sob a sigla MDB, Jarbas Vasconcelos não é Roberto Jefferson, nem no retrospecto nem nas motivações por trás das iniciativas de cada qual de falar à imprensa.

Nem no quesito novidade. Por vingança, o petebista abriu para o público uma armação compartilhada pelos beneficiários, operadores e inspiradores do suborno de deputados, para que facilitassem o controle do Planalto sobre a Câmara e garantissem a aprovação dos projetos do governo; mudando de partido conforme a conveniência do lulismo e votando com a consciência da paga recebida e a expectativa de novas remunerações. Já o que o peemedebista acabou de fazer, por desalento, foi endossar, com a autoridade do seu perfil e da experiência no ramo, o que a sociedade sabe, ou pelo menos intui, sobre os costumes políticos de parcela dos seus representantes, as razões inconfessas que os levam à política e a sua insensibilidade moral à toda prova.

Embora sem citar casos concretos - salvo o escândalo que envolveu o senador Renan Calheiros -, ele se concentrou nas mazelas do seu partido, indo além da obviedade de que, sem bandeiras, propostas ou rumos, o PMDB é uma confederação de líderes regionais, todos com os seus próprios interesses, dos quais "mais de 90% praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos". Na passagem mais esclarecedora de sua entrevista, Vasconcelos explica que, para alguns, os cargos servem como instrumento de prestígio político. Mas a maioria "se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral". E arremata: "Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção." Mal não lhe fez. O maior partido nacional elegeu 7 governadores, 20 senadores, 96 deputados federais e 1.202 prefeitos. Tem 7 ministros, acaba de conquistar o comando do Congresso e é cortejado pelo PT e o PSDB para a sucessão de Lula.

Outro senador e ex-governador que ajudou a criar o velho MDB, o gaúcho Pedro Simon, acrescenta uma dose de desesperança às denúncias do colega. "Acontecem essas mesmas coisas com os outros partidos. Alguns têm mais corrupção que outros porque são maiores." A "geleia geral" de que fala Simon é decerto indissociável, por exemplo, do processo "tortuoso e constrangedor", como o descreve o pernambucano, da eleição de Sarney para a presidência do Senado, onde "o nível dos debates é inversamente proporcional à preocupação com as benesses". Segundo Vasconcelos, foi "um completo retrocesso", pois Sarney "não vai mudar a estrutura política nem contribuir para reconstruir uma imagem positiva da Casa. Vai transformar o Senado em um grande Maranhão".

A amargura de Vasconcelos é especialmente visível quando reflete sobre o entranhamento da corrupção na era Lula. Em 2002, ele defendia o apoio do PMDB ao presidente recém-eleito. Em pouco tempo, mudou de ideia ao perceber que ele "não tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética" - embora ressalve que a corrupção "não foi inventada por Lula ou pelo PT". De todo modo, o descompromisso não é sinônimo de indiferença. Longe de lavar as mãos diante dos malfeitos dos políticos, Lula os incentiva, mantendo com o sistema de partidos uma relação essencialmente clientelística - não fosse isso, não teria o apoio de 14 legendas. E é com essa mesma matéria-prima invertebrada que ele pretende construir o suporte político da candidatura Dilma Rousseff.

Em busca do prestígio perdido

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


Dois movimentos não ligados entre si, mas com objetivos semelhantes, realizados por políticos experientes acostumados a identificar o sentimento dos eleitores e dispostos a abrir o debate sobre temas delicados que ficam soterrados pelas conveniências imediatistas da pequena política, prometem sacudir a pasmaceira de um Congresso dominado pelo pensamento governista. De um lado, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) abriu seu coração para a revista "Veja", falando em público o que a imprensa denuncia regularmente, muitos políticos comentam em privado e ele próprio vinha dizendo reservadamente há bastante tempo: a angústia de ver o partido que ajudou a fundar e que foi sinônimo de excelência política, símbolo da resistência à ditadura, transformar-se num agrupamento político corrupto e fisiológico, movido a cargos e verbas públicas.

Do outro, o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ), incomodado com o que chama de "partidocracia", buscando através de uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode ser julgada já na próxima quinta-feira antes do carnaval, uma valorização dos parlamentares dentro dos partidos para que eles tenham um papel mais relevante no jogo político que não o de meros espectadores dos acordos da cúpula partidária.

Curiosamente, os dois fazem parte de partidos da chamada "base parlamentar" do governo Lula, uma coalizão tão grande quanto disforme de partidos de vários e conflitantes matizes ideológicos, que só têm o interesse eleitoreiro a uni-los, uma grande geléia-geral onde o debate político deu lugar ao fisiologismo e ao clientelismo, todos dependentes do grande líder carismático, que os anula, mas recompensa com fatias do Estado e expectativa de poder.

A entrevista de Jarbas Vasconcelos não parece ser o primeiro lance de uma série bem montada de ações do senador, como muitos chegaram a pensar, e muito menos deve ser tomada como um movimento político com vistas à sucessão presidencial.

Duas vezes governador de Pernambuco, um dos políticos mais importantes do Nordeste, região hoje amplamente dominada pelo lulismo, o senador Jarbas Vasconcelos é adepto da candidatura do governador de São Paulo José Serra, mas não precisaria dar uma entrevista bombástica para tentar dividir o PMDB, levando um pedaço dele para a candidatura tucana.

O incômodo com a atuação de seu partido o fez desabafar em público, na esperança, disse ontem, de que o debate aberto leve a uma revisão de comportamento.

Mesmo que não tenha a intenção de sair do PMDB, como reafirmou, o senador pode ter reacendido em muitos políticos a inquietação com a situação atual dos partidos. Seu desabafo pode ser o estopim para uma eventual reorganização partidária.

A consulta do deputado Miro Teixeira abre essa possibilidade, embora também não tenha sido feita com essa intenção. O que o deputado quer é dar mais dignidade aos políticos dentro de seus partidos, para que eles possam aspirar a posições mais relevantes do que simplesmente serem caudatários de acordos de cúpula que os transformam em moeda de troca.

A "partidocracia" consolidou-se, na opinião de Miro Teixeira, quando o TSE decidiu que os mandatos pertenciam aos partidos e não aos eleitos. Ele fez algumas perguntas diretas ao TSE que, espera, dará chance ao tribunal de rever aspectos da decisão anterior que produzirá, na sua visão, um mal muito grande à política brasileira no longo prazo, esterilizando o debate político e dando às direções dos partidos poder de vida e morte sobre seus parlamentares.

Miro se utiliza do voto do ministro Joaquim Barbosa, que perguntou: "(...) não deveria haver um mecanismo para examinar a percepção do eleitor quanto à fidelidade do partido político pelo qual se elegeu o candidato tido por insurgente às diretrizes fixadas por ocasião do pleito?" e lança uma dúvida, numa situação que ocorre com frequência nesse Congresso emasculado:

"(...) se, em tese, o partido "A" organizar Bloco Parlamentar, na Câmara dos Deputados, com os partidos "B" e "C" adversários da chapa ou coligação com que se apresentou ao povo, nas respectivas eleições parlamentares ou na eleição presidencial, está configurada a hipótese de mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário, que permite ao parlamentar deixar a sigla sem perder o mandato? E na hipótese de o partido ocupar cargos e integrar governo de coalizão, com o adversário vitorioso?".

O deputado pedetista também explora a possibilidade de criação de novos partidos e pergunta "em que momento os deputados que decidirem participar da fundação de partido político têm que deixar o partido pelo qual se elegeram, com a proteção da Resolução nº 22.610/2007 do TSE?".

Ele pergunta também se a resolução do TSE reconhece ao novo partido fundado por deputados federais "os mesmos direitos aplicáveis a novo partido resultante de fusão", prevista na legislação eleitoral brasileira.

E cita também o parágrafo 6º do Art. 29 da Lei 9.096, de 1995, que proporcionou a criação do PSDB como dissidência do PMDB, para saber se os partidos que eventualmente nascerem com base na resolução do TSE terão os mesmos direitos.

Importante em termos práticos, pergunta se os deputados que formarem um novo partido político levam com eles os votos para definir o tempo de televisão e a divisão do Fundo Partidário.

A consulta de Miro Teixeira dá ainda um toque de modernidade à formação de um novo partido, perguntando se o TSE aceitará o preenchimento da ficha partidária "meio eletrônico", isto é, o uso da internet na criação de partidos, o que daria abrangência muito maior à representação partidária.

Como se vê, alguma coisa se move abaixo da capa de subserviência com que o Poder Legislativo acerta sua convivência com o Poder Executivo.

Verdade inconveniente

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A entrevista do senador Jarbas Vasconcelos à revista Veja é um registro de esgotamento.

Daqueles momentos em que o ser humano perde a paciência, por algum motivo resolve pagar para ver sem medir de imediato as consequências, diz verdades da mais alta inconveniência e cria situações que podem levar a rupturas benéficas ou ao reforço de pactos maléficos.

A intenção inicial nem sempre combina com o resultado final. Tudo depende de adesão da sociedade e das instituições. Na história recente da política há dois momentos assemelhados.

Em 1992, Pedro Collor não queria derrubar o irmão Fernando da Presidência da República quando na mesma revista Veja deu entrevista materializando os boatos que corriam em Brasília havia dois anos e contou quase tudo sobre o esquema de corrupção comandado por Paulo César Farias, o tesoureiro do presidente.

Em 2005, o então deputado Roberto Jefferson não pretendia muito mais que manchar o manto de vestal do PT por causa de problemas de partilha e nem de longe pensava em pôr seu mandato a prêmio quando deu uma entrevista à Folha de S. Paulo assumindo o que já fora duas vezes denunciado e desmentido: que a direção o PT comandava um sistema de financiamento público dos partidos em troca de apoio no Congresso.

Nos dois casos, a primeira reação dos acusados, seus aliados e o entorno de inocentes (in)úteis que preferem as versões oficiais aos próprios olhos e ouvidos foi a de exigir "provas" contundentes. Corrupção por escrito, com certidão passada em cartório do céu.

Não fosse a ação firme de alguns setores, pessoas e instituições, as denúncias teriam sido atribuídas a intenções escusas dos denunciantes e nada do que se soube a respeito de ambos os episódios teria sido do conhecimento público.

Agora, diante do desabafo do senador Jarbas Vasconcelos, reproduzindo em gravador fatos notórios e sobejamente sabidos, esboça-se uma reação parecida.

Provas, nomes, documentos, clamam o que Nelson Rodrigues chamava de idiotas da objetividade. Isso, falando dos só equivocados, porque a eles se juntam de carona os mal-intencionados falando em "generalizações" cujas particularidades conhecem em detalhes.

Depois do silêncio de 24 horas, a direção do PMDB se reuniu e decidiu oficialmente tentar "esvaziar" as declarações do senador.

Dar a elas um caráter pessoal, deixar que se lancem sobre ele algumas desconfianças, quando nada de que fala por ser ranzinza, uma voz isolada no partido, talvez por isso em busca de alguma notoriedade, um homem a quem não se deve dar atenção, um político na contramão da história tal como é contada nesses dias de supremacia da fama e da popularidade sobre o mérito e o respeito.

O senador Jarbas Vasconcelos nada acrescentou, a não ser sua assinatura, a tudo o que todos os dias é repetido para o conhecimento do público. A eleição de José Sarney para a presidência do Senado foi tachada de retrocesso na imprensa nacional e internacional.

O fisiologismo do partido é assumido. Foi o próprio presidente do PMDB quem disse que na próxima eleição ele ficará parte com o governo, parte com a oposição.

O PMDB é tratado permanentemente com desqualificação e não se opõe a isso. Simplesmente parou de argumentar contra os fatos. No máximo, quando eles ameaçam suas posições na administração federal, luta pelas posições, nunca para corrigir os fatos.

Acabou de acontecer, em proporções reduzidas, o mesmo com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que apontou a gestão corrupta e ineficaz de seu partido na Fundação Nacional de Saúde.

Foi tratado como um desgarrado, indisciplinado, boquirroto e intolerante, quando foi apenas covarde por ter aceitado dar o dito pelo não dito.

Jarbas Vasconcelos apenas ampliou e detalhou o quadro. Baseado na experiência e confiante na aceitação do conceito de que a amoralidade passou de exceção a regra geral, o PMDB deu de ombros.

Ouve que há corrupção no partido, nem sequer estranha e não procura saber o que se passa: condena liminarmente o denunciante e dá o caso por encerrado.

Bem, isso é o que a Executiva do PMDB acha que deve ser feito. Não necessariamente precisa ser o que todos os parlamentares, governadores, prefeitos, filiados e militantes do partido e de outras legendas devam seguir.

A entrevista de Jarbas Vasconcelos estende aos políticos de bem uma tábua de salvação. Abre a todos a oportunidade de escolher um lado: se o do joio ou do trigo.

Dá à opinião pública a chance de ver quem sustenta a verdade inconveniente dita pelo senador e quem se esconde sob a mentira conveniente contada pela Executiva do PMDB.

Considerar condenável o ato do senador requer necessariamente que se admita como louvável o conjunto da obra do PMDB e se apresentem escusas pelo tratamento desrespeitoso dado à legenda.

É uma escolha que põe em xeque a oposição a quem o senador anunciou apoio na eleição de 2010. Uma opção entre a ruptura benéfica e a renovação do pacto maléfico.

O Brasil virou um grande PMDB

Arnaldo Jabor
DEU EM O GLOBO


Estamos anestesiados diante da vida política do país

A entrevista de Jarbas Vasconcelos na revista "Veja" desta semana é uma rara ilha de verdade neste mar de mentiras em que naufragamos. Precisávamos dessas palavras indignadas que denunciam a rede de mediocridade política e de desagregação de poderes que assola o país, do Congresso ao Executivo.

De dentro de casa, Jarbas berrou: "O PMDB é corrupto!". E mostrou como esse partido nos manipula, sob o guarda-chuva do marketing populista de Lula.

O que Jarbas Vasconcelos atacou já era voz corrente entre jornalistas, inclusive o pobre diabo que vos fala.

Mas sua explosão é legítima e incontestável, vinda de um dos fundadores do MDB, depois transformado nesta anomalia comandada pelo Sarney, que é o líder sereno e hábil da manutenção do atraso em nossas vidas. Duvidam? Vão a São Luís para entender o que fez esse homem com seu jaquetão impecável há 40 anos no poder daquele estado. Jarbas aponta: "A moralização e a renovação são incompatíveis com a figura do senador Sarney, (...) que vai transformar o país em um grande Maranhão".

Mais que um partido, o PMDB atual é o sintoma alarmante de nossa doença secular. Era preciso que um homem de estatura política abrisse a boca finalmente, neste país com a oposição acovardada diante do ibope de Lula.

Estamos aceitando a paralisia mental que se instalou no país, sob a demagogia oportunista deste governo. O gesto de Jarbas é importante justamente por ser intempestivo, romanticamente bruto, direto, sem interesses e vaselinas.

É mais que uma entrevista - é um manifesto do "eu-sozinho", um ato histórico (se é que ainda sobra algo "histórico" na política morna de hoje). E não se trata de um artigo de denúncia "moral" ou de clamor por "pureza": é um retrato de como alianças espúrias e a corrupção "revolucionária" deformaram a própria cara da política brasileira. Com suas alianças e negaças, o governo do PT desmoralizou o escândalo!

Lula revalidou os velhos vícios do país, abrindo as portas para corruptos e clientelistas, em nome de uma "governabilidade" que nada governa, impedido pela conveniência e pelos interesses de seus "aliados". É como ser apoiado por uma máfia para combater o mal das máfias.

Jarbas não tem medo de ser chamado de reacionário pelo povão ou pelos intelectuais que ainda vivem com o conceito de "esquerda" entranhado em seus cérebros, como um tumor inoperável.

Essa palavra "esquerda" ainda é o ópio dos intelectuais e "santifica"qualquer discurso oportunista. Na mitologia brasileira, Lula continua o símbolo do "povo" que chegou ao poder. A origem quase "cristã" desse mito de "operário salvador", de um Getúlio do ABC, dá-lhe uma aura intocável. Poucos têm coragem de desmentir esse dogma, como a virgindade de Nossa Senhora.
A última vez que vimos verdades nuas foi quando Roberto Jefferson, legitimado por sua carteirinha de espertalhão, botou os bolchevistas malucos para correr.

Depois disso, chegou o lulo-sindicalismo, ou o peleguismo desconstrutivo, que empregou mais de cem mil e aumentou os gastos federais de custeio em 128 por cento.

O lulismo esvazia nossa indignação, nossa vontade de crítica, de oposição. Para ser contra o que, se ele é "a favor" de tudo, dependendo de com quem está falando - banqueiros ou desvalidos? Ele põe qualquer chapéu - é ecumênico, todas as religiões podem adorá-lo.

Ele ostenta uma arrogância "simpática" e carismática que nos anestesia e que, na mídia, cria uma sensação de "normalidade" sinistra, mas que, para quem tem olhos, parece a calmaria de uma tempestade que virá para o próximo governante.

Herdeiro da sensata organização macroeconômica de FH, que, graças a Deus, o Palocci manteve (apesar dos ataques bolchevistas dos Dirceus da vida), Lula surfou seis anos na bolha bendita da economia internacional, mas não aproveitou para fazer coisa alguma nova ou reformista.

Lula tem a espantosa destreza de nos dar a impressão de que "tudo vai bem", de que qualquer critica é contra ele ou o Brasil.

Como disse Jarbas em sua entrevista, o governo do PT "deixou a ética de lado e não fez reformas essenciais, nem nada para a infraestrutura, e o PAC não passa de um amontoado de projetos velhos reunidos em pacote eleitoreiro" (...), e o Bolsa Família, que é o maior programa oficial de compra de votos do mundo, não tem compromisso algum com a educação ou com a formação de quadros para o trabalho".

A única revolução que deveria ser feita no Brasil seria o enxugamento de um Estado que come a nação, com gastos crescentes, inchado de privilégios, um Estado que só tem para investir 0,9% do PIB. A tentativa de modernização que FH tentou foi renegada pelo governo do PT. Lula fortaleceu o patrimonialismo das velhas oligarquias, e o PAC é uma reforma cosmética, como a plástica da Dilma, que ele quer eleger para voltar depois, em 2014. O único projeto do governo é o próprio Lula. Em cima dos 84% de aprovação popular, nada o comove. Só se comove consigo mesmo.

Lula se apropriou de nossa tradicional "cordialidade" corrupta para esvaziar resistências. Assim, ele revitalizou o PMDB - o partido que vai decidir nosso futuro! Hoje, não temos nem governo nem oposição - apenas um teatro em que protagonistas e figurantes são o PMDB.

E no meio disso tudo: o Lula, um messias sem programa, messias de si mesmo.

Oitenta e quatro por cento do povo apoia um governo que acha progressista e renovador, quando na verdade é ultraconservador e regressista.

Nem o PT ele poupou para "conservar" a si mesmo. O PMDB é sua tropa de choque, seu "talibã" molenga e malandro.

Agora...tentem explicar este quadro que Jarbas sintetiza com a clara luz de sua entrevista para um pobre homem analfabeto que descola 150 reais por mês do Bolsa Família...

Vivemos um grande autoengano.

Fumaça branca na chaminé do PT

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO

Lula e o PT têm Plano A, Plano B e Plano C para a sucessão de 2010. O primeiro é público e notório e já não provoca divergência significativa no partido: Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil e "Mãe do PAC". O segundo é Aécio Neves, governador tucano de Minas Gerais, cada vez mais uma carta fora do baralho do PSDB. O Plano C - mas só na hipótese de os dois primeiros falharem - é a prorrogação ou a instituição do terceiro mandato presidencial.

O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel cumpre tarefa ao dizer que não existe um Plano B a Dilma. É natural que o faça. O Plano A de Lula - que o PT assumiu integralmente -- já foi posto em movimento. Começou quando Lula disse ao PT que era Dilma e o PT, na última reunião do Diretório Nacional, descascou a cebola sem chorar, camada por camada.

"É Dilma ou não é Dilma"? Até agora a ministra era uma indicação bancada apenas pelo presidente. Resposta dos petistas: "É Dilma". O PT assumiu a candidatura da ministra e logo vai receber a indicação de Lula para ela ser a candidata.

O PT então vai responder que o presidente da República é quem tem mais condições para dizer quem é melhor para sucedê-lo, dentre aqueles que integram sua equipe de governo, e em seguida homologa a indicação de Lula . Este é o ritual programado. Quando vai acontecer?

A ideia era fazer a indicação no ano que vem. Mas o Diretório Nacional concluiu que os fatos se precipitaram rapidamente. Todas as movimentações de José Serra, o provável candidato tucano, dizem respeito à sua sucessão, na visão do PT (o PSDB vê exatamente a mesma coisa em relação a Lula e Dilma) e o governo e o partido vão começar a mexer nisso também. Assim sendo, a formalização da candidatura da Dilma será feita o mais rapidamente possível.

O que é que se pode entender com o mais rapidamente possível, afinal, já que havia no Palácio quem disse que o nome da ministra seria anunciado no segundo semestre de 2008? Pelo roteiro traçado no Diretório Nacional é depois de ela concluir um "circuito de agendas" em diversos Estados, juntando os movimentos sociais do campo e da cidade, mais o PT e a base de sustentação política do governo no Congresso. Depois desse périplo, o PT formaliza a candidatura.

Trata-se de uma agenda importante, pois não se destina apenas a fazer Dilma mais conhecida do eleitorado, algo que os marqueteiros acham fácil de fazer no mundo conectado em rede dos dias de hoje. O que há por trás da ideia é que Dilma seja não só a favorita do presidente Lula, mas também a candidata dos movimentos sociais, do PT e dos aliados nos quais se assentaram as bases do atual governo.

Sem densidade política, não bastará à ministra se tornar conhecida. Mas como fazer isso (literalmente, uma campanha antecipada), se Dilma é ministra de Estado, gerente do PAC e agora a ministra encarregada de evitar que a crise econômica mundial ataque o Programa de Aceleração do Crescimento, ainda hoje o carro-chefe da campanha da ministra. Há aspectos legais que limitam os movimentos de ação de Dilma como pré-candidata (só uma convenção do PT, em junho de 2010, oficializará a candidatura).

A proposta é que segunda, terça, quarta, quinta e sexta-feira ela se dedique à agenda de governo. E de sexta à noite até domingo à noite faça o "circuito de agendas." Assim como fez no último fim de semana, quando participou de um jantar na casa da ex-prefeita Marta Suplicy, em São Paulo. Apesar de todo o cuidado que ela tomou ao tratar do assunto, ficou claro que Dilma quer ser candidata e no PT já não há oposição - a não ser residual - a seu nome. Na realidade, saiu fumaça branca da chaminé do PT.

As principais personalidades do PT estiveram presentes, fizeram discursos. Dilma muito habilmente não se colocou como candidata. Disse que isso vai seguir o calendário do partido, que para ela já basta a honraria de ter sido indicada pelo presidente Lula. Realista, destacou que sua candidatura dependeria da conjuntura, da base aliada - "dos astros", brincou um companheiro afinado com o projeto.

O resto dos convivas fez discurso "já de beija-mãos", contou um dos presentes: "É você mesmo, nós estamos aqui para ajudar, queremos fazer, o presidente falou". Dilma, modestamente, voltou a insistir que para ela já bastaria a glória de ter sido indicada por Lula. Mas que ela sabe bem o que é que é ser candidata do PT, que quer respeitar o cronograma do partido, a base aliada, os movimentos sociais, que o que a preocupa no momento é por o PAC pra frente.

Jura-se no PT que não existe uma meta a ser cumprida por Dilma em determinado prazo. Por exemplo: 25% das pesquisas de opinião, até o final deste ano.

Isso seria "chute de campanhólogo" Os problemas reais seriam a candidatura não decolar, a crise externa, uma eventual paralisação do PAC ou até uma crise do tipo " mensalão". que, evidentemente, ninguém espera no partido que aconteça, mas, diante dos antecedentes... Só então o governo recorreria aos dois outros planos na gaveta.

O Plano B prevê a filiação de Aécio Neves ao PMDB até setembro. A insistência do governador mineiro na realização de prévias para a escolha do candidato do PSDB às eleições de 2010 seria o pretexto para o rompimento do tucano, uma vez que o partido definitivamente não parece disposto a fazer uma eleição primária e está cada vez mais sob o controle de José Serra, governador de São Paulo.

A última saída é a prorrogação com a aprovação do terceiro mandato. Assunto que vai ser discutido na comissão que tratata do fim da reeleição e da aprovação do mandato de cinco anos, posta em movimento no final do ano passado pelo fiel escudeiro João Paulo Cunha, (PT-SP). Em resumo, se uma alternativa não der certo, haverá outra sempre à mão.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Partido controlará R$151 bilhões em 2009

Cristiane Jungblut
DEU EM O GLOBO


Sigla comanda Legislativo, seis ministérios e estatais do setor de energia e comunicações

BRASÍLIA. Com seis ministros no governo Lula e mais as presidências da Câmara e do Senado, o PMDB administra um orçamento de R$151 bilhões, segundo a lei orçamentária de 2009 aprovada pelo Congresso. Só o ministério da Saúde, com o ministro José Gomes Temporão à frente, tem o maior orçamento da Esplanada, R$59,52 bilhões. O partido controla ainda o Ministério da Defesa, com Nelson Jobim, que teve sua verba aumentada no governo Lula ano após ano e em 2009 chegou a R$51,38 bilhões. O Ministério de Minas e Energia, com o senador Edison Lobão (MA), controla R$7,1 bilhões, sem contar os recursos das cobiçadas estatais do sistema elétrico, também sob influência do partido.

O ministro Geddel Vieira Lima (BA), que patrocinou a adesão do PMDB da Câmara ao governo Lula, administra um orçamento de R$12,96 bilhões (incluindo os fundos constitucionais) no Ministério da Integração Nacional, que tem entre suas principais atribuições a revitalização e transposição do Rio São Francisco.

No Congresso, o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), vai administrar uma verba de R$3,5 bilhões, enquanto o senador José Sarney (AP) tem um orçamento de R$2,7 bilhões. No latifúndio do PMDB, há ainda os ministérios das Comunicações, do senador Hélio Costa (MG), com R$6,27 bilhões, e da Agricultura, com Reinhold Stephanes, com R$7,64 bilhões. Para o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), o espaço da sigla no governo é compatível com sua condição de maior partido do país:

- O PMDB tem um espaço importante no governo, porque corresponde ao seu tamanho e qualidade, e vamos continuar assim até 2010.

O poder do PMDB também é forte nas estatais, onde os recursos para investimentos são vultosos e são separados do orçamento dos ministérios. O grupo Eletrobrás tem no orçamento global de investimentos R$7,2 bilhões. Seu presidente, José Antonio Muniz Lopes, foi indicado por Sarney. Somente a Eletronorte, que integra o Grupo Eletrobrás, presidida por Lívio Assis - nomeado com as bênçãos de Sarney e do deputado Jader Barbalho (PA) - tem verba de R$600 milhões para investir em 2009. Já Furnas, cujo presidente, Carlos Nadalutti Filho, foi indicado por Hélio Costa, investirá R$1,6 bilhão.

No sistema Petrobras, o PMDB indicou vários diretores e controla diretamente a Transpetro, com Sérgio Machado, indicado pelo líder, senador Renan Calheiros (AL). Para investimentos em 2009, a Transpetro tem R$807,7 milhões. Nas Comunicações, os Correios tem orçamento de investimentos de R$770 milhões. Já a Infraero, ligada à Defesa, tem verba de R$1 bilhão para investimentos. Além de seis ministérios e do Legislativo, o PMDB tem seis governadores, o maior número de prefeituras e a presidência de várias assembleias legislativas nos estados.

No Executivo, o espaço do PMDB é equivalente, em termos de orçamento, ao do partido do presidente Lula, sem considerar o Ministério da Previdência, com R$239,9 bilhões.

'Não retiro uma vírgula do que disse'

Adriana Vasconcelos, Maria Lima e Gerson Camarotti
DEU EM O GLOBO


Em nota, PMDB classifica de desabafo ataques de Jarbas ao partido e tenta isolá-lo

Osenador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) aumentou ontem seu isolamento no PMDB ao reiterar o que já havia dito à revista "Veja": o partido que ajudou a fundar há 43 anos se especializou em corrupção. Ele se recusou, porém, a citar casos específicos ou apresentar provas. Com uma nota, na qual minimizou os ataques, a cúpula peemedebista deu continuidade à estratégia de deixar o pernambucano falando sozinho. Pedro Simon (PMDB-RS) foi o único colega de bancada que ousou concordar, mesmo assim só em parte, com as declarações de Jarbas, a quem classificou como uma das pessoas mais complicadas que conheceu.

Não está nos planos do partido expulsar o senador, o que facilitaria seu ingresso em outra legenda sem risco de perder o mandato por infidelidade partidária. Mesmo admitindo o desconforto, Jarbas disse que não pretende deixar o PMDB e duvidou que a cúpula tenha coragem de expulsá-lo. Sua expectativa, agora, é que a sociedade pressione o Congresso a mudar a prática fisiológica adotada pelo PMDB:

- Abri um debate que sei que é polêmico. Não retiro uma vírgula do que disse. Mas não sou eu que vou comandar esse processo. Não quero citar casos específicos. Dei o pontapé inicial, e agora espero que haja pressão de fora para dentro para mudar essa prática fisiológica.

Segundo Jarbas, essa prática piorou:

- Não é de hoje que o PMDB tem sido corrupto. Mas o Lula tem sido conivente com a corrupção. Não foi o Lula e o PT que inventaram a corrupção, mas essa tem sido a marca do governo dele, a marca do toma-lá-dá-cá.

Simon disse que poderia concordar com grande parte do que Jarbas disse, mas ressaltou:

- O comando do partido não tem grandeza, só pensa em si, em carguinhos. Mas não dá para dizer que é só o PMDB. Até porque o PMDB nunca chegou ao governo. Tem escândalo maior no país que a privatização da Vale? Que a compra de votos para a reeleição? E quanto ao PT? Não há ninguém mais parecido com o PSDB no governo que o PT. A situação como um todo é de anormalidade.

Pelo PMDB, além da nota que tratou a entrevista de Jarbas como "desabafo", falou o presidente do partido e da Câmara, Michel Temer (SP):

- Repudiamos a afirmação de que o PMDB é corrupto. Não queremos dar relevo a algo que não tem especificidade. Não há intenção de apenar o senador. O que não queremos é dar relevância a isso.

Sem querer comentar os ataques de Jarbas, que classificou sua eleição para a presidência do Senado como retrocesso, José Sarney (AP) foi lacônico:

- Não vou diminuir o debate.

Pedro Simon disse discordar de Jarbas sobre o apoio à candidatura do governador tucano José Serra à Presidência. Ele defende candidatura própria.

- Na última vez que embarcamos nessa história de candidatura própria, o (ex-governador Anthony) Garotinho quase foi candidato - retrucou Jarbas.

A estratégia do PMDB é isolar Jarbas, para que ele tome a iniciativa de deixar a sigla. Outra alegação da cúpula é que Jarbas estaria enfraquecido em Pernambuco e tenta recuperar espaço:

- A situação de Jarbas é difícil em Pernambuco, principalmente depois do fiasco do seu grupo nas eleições municipais. O partido não vai dar palco para ampliar o teatro de Jarbas. Se ele está com desconforto em relação ao PMDB, pode sair. Afinal, depois de dizer tudo aquilo, não tem sentido ele ficar - disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), chamou de desrespeitosas as declarações.

- Generalizar é uma desconsideração. Eu não sou corrupto; o senador Pedro Simon não é corrupto; o governador (do Espírito Santo) Paulo Hartung não é corrupto; o governador (do Paraná) Roberto Requião não é corrupto; o governador (do Tocantins) Marcelo Miranda não é corrupto; o governador (de Santa Catarina) Luiz Henrique não é corrupto. Essa generalização é desrespeitosa com uma legenda que ele mesmo (Jarbas) ajudou a construir - rebateu Cabral, que disse, porém, não ter lido a entrevista.

Metade da bancada foi parar no STF

Felipe Recondo
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Dez dos 19 senadores do PMDB, incluindo líder do governo e da sigla, respondem a processo ou são investigados

Levantamento na base de dados do Supremo Tribunal Federal (STF) mostra que 10 dos 19 correligionários de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) no Senado respondem a processo ou são investigados. No total, a bancada do PMDB contabiliza 13 inquéritos, 4 ações penais e 5 investigações. Em entrevista à Veja, Jarbas disse que no PMDB "boa parte quer mesmo é corrupção".

Um dos casos mais adiantados no STF envolve Valdir Raupp (PMDB-RO), ex-líder do partido no Senado. Ele foi denunciado pelo Ministério Público acusado de usar dinheiro obtido de empréstimo do Banco Mundial, quando era governador de Rondônia, para finalidades distintas das previstas em contrato.

Até o momento, seis ministros votaram a favor de ação penal no STF. Apenas um votou por arquivar o caso.

Se aceita a denúncia, será a terceira ação penal a que Raupp terá de responder no STF. O senador afirma estar tranquilo em relação ao julgamento, disse ser inocente e garante que aplicou corretamente os recursos.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), livrou-se recentemente do inquérito mais problemático que corria contra ele no STF graças à morosidade da Justiça. Era acusado de utilizar fazendas inexistentes para obter empréstimo do Banco do Amazonas.

O inquérito foi arquivado porque os crimes prescreveram. No STF, Jucá responde a mais dois inquéritos. De acordo com o líder, os processos são de "cunho político-eleitoral" e fazem parte do jogo político e das disputas com adversários.

RENAN

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), é alvo de inquérito em que o Ministério Público apura se ele teve despesas pessoais pagas por uma empreiteira e se apresentou notas fiscais falsas para comprovar a venda de bois. A denúncia o levou a renunciar à presidência do Senado, em 2007.

Pela assessoria de imprensa, Renan afirmou ter ele mesmo pedido ao procurador-geral, Antonio Fernando de Souza, a abertura da investigação.

Outro que responde a processos no STF é Wellington Salgado (PMDB-MG), um dos mais engajados na eleição de José Sarney (PMDB-AP) para presidente do Senado. Em dois inquéritos e duas petições, é investigado porque teria sonegado impostos na Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura.

Salgado não foi encontrado para comentar os casos, mas já disse em outras ocasiões que a dívida foi gerada por atraso em duas cotas do Parcelamento Especial (Paes), de refinanciamento de dívidas tributárias. Ainda têm pendências no STF Garibaldi Alves Filho (RN), Leomar Quintanilha (TO), Edison Lobão Filho (MA), Mão Santa (PI), Neuto de Conto (SC) e Gilvan Borges (AP).

Senador acusa Lula de ser conivente com corrupção

Ana Paula Scinocca e Cida Fontes
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ele mantém ataques ao partido, vê ?descaminho? nos últimos dez anos, mas se recusa a citar qualquer nome

Depois de atacar o PMDB, o senador peemedebista Jarbas Vasconcelos (PE) mirou o Planalto. Ontem, acusou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser conivente com a corrupção, que, segundo ele, está impregnada em todos os partidos, "sobretudo no PMDB". "Não é de hoje que o PMDB tem sido corrupto. Mas o Lula tem sido conivente com a corrupção. Lula e o PT não inventaram a corrupção, mas ela tem sido a marca do governo dele. É o governo do toma-lá-dá-cá", acusou.

Ao reforçar os ataques a seu partido, Jarbas afirmou que a corrupção aumentou no PMDB na última década. "O descaminho é de dez anos para cá. O que tem motivado o gigantismo do PMDB é o fisiologismo."

Jarbas falou, também, da reação dos peemedebistas. "A única pessoa do PMDB que me ligou foi o Quércia, com quem tenho uma boa relação. Ele apenas classificou como dura minhas críticas a Sarney, mas subscreveu o resto", disse.

Apesar de insistir nas denúncias, ele se recusou a apontar os peemedebistas que praticam irregularidades. "Todo mundo sabe da corrupção do PMDB. Estou combatendo práticas, não vou ficar puxando listas. Seria muito volumoso. Para que isso seja investigado, deve haver uma pressão. Não sou eu quem vai comandar esse processo, eu apenas abri o debate dando o pontapé inicial", disse.

Em seguida, indicou ter mais munição. "Não quero citar ninguém por enquanto. Eu tenho de ter o mínimo de estratégia. Quem entra num processo desse, como eu entrei, não entra de modo inocente."

Apesar das reações internas no PMDB, Jarbas duvida que vá sofrer punição rígida do partido. "Não acredito em expulsão. Pode ser que tenha um processo, mas as pessoas (corruptas) têm perfil conhecido. Não retiro nada do que disse, quem quiser processar, procure o conselho de ética do partido."

PROVOCAÇÃO

O senador negou que tenha reforçado as críticas contra o partido para provocar a sua expulsão, apesar de admitir que a posição dentro do PMDB é de "alto desconforto". "Isso é ridículo. Não vou sair do PMDB. Só admito sair se for pela via da reforma política", prosseguiu.

Na mesma linha, Jarbas procurou desvincular a sua atitude com a eventual candidatura como vice-presidente na chapa do tucano José Serra (SP), governador de São Paulo, na eleição para o Planalto em 2010. "Meu candidato é Serra, mas não quero ser vice. Não tenho condições, mesmo porque não vou sair do PMDB", insistiu.

Jarbas não acredita que o PMDB vá lançar candidato próprio à sucessão de Lula. "O PMDB é uma confederação de interesses regionais. Não tem uma liderança nacional para disputar, não tem um líder para empolgar o partido."

Acusado de corrupção por Jarbas, PMDB vê só ""desabafo""

Ana Paula Scinocca, Cida Fontes, Denise Madueño e Luciana Nunes Leal
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Executiva decide abafar repercussão do caso, alegando ""generalidade das alegações"" sobre legenda


Silêncio e a divulgação de uma nota que trata como mero "desabafo" as acusações feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Essa foi a receita da cúpula do PMDB, acusada de corrupta e fisiológica pelo parlamentar pernambucano, para abafar a crise dentro do partido.

Principais alvos de Jarbas, o presidente do Senado, José Sarney (AP), e o líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AP), avisaram ontem logo cedo que não comentariam o assunto.

A única manifestação veio da Executiva Nacional do PMDB, em nota de apenas oito linhas. Nela, o partido declara que "não dará maior atenção" às declarações do senador, dadas em entrevista à revista Veja desta semana, por causa da "generalidade das alegações". A direção nacional preferiu qualificar como mero "desabafo" as afirmações do peemedebista.

Apesar da revolta de alguns deputados com as declarações do senador - de que a maioria do PMDB "quer mesmo é corrupção" -, o presidente do partido e da Câmara, Michel Temer (SP), decidiu abafar o assunto para evitar mais desgaste. Na nota e mais tarde em entrevista, Temer disse que as alegações são genéricas e o partido não dará maior atenção ao fato.

"Repudiamos a afirmação de que o PMDB é corrupto", afirmou. No entanto, já avisou que não haverá punição para Jarbas e só examinará a hipótese se houver representação. "Não queremos dar relevo a algo que não tem especificidade."

A primeira reação do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ligados a Temer, foi sugerir que o senador deixasse o PMDB. Ontem, porém, eles entraram na operação para sufocar a discussão. A expectativa era de que o caso esfriaria nesta semana, anterior ao carnaval.

DISSIDENTE

Não é de hoje que Jarbas tem assumido uma posição dissidente no partido. Desde que chegou ao Senado, em 2007, tem ocupado a tribuna para criticar o governo e o comportamento fisiológico do PMDB. A relação de Jarbas com a cúpula do partido, no entanto, se desgastou mais fortemente com a eleição de Sarney para o comando do Senado e de Renan para a liderança do partido.

Ao decidir ignorar Jarbas, reforçando seu isolamento no partido, a cúpula do PMDB deu sinal verde aos parlamentares de menor expressão, do chamado baixo clero, para que rebatessem as críticas do pernambucano. Ao mesmo tempo, porém, mandou ordens para que o tema da corrupção fosse tratado como algo latente a todos os partidos, tirando assim o foco do PMDB. A nota do partido também faz essa ressalva.

Um dos poucos peemedebistas que resolveram falar sobre o tema ontem foi o senador e também dissidente Pedro Simon (RS). "O comando do PMDB não tem grandeza, só pensa no seu próprio interesse. Só pensa em carguinhos, em ministério", afirmou o parlamentar, acrescentando que uma sigla que muda de lado, apenas de olho no poder, não é um partido.

Na avaliação do senador gaúcho, o comando do PMDB não vai comprar briga com Jarbas. "Para expulsar Jarbas, teriam de chamar a comissão de ética, o que destruiria o PMDB." Ele também duvida que o próprio senador, apesar de desconfortável e isolado na sigla, resolva deixar o PMDB. "Sair para quê? Para o Sarney e o Lobão ficarem?"

ÍNTEGRA DA NOTA

"Em face da entrevista do senador Jarbas Vasconcelos, a Comissão Executiva Nacional do PMDB declara que não dará maior atenção a ela em razão da generalidade das alegações. Não aponta nenhum fato concreto que fundamente suas declarações. Ademais, lança a pecha de corrupção a todo sistema partidário quando diz ?a corrupção está impregnada em todos os partidos?. Trata-se de um desabafo ao qual a Executiva Nacional do Partido não dará maior relevo."

Bazar mundial às moscas

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Queda abrupta do comércio mundial derruba Japão e pode criar nova onda de deterioração de empresas

ATÉ A METADE de fevereiro, o valor das exportações brasileiras foi 22% menor que o do primeiro mês e meio do ano passado. As importações caíram 14%.

No Japão superexportador de manufaturados, a queda das vendas externas nos primeiros 20 dias de janeiro foi de 46%, também em relação a 2008. Em dezembro, as vendas de produtos japoneses para o exterior já haviam levado um tombo inédito de 35%. O massacre da serra elétrica do PIB japonês do trimestre final de 2008, queda de 3,3% ante o trimestre anterior, deveu-se em grande parte ao desastre comercial.

Nos principais portos do Atlântico, os custos do frete de grãos caíram algo em torno de 60% a 70% em relação a fevereiro de 2008.

Dados comerciais de um mês e pouco dizem também pouco, é preciso lembrar. Mas quedas tão abruptas são inusuais. Diga-se também que o Brasil não depende necessariamente do comércio exterior para sustentar seu crescimento. Ou melhor, ao menos não depende da mesma maneira como o Japão. Para nós, mais crítico que o choque direto na produção é a escassez de dólares que um déficit comercial grande pode causar. Mas um outro aspecto relevante dos números acabrunhadores do comércio não é apenas o impacto dessa baixa na produção exportável do país. O encolhimento vertiginoso do mercado mundial, com as decorrentes baixas de preços, é obviamente um mau sinal para o investimento, doméstico e internacional.

O investimento estrangeiro na produção não é apenas uma fonte importante de aumento do capital no Brasil -é também uma fonte de dólares para balancear as contas externas do país. Até dezembro, a conta do investimento estrangeiro direto andava felizmente muito bem. Mas, a princípio, ou pelo menos por enquanto, déficits externos também não parecem ameaça imediata e direta à economia brasileira, a não ser no caso de o país crescer demasiadamente neste ano, em descompasso excessivo com o resto do mundo.

Mas, além do risco de protecionismo, que provocaria baixas ainda maiores no comércio mundial, a baixa abrupta nas vendas dos grandes países exportadores parece em linha com as piores previsões para o PIB das maiores economias do planeta.

Alguns calculistas e analistas da economia chinesa dizem que a queda de 17,5% nas exportações chinesas de janeiro, a maior em 13 anos, não foi tão grave se considerado o "efeito calendário" (as festas do Ano-Novo chinês). Pode ser. Porém os cálculos são díspares, e os chineses também estão importando menos componentes e insumos (pode ser expectativa de exportações ainda menores). De resto, o comércio "doméstico" asiático, entre os países da região, vem caindo desde outubro. Enfim, os demais grandes exportadores, como Japão, Alemanha e Estados Unidos, não passaram a vender menos porque estavam a soltar fogos para a virada do ano chinês.

Comércio menor implica menos investimentos, o que resulta em menos gastos de capital, o que pode detonar a saúde das empresas. Por ora, as piores notícias aparecem em fábricas de bens de consumo, como carros. Mas a baixa abrupta do comércio pode criar uma nova onda de deterioração "corporativa", como se diz hoje em dia.

Plano N

Panorama Econômico :: Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO

O nome do Plano é N. De Nacionalização, ou, para falar no nosso jeito, estatização de bancos. Americanos, bem entendido, porque os nossos vão bem. O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga acha que se pode, por ideologia, descartar a possibilidade de se estatizar alguns bancos. A ideia é defendida por economistas notórios, como Paul Krugman e Nouriel Roubini.

- Sinto um viés ideológico na discussão, como se essa ideia tivesse que ser descartada, porque os bancos têm que ser geridos pelo setor privado. Ora, há um consenso em qualquer país, inclusive aqui, que não se deve nacionalizar o sistema, mas, se lá algumas instituições estão obviamente com problemas, o Estado deve assumir temporariamente, como já aconteceu em outros momentos, em outros países - diz Armínio Fraga.

- Ele acha que dificilmente o sistema seria todo estatizado, mas explica que o "teste de estresse" que está previsto no plano do secretário do Tesouro, Timothy Geithner, é exatamente uma avaliação da situação do banco, para ver se ele é viável sem a capitalização do governo.

- Esse teste não é simples de fazer. O mercado é complexo, pouco transparente e com inúmeros ativos ilíquidos, mas esse tipo de intervenção, para preservar o fluxo do dinheiro e do crédito, tem que ser decidido de forma mais objetiva e menos ideológica. Tem que ser feita uma seleção natural: quem é bom é premiado, quem é ruim é punido - conta Armínio.

- Não parece tão simples, já que todos se mostram bem incapazes de viver sem a ajuda governamental, e o socorro está mais para prêmio do que para punição, ponderei.

-Ele explicou que para que não seja um prêmio, nos bancos que estiverem mal administrados, os acionistas deverão perder suas ações.

- Aqui no Brasil houve muito debate político, o governo, na época do Proer, perdeu a batalha da comunicação e foi acusado de dar dinheiro aos bancos. Na verdade, os acionistas perderam ações e tiveram seus bens indisponíveis. Nos Estados Unidos, mesmo com o capital pulverizado, os acionistas também são donos, os administradores também são acionistas, e não são pequenos não. Quem poderá dizer que a maioria dos bancos americanos foi bem tocada? É preciso fazer uma clara fiscalização bancária, uma triagem como sugeriu Geithner, para se saber quem deve enfrentar um processo de nacionalização - diz o ex-presidente do Banco Central.

-Para Armínio, é preciso acabar também com a "paranoia" de que se for um administrador nomeado pelo setor público ele fará "besteiras" nesta gestão.

- Hoje, isso é verdade aqui também, já existe um sistema de fiscalização que impede que num banco público se faça grande barbaridade, dessas que aconteciam antigamente e que só se sabia cinco anos depois, quando ninguém mais era o responsável.

Armínio está convencido de que não há muito como fugir da nacionalização e acha que, quando for feita, será temporária e vai seguir o padrão que já ocorreu em outros casos, inclusive no Brasil.

- Deixar de fazer o que precisa ser feito por ideologia é tolice. Contrate uma boa equipe, administre bem o banco, separe o banco bom e venda - sugere.

Ele não acredita que esta semana o governo detalhe o plano financeiro que na semana passada foi mal recebido pela ausência desses detalhes. Armínio acha que ainda vai demorar, porque as questões envolvidas são muito complexas. O Fundo Público Privado seria uma espécie de comprador de última instância dos títulos podres que estão nos bancos. Para o ex-presidente do Banco Central brasileiro, a ideia é ter um mecanismo que atraia o capital privado. Mas se atrair demais muito provavelmente é porque o governo está incentivando mais que o necessário, e isso pode incentivar o setor privado a tomar muito risco porque o governo está bancando.

Eles estão pensando nisso há seis meses. Não é simples. Se o governo comprar diretamente (os ativos tóxicos) vai ser muito perigoso. Fazer um leilão é difícil, porque os produtos são muito heterogêneos.

- Nesta semana, o governo americano vai também sancionar o pacote de estímulo econômico, mas a impressão que Armínio diz que tem colhido é de que a maior parte do pacote será sentida só em 2010. Apenas 25% a 30% do impacto do estímulo terão efeito neste ano.

- Seria interessante também que a equipe do novo governo americano desse mais sinais de política econômica, que tratasse da questão fiscal de longo prazo. Aliás, seria bom que o Brasil também fizesse isso aqui.

- Os problemas na economia americana se acumulam, e ontem o governo anunciou que Timothy Geithner - o mesmo que tem ainda que dar vida ao plano de resgate financeiro - vai ser o responsável por acompanhar a reestruturação do setor automobilístico.

- As fábricas de automóveis tentam evitar o "Chapter 11" (a concordata) porque, apesar de haver uma possibilidade de recuperação, eles dizem que ninguém compra carro de indústria que está nesta situação. O risco é ficar como a Varig, que vai negociando, negociando, até desaparecer e ficar só o nome - diz Armínio.

- Com tantos problemas, o presidente Barack Obama está consumindo rapidamente seu capital político, observa Armínio. De qualquer maneira, o que ele acha é que o governo americano não deve deixar de fazer o que precisa ser feito por alguma barreira ideológica, como, por exemplo, nacionalizar os bancos que estão travando o sistema.

É quase carnaval

ENERGIA (FREVO)
Por Lenin


Clique no link, abaixo, e vejam o frevo Energia.

http://www.youtube.com/watch?v=6FyRZopk7EQ

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1242&portal=