quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Reflexão do dia - Luiz Weneck Vianna

"A crise de 2008 serviu-lhe como um duro teste, quando ficou comprovada a sua solidez. Do êxito da sua estratégia de defesa face à crise, resultaram tanto a sua consolidação no plano interno quanto oportunidades para se projetar no mundo exterior. O capitalismo brasileiro vive uma circunstância que o conduz a um desbordamento para além dos limites nacionais. Mais do que burguesa, essa já é uma ordem grão-burguesa, não apenas escorada pela força expansiva do seu mercado, mas, a essa altura, também levada à frente por uma estratégia de Estado consciente dos seus objetivos econômicos e políticos de maximização de poder, em estreita articulação com o grande empresariado."


(Luiz Werneck Vianna, no 33º Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu/MG de 26 à 30/10/2009)

Guerra chama ministra de arrogante

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO(PE)

BRASÍLIA – O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), reagiu ontem às declarações da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) de que a oposição está “nervosa” diante do volume de realizações do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Guerra chamou Dilma de “arrogante”, acrescentando que a sua candidatura ao Palácio do Planalto “não anda” – motivo que teria levado a ministra a disparar ataques à oposição. “O problema da ministra é tentar mostrar que ela existe, por isso que ela (candidatura) não anda. Ainda bem, porque ela é arrogante, autoritária e sem votos. Imagina se ela os tivesse”, reagiu Guerra.

De acordo com o tucano, a ministra vem adotando posturas orientadas pelos marqueteiros de sua campanha à Presidência da República com o objetivo de torná-la conhecida da população brasileira. “Estamos tendo imensa dificuldade de polemizar com a ministra porque, até agora, não conhecemos nenhum ponto de vista dela. A ministra tem cumprido a tabela dos seus marqueteiros”, afirmou.

Também ontem, em entrevista ao Blog de Fernando Rodrigues, o senador falou sobre os pré-candidatos tucanos à Presidência da República, os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG). De acordo com Guerra, o governador mineiro teria maior facilidade em conquistar o apoio de líderes políticos na disputa presidencial. “Aécio tem a maior aprovação de um governador no País. Ele é mais amplo politicamente que o governador José Serra”, disse.

Sobre o governador paulista, afirmou que Serra tem a seu favor o fato de ser mais conhecido, “e essa não é uma vantagem pequena”. “Tem a vantagem de ter a preferência de votos de uma grande parcela do eleitorado e faz um governo excelente em São Paulo, que é um grande colégio eleitoral.” Ainda assim, disse Guerra, Aécio teria maior facilidade para ampliar as alianças do PSDB no processo eleitoral. Ainda de acordo com o presidente tucano, a chance de o partido ter uma chapa “puro-sangue”, numa escala de 0 a 10, é de 3.

Merval Pereira:: Jogo jogado

DEU EM O GLOBO

É um bom sintoma do amadurecimento da nossa democracia que não tenha tido a menor repercussão o comentário do presidente Lula sobre a possibilidade de ter um terceiro mandato na Presidência. Como quem não quer nada, Lula tirou do bolso do colete o tema do continuísmo com tal naturalidade que era como se fosse um assunto sobre o qual ele e o vice José Alencar conversam com frequência. A tal ponto Lula foi indiscreto que Alencar passou as mãos pela face, sorrindo, como se estivesse constrangido com a exposição em público dos desejos mais recônditos dos dois ou, quem sabe, nervoso pela revelação que não deveria ser feita.

Mas é sabido que Lula é um hábil manipulador da política, que não faz nada sem um objetivo, não prega prego sem estopa. Ele não faria um comentário daqueles simplesmente por ser um boquirroto.

"Poderia ser mais se o pessoal quisesse, não é, Zé, mas o pessoal não quer", lamentou-se um bem-humorado Lula, para depois adicionar mais tempero à sua fala: "Ficam discutindo o negócio aí de encurtar os mandatos, nós dois até que aguentaríamos mais uns cinco anos de batente, de batalha. Mas, como democratas, nós estamos quietinhos, vamos esperar o jogo ser jogado".

Foi a primeira vez que Lula admitiu que gostaria de permanecer no governo por mais um período. E, mais grave ainda, deixou no ar a possibilidade de que as regras do jogo ainda possam ser mudadas. Se não, qual seria o sentido de dizer que está "quietinho" esperando "que o jogo seja jogado"?

A que jogo ele se refere, às negociações sobre a redução do mandato presidencial para cinco anos? Esse é um assunto sempre levantado pelos tucanos, numa tentativa de compor melhor a base de sustentação da candidatura à Presidência da República.

Por essa tese, o governador de São Paulo se comprometeria a apoiar a mudança da regra eleitoral que permite a reeleição, com objetivo de garantir o apoio do governador de Minas, Aécio Neves. Com um mandato de cinco anos, sem direito à reeleição, o governador mineiro aceitaria, quem sabe, até ser o vice de Serra na eleição de 2010.

Houve um início informal de negociação, lá pela altura de 2007, entre PT e PSDB, onde esse tema foi colocado com todas as letras. Havia até mesmo a hipótese de prorrogação por um ano do mandato do presidente Lula, para que cumprisse os cinco anos de mandato, que valeriam para o seu sucessor.

Nesse caso, a prorrogação atingiria também os governadores e prefeitos em todo o país, mas a rejeição da opinião pública seria grande.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi quem abortou, dentro do PSDB, essa ideia, não apenas porque considera que o sistema de reeleição ainda precisa ser mais testado, mas porque temia que a mudança da regra eleitoral poderia dar a Lula um pretexto para tentar concorrer a um terceiro mandato consecutivo.

Com o fim da reeleição, e com um mandato de cinco anos, haverá sempre uma interpretação legal, advertia o ex-presidente, de que as mudanças eleitorais zeravam o jogo, que poderia ser jogado a partir daí até mesmo por Lula novamente.

Não ficou claro se Lula se referia a essa possibilidade quando disse que iria esperar que o jogo fosse jogado, e sempre será possível ao presidente refrasear seus pensamentos, tirando-lhes a carga de imprevisibilidade que, propositalmente ou não, deixou no ar.

Mas qualquer cidadão comprometido com as normas democráticas sabe que não há nada o que esperar, o jogo já está jogado e as regras já estão estabelecidas.

Se anteriormente, quando o prazo legal permitia que fossem feitas modificações na legislação eleitoral, não houve clima na opinião pública para que o debate sobre o terceiro mandato consecutivo prosperasse, agora a violência seria muito maior.

Estamos a menos de um ano da realização das eleições gerais de 2010 para presidente, governadores, deputados federais e estaduais e dois terços do Senado. Já não há o prazo legal para alterações, e tentar reduzir esse prazo com ele já vencido seria muito acintoso.

Já houve mesmo, na eleição de 2006, a tentativa de reduzir esse prazo para seis meses antes da eleição, e a iniciativa não prosperou porque não encontrou respaldo popular.

O presidente Lula passou o tempo inteiro negando que tivesse interesse em disputar um terceiro mandato consecutivo, embora se soubesse que, nos bastidores, não vetava iniciativas de deputados petistas muito ligados a ele, como foi o caso de Devanir Ribeiro, o mais notório dos defensores de um terceiro mandato.

Ao contrário do que recomenda a prudência política, Lula ainda nem terminara o primeiro ano deste seu segundo mandato e já estimulava o debate sucessório, mantendo a expectativa de poder em torno de si com mensagens contraditórias quanto a um eventual terceiro mandato seguido, ora negando essa possibilidade enfaticamente, ora deixando no ar frases indicando exatamente o contrário.

Como no dia em que, ao ouvir do ministro Franklin Martins que ele não estaria mais no Planalto quando determinado fato aconteceria, Lula deixou no ar o comentário, em meio à reunião do Conselho Político do governo: "Quem sabe?".

Ou permitindo que seu amigo, o deputado Devanir Ribeiro, insistisse na apresentação da emenda que autorizava o presidente a convocar plebiscitos sem autorização do Congresso.

O fato de o presidente voltar a esse tema inopinadamente, mesmo sem obter repercussão política, pode significar que já tema pela consistência da candidatura da ministra Dilma Roussef. Ou que queira reforçar a ideia de que, não sendo possível sua candidatura, o jeito é votar na sua representante.

Porque o jogo já está jogado.

Dora Kramer:: Turbulência no tribunal

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

São três as preocupações do governo italiano em relação ao julgamento do pedido de extradição do ex-ativista Cesare Battisti, condenado por quatro homicídios, a ser retomado amanhã no Supremo Tribunal Federal: a hipótese de reabertura da questão do refúgio concedido pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, a possibilidade de algum ministro mudar o voto já dado em favor da extradição e a eventualidade de José Antonio Toffoli votar.

Toffoli ainda era advogado-geral da União quando o processo começou a ser julgado.

O exame do caso foi suspenso no dia 9 de setembro por um pedido de vista do ministro Marco Aurélio Mello, que é contra a extradição e já manifestou desejo de reexaminar a questão do refúgio.

Isso a despeito de naquela sessão o ato de Tarso Genro ter sido rejeitado por 5 votos a 4 e a decisão já ter sido publicada do Diário da Justiça. Questão vencida, portanto, e impossível de ser reaberta, na visão do advogado Nabor Bulhões, contratado pelo governo italiano.

Se houver tentativa de rediscussão desse ponto, Bulhões poderá apresentar um voto anterior de Marco Aurélio dizendo que decisões tomadas são irrevogáveis.

Com relação à extradição, quando o julgamento foi suspenso a votação estava em 4 a 3 a favor da Itália. Como Marco Aurélio vota contra e o presidente do STF, Gilmar Mendes, já adiantou que vota a favor, o resultado final é previsível: 5 a 4 contra Cesare Battisti.

Mas, há rumores de que ministros estariam sendo assediados para rever o voto e, além disso, resta em aberto a posição de José Antonio Toffoli. Se ele votar, imagina-se que vote contra a extradição.

Contra a mudança de voto, trata-se de uma hipótese altamente improvável, mas legalmente possível, pois o julgamento não foi concluído. Sobre Toffoli, permanece a dúvida, uma vez que até agora o ministro recentemente investido no cargo não deu sinal a respeito de qual será sua decisão.

Apenas no dia da posse disse que, se à luz da lei houvesse algum caso em que seu voto pudesse ser posto sob suspeição, tomaria a iniciativa de se abster.

Caso não tome, o advogado Nabor Bulhões está pronto para fazê-lo, argumentando que há óbice regimental, impedimento legal e suspeição.

O obstáculo regimental estaria no fato de Toffoli não ser ainda ministro quando foi iniciado o julgamento. Pelas regras do tribunal, nada impede a participação de um ministro que não tenha estado presente anteriormente na continuação de um julgamento. Mas Toffoli não era ministro.

Era advogado de uma das partes, a União e, nessa condição, acompanhou a sessão na qual designou uma advogada para fazer a defesa da decisão do ministro Tarso Genro na concessão do refúgio e negativa do pedido de extradição.

Aí residiria o impedimento legal, pois, mesmo tendo designado uma representante como lhe faculta a lei, cabe ao advogado-geral da União defender os atos praticados pelo governo, sendo prerrogativa exclusiva do titular da AGU a atuação junto ao Supremo, bem como a designação de substituto.

Pelo raciocínio do advogado do governo italiano, esse gesto, bem como a presença durante o julgamento e o próprio título que carregava, não deixam dúvida quanto ao papel de Toffoli naquela sessão: parte interessada.

Baseado na falta de garantia de imparcialidade, o advogado Nabor Bulhões poderá pedir arguir a suspeição sobre a participação do ministro no julgamento, o que deverá ser decidido pelo plenário.

Um constrangimento que, segundo avaliação de ministros do Supremo feita ainda antes de José Antônio Toffoli ter sua indicação confirmada pelo Senado, ele poderia evitar a si e ao conjunto do tribunal, declarando-se impedido por razões de foro íntimo.

Como, de resto, fez o primeiro relator do processo de Battisti, ministro Celso de Mello, depois de ter passado mais de um ano sem conseguir dar prosseguimento à ação por causa das manobras protelatórias dos advogados do italiano. Aborrecido, deixou a relatoria e no julgamento declarou-se impedido.

De camarote

O PSDB e o DEM se angustiam porque José Serra não se define, os aliados do PT se afligem porque Ciro Gomes não bate o martelo sobre a candidatura presidencial ou a disputa estadual, os petistas se agoniam com o desempenho de Dilma Rousseff nas pesquisas.

Propaganda do MEC infla dados da educação

DEU EM O GLOBO

Uma campanha do MEC, iniciada esta semana, anuncia mil novas creches, embora nenhuma esteja pronta. De 214 escolas técnicas citadas, só 96 funcionam.

Governo infla dados em campanha sobre educação

Propaganda contabiliza mil novas creches ainda no papel e alunos beneficiados, na prática, por estados e municípios

Catarina Alencastro

BRASÍLIA. O governo federal começou a divulgar, esta semana, propaganda sobre seus investimentos em educação, com o slogan "Nunca se investiu tanto em educação". Mas os dados da publicidade são um pouco diferentes do que ocorre na prática. O anúncio do governo cita mil novas creches em todo o país, embora o Ministério da Educação admita que nenhuma delas está pronta. No total, são 1.022 creches, todas em estágio de licitação ou construção.

A publicidade destaca ainda o número de alunos beneficiados com recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). O governo federal lista entre suas realizações o fato de 45 milhões de alunos serem beneficiados pelo Fundeb. O fundo, porém, é movimentado em sua maior parte por recursos dos estados e municípios. Este ano, o fundo movimentou R$72,7 bilhões, sendo que a União contribuiu com apenas R$5,07 bilhões (6,9% do total).

A contrapartida do governo Lula foi repassada para nove estados do país, beneficiando 18,2 milhões de alunos. Os outros 26,8 milhões usufruíram do dinheiro de seus próprios estados ou cidades. A partir de 2010, a União se compromete a contribuir com 10% do total de recursos do Fundeb.

Ainda faltam mais de cem escolas técnicas

Em relação às escolas técnicas, a propaganda fala que o Brasil poderá contar com 214 novas instituições já no ano que vem. Segundo o MEC, somente 96 novas unidades estão funcionando. O governo terá de correr para entregar, em ano eleitoral, as outras 118 escolas técnicas que prometeu.

Já no caso do Programa Universidade para Todos (ProUni), o número de bolsistas contemplados é exatamente o anunciado: 419 mil em todo o país. Outro dado preciso é o de bolsas de doutorado. A propaganda fala em 24 mil ao ano. No ano passado, o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) deu 7.990 bolsas para doutores e a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), outras 16.227. Somando as duas fontes, o país apoiou financeiramente 24.217 doutorandos.

O governo também anunciou a criação de 12 novas universidades federais. Destas, apenas uma ainda não tem alunos estudando. Com relação aos laboratórios de informática, o MEC informa que já adquiriu 34.706 laboratórios em todos os estados. Na propaganda, o número é mais modesto: 32 mil.

Uso político de provas do Enade é criticado

DEU EM O GLOBO

Especialistas criticaram as questões do Enade com elogios a ações do governo Lula. "É inaceitável", disse um professor da UFF.


"Questões do Enade são inaceitáveis"

Especialistas criticam perguntas que faziam elogios a ações do governo Lula

PROFESSOR DE Ética, Roberto Romano diz que houve "bajulação"

Maiá Menezes


As questões propostas no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) que faziam elogios a ações do governo Lula foram consideradas inadequadas e ineficazes por estudiosos ouvidos pelo GLOBO. Na avaliação da professora Bertha Valle, da Faculdade de Educação da Uerj, há, na prova, perguntas que não servem para medir os conhecimentos gerais dos universitários.

- Foi uma forma inadequada de elaboração das questões que devem ser de conhecimentos gerais - afirma a educadora, que lembra que as diretrizes da prova foram definidas por uma comissão de sete professores indicados pelo Inep:

- Fica difícil acreditar que não houve intenção de algum membro do governo de enaltecer realizações do Executivo.

O professor Eurico Figueiredo, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que as questões revelam uma "privatização de interesses" dos que estão no poder.

- É inaceitável. São tantos os problemas do Brasil, tantas questões, por que vinculações com assuntos ligados ao governo? É inábil, inaceitável, e não é inteligente para o próprio governo - diz o professor, lembrando que, com a popularidade em alta, o presidente Lula não precisaria desse tipo de propaganda.

Professor de Ética e Filosofia da Unicamp, Roberto Romano afirmou que a elaboração da prova revelou abusos.

- Ficou claro o abuso de um instrumento público. Foi uma bajulação e uma quebra da regra pública. Ninguém tem o direito de utilizar um instrumento do Estado para exaltar a opinião do governante. E no Brasil isso é muito comum para fins oligárquicos. Um educador é pago para ensinar e não para exaltar seu superior - disse o professor, referindo-se a uma das questões da prova que citava diretamente o presidente Lula.

A questão aparece na prova de Comunicação Social, aplicada a estudantes universitários de seis carreiras: a prova afirma que Lula foi criticado pela mídia ao dizer que a crise financeira internacional teria o efeito de uma marolinha no Brasil. O enunciado afirma que "agora é a imprensa internacional que lembra e confirma a previsão de Lula".

Ex-presidente do Inep no governo tucano, Maria Helena Guimarães Castro vê um desvio de finalidade na prova. Ela defende que as perguntas deveriam se referir a políticas públicas, e não a projetos específicos.

- Esse tipo de pergunta não mede conhecimento. Apenas se o aluno está acompanhado o que o atual governo está fazendo. Da forma como está, fica algo muito mais publicitário do que qualquer outra coisa.

Ela ressalta ainda que a prova deveria contemplar perguntas de outros governos emblemáticos para o país, como os anos JK:

- As questões devem exigir raciocínio do aluno sobre a solução de problemas do país.

Lula ironiza em público o governismo de Serra

DEU EM O GLOBO

Na Fiesp, o presidente Lula e o governador de SP, José Serra, viveram um dia de paz e amor. Serra elogiou a política econômica do governo, e Lula ironizou.

Lula brinca e ironiza "governismo" de Serra

Em encontro na Fiesp, tucano diz ter só 5% de críticas à política econômica do governo petista; os dois trocam elogios

SERRA E LULA ouvem discursos em evento na Fiesp: brincadeiras de ambos marcaram o tom político do encontro


Soraya Aggege

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Depois de uma semana em guerra aberta contra os tucanos, o presidente Lula e o governador José Serra (PSDB) viveram um dia de paz e amor, ontem, na sede da Fiesp, diante de uma platéia de 600 empresários e políticos, a maioria italianos. Serra começou seu discurso em italiano, falou da origem dos pais da Calábria e acabou elogiando a política econômica do governo.

- Estou 95% de acordo com o panorama que o ministro Guido Mantega (Fazenda) esboçou aqui - disse, citando o discurso anterior, do ministro da Fazenda de Lula, otimista sobre a situação econômica.

Lula disse que improvisaria o discurso e que tentaria evitar o risco de terminar cantando "Amore Mio". Mas fez propostas sutis de paz aos tucanos:

- Eu vou tentar não falar nada de macroeconomia, porque o Serra só discordou 5% do Guido (Mantega). E ele pode querer discordar um pouco mais de mim, uns seis (por cento). E nós vamos querer criar uma inimizade à toa. Então, não vou falar de macroeconomia, para ele concordar 100% comigo aqui.

Depois do evento, Serra disse que deixaria para os curiosos imaginarem os 5% de crítica que faria. Lula ironizou até a disputa política com Serra:

- Eu queria dizer ao Paulo (Skaf, presidente da Fiesp) que é importante ele parar de me convidar para vir aqui, porque daqui a pouco eu estarei vindo mais na sede da Fiesp que na sede da CUT, e isso pode me causar "complicômetros" . Toca que daí o Serra vai querer visitar a CUT mais do que eu... Então é preciso ter certo equilíbrio.

Ao final do discurso, nova brincadeira. Como Serra falara em italiano e contou que seus pais vieram da Itália, Lula brincou que os "Silva" também teriam raízes italianas:

- Serra, outro dia me disseram até que o meu Silva, na verdade é Shelva (que seria uma origem italiana). Porque, se eu não disser que tenho origem italiana, vai complicar...

À noite, em Brasília, Lula voltou às comparações entre seu governo e o governo tucano. Disse que os governadores do PSDB recebem mais recursos do governo federal em sua gestão do que recebiam nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. Lula evitou citar o antecessor, mas afirmou que o governador de São Paulo Mario Covas (1995-2000) não recebia muita verba de Brasília com tucanos no governo federal

Herança de Dilma: Brasil no Apagão

DEU NO PORTAL DO PPS

Nunca antes na história do país aconteceu um blecaute desse tipo.

A propalada competência de gestora da ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, ex-comandante do Ministério de Minas e Energia, se apagou na noite desta terça-feira (10/11). Um blecaute até agora sem explicação detalhada deixou no escuro os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Pernambuco, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Panes foram registradas ainda em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Rondônia, Alagoas e Acre.
O Paraguai também ficou no escuro por causa da pane, que teria começado na usina de Itaipu.
Na semana passada, o vice líder do PPS e membro da comissão de Minas e Energia da Câmara, deputado federal Arnaldo Jardim (SP), já alertava para o risco do apagão (leia aqui).

Nesta quarta-feira, espera-se uma explicação clara de Dilma, que como candidata do PT ao Planalto só vem pensando nas luzes da mídia. No dia 29 de outubro, ela havia garantido que não existia qualquer risco de apagão no pais (leia).

Fernando Rodrigues:: O PSDB paralisado

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Ponderado, o senador pernambucano Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB, não se declara em público a favor de José Serra nem de Aécio Neves quando o assunto é a escolha do candidato tucano ao Planalto em 2010.

Mas uma frase do dirigente do PSDB deixou ontem margem para dúvidas ao analisar a disputa: "Eu diria que ele [Aécio] é mais amplo politicamente do que o governador José Serra. Ele teria mais apoios dos partidos que não são do campo da aliança do que teria o governador José Serra hoje".

Sérgio Guerra sintetizou o senso comum em vigor na oposição. Trata-se de uma afirmação seguida de uma frase na forma adversativa: 1) José Serra é um candidato a presidente sólido e experiente, está na frente nas pesquisas e já foi escrutinado em campanhas de expressão nacional anteriores; 2) mas Aécio Neves poderia, se fosse o escolhido tucano, conseguir uma aliança política mais abrangente para tentar estancar o crescente avanço das forças lulistas.

Diante dessa dúvida, tucanos estão paralisados. Serra deseja tomar uma decisão só em março. Aécio cobra diariamente uma posição do seu partido até dezembro -caso contrário, promete desistir da eleição presidencial. Criou-se um impasse de difícil solução.

Se a profecia de Aécio se autocumprir, ele desistirá de ser candidato a presidente. Nessa hipótese, Serra ficará obrigado a assumir de maneira indireta a candidatura em dezembro. Claro, pois será o único e último tucano no páreo.

Esse desfecho é o pior dos mundos para a oposição. Serra anteciparia seus planos por causa de uma circunstância partidária interna. Aécio se encolheria emburrado em um canto.Uma chapa pura, com o mineiro de candidato a vice-presidente, é quase inviável. De zero a dez, a chance é três, diz Sérgio Guerra.

Tudo considerado, não é nada bom o clima no PSDB.

Miriam Leitão:: Governo manipula

DEU EM O GLOBO

É absurdo fazer campanha política num teste de avaliação da qualidade da educação; e, além disso, o enunciado da questão do Enade está errado. O Brasil sofreu sim um forte impacto da crise internacional: perderá um ano de crescimento do PIB em 2009, R$80 bilhões de arrecadação, US$60 bilhões, ou 30%, de exportações. A indústria teve a sua maior queda em 15 anos; os investimentos despencaram.

Campanha tem hora, palanque tem lugar, não pode ser num teste de aferição de conhecimentos gerais de estudantes, que serve para orientar políticas públicas e escolhas privadas. Que o governo guarde a palavra "marolinha" para os ilusionismos dos seus palanques. Ele sabe a verdade: a crise foi forte. O PIB crescia a mais de 6%, despencou, ficou negativo dois trimestres, se recupera da queda, mas fechará o ano em torno de zero. É indigente sugerir, numa prova para universitários, que não houve crise, e sim um erro de avaliação da imprensa brasileira corrigido pela imprensa estrangeira. No terceiro trimestre, o PIB vai crescer em torno de 2,5% em relação ao segundo. O ministro Guido Mantega falou em 10%. Isso porque ele pegou o resultado e anualizou. Deu este número enorme. Não é errado fazer a anualização, mas ele não fez quando era queda. Se fizesse, teria tido um enorme número negativo. A comparação com o mesmo trimestre de 2008 deve dar cerca de 0,3%.

O Brasil voltou a crescer no segundo trimestre deste ano. Ótimo. Mas não foi o único. França, Alemanha, Japão também cresceram. A Austrália já está subindo juros para conter a demanda. A China e a Índia nem tiveram recessão. Os Estados Unidos tiveram um forte PIB positivo no terceiro trimestre.

- Não foi apenas o Brasil. O mundo inteiro saiu mais cedo da crise porque os pacotes de ajuda foram enormes. Uma crise é uma peça em vários atos, e o mundo tem medo do próximo ato: o que vai acontecer quando retirarem os pacotes de ajuda. Os bancos americanos e europeus têm US$7 trilhões em dívidas de curto prazo garantidas pelo governo. O que vai acontecer quando tirarem as garantias? - avalia o economista Armando Castelar, do Gávea Investimentos.

Governos sérios levaram a crise a sério e sabem que ela ainda pode trazer surpresas. O Brasil entrou na crise com vantagens em relação a outros países, mas a recuperação ocorreu em parte puxada pela recuperação externa. A China com seu enorme pacote de estímulo financeiro elevou o preço das commodities e nos ajudou.

O ministro Paulo Bernardo calculou que o país vai perder no ano R$80 bilhões de arrecadação. O IBGE registra que a indústria teve em um período de quatro meses uma queda de 20%, a maior já registrada nas suas estatísticas. A produção de bens de capital está com queda de 22% no acumulado do ano, o que significa investimentos a menos. O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior, Roberto Segatto, calcula que o Brasil vai exportar 30% a menos ou US$60 bilhões a menos do que no ano passado.

Aqui não havia excesso de endividamento das famílias, nem produtos exóticos nos bancos, mas mesmo assim o Unibanco para evitar uma corrida fundiu-se ao Itaú, como contou em detalhes o "Valor Econômico" de ontem. Grandes exportadores passaram por momentos de pânico com seus derivativos cambiais. Foram salvos com dinheiro público, que financiou operações de fusão e aquisição, como as da Aracruz com a Votorantim e da Sadia com a Perdigão. Nada foi de graça. Só no caso Aracruz, o BNDES teve que bancar 40% do custo do negócio.

O BNDES está pedindo seu segundo empréstimo de R$100 bilhões ao governo em menos de um ano. Antes, o empréstimo era para fazer política anticíclica. E agora? Será política pró-cíclica? É empréstimo por uma manobra contábil. Se fosse capitalização, entraria na dívida pública. Sendo empréstimo, fica tudo igual porque o governo terá um ativo e um passivo se neutralizando, já que o banco é público.

O professor Claudio de Moura Castro considerou "doutrinário" e "sintomático" do uso da máquina pública incluir versões governistas na prova: "Isso nunca aconteceu em uma prova assim. É uma contaminação indevida."

Há erros nas outras questões também. Fico no tamanho da crise, que você pode ver melhor no gráfico abaixo. Esta foi a maior queda da indústria na era do real. Mesmo com a recuperação, o país estava em setembro no nível de produção industrial de fevereiro de 2007: recuo de dois anos e meio.

Rosângela Bittar:: Ao abrigo de marolão

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Parece traição anunciada, tem tudo para ser, mas não é. O encontro público marcado pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), com o deputado Ciro Gomes (PSB), mais um entre tantos, para a próxima semana ou para um dia qualquer do calendário futuro, como já teve no calendário passado, desperta curiosidade. A esta altura da campanha eleitoral, a construção de uma agenda política comum entre os dois tem um significado inalcançável ao senso comum.

No plano objetivo, não há mais prazo para mudança de partido, sequer para ameaçar seus competidores internos com esta espada como era praxe antes de outubro; ainda não chegou o prazo para oficializar coligações, tarefa das convenções de junho; e nenhum dos dois tem o partido sob suas rédeas para conduzí-lo por aqui ou por ali.

Ciro diz, em reportagem de "O Estado de S. Paulo" que, se Aécio não conseguir sua indicação para disputar a Presidência pelo PSDB, ele, Ciro, quer ter a "simpatia de Minas" como candidato a presidente. A vantagem para Aécio nesta troca de favores seria agregar em torno de si mais forças políticas, no caso, portanto, o PSB. Esta equação implica, na prática, Aécio trabalhar para Ciro em Minas, levando a ele seu eleitorado, e nada fazer pelo candidato do PSDB a presidente. Inclui, também, cruzar os braços para o candidato tucano ao governo de São Paulo uma vez que, como todo mundo já sabe, é o cargo reservado pelo presidente Lula para Ciro Gomes disputar, com o apoio de todos os partidos da base aliada ao PT. Aécio, então, para honrar a negociação, teria que ignorar a candidatura Geraldo Alckmin, o mais provável nome do PSDB nesta disputa.

É isto o que significaria, ao pé da letra, a "atuação conjunta" anunciada dos dois políticos, por mais que, ao ser traduzida a termos da realidade, pareça estapafúrdia.

E é. Uma superprodução improvável, até mesmo do ponto de vista legal. Está claro, então, que não é um projeto para prosperar. Apenas é um projeto para se movimentar, para lá e para cá, à mercê das incoerências políticas que vão se evidenciando. Nem o presidente do PSB abandonou o barco do presidente Lula e sua candidata Dilma Rousseff, nem o comando do PSDB abriu mão de lançar candidato a presidente.

Nada faz sentido ou tem significado além dos fatos de que Aécio tem garantida sua exposição ao eleitorado em Minas, no resto do país é preciso movimentar-se; Ciro não tem espaço cativo para manter o recall de candidaturas anteriores, vai buscá-lo em qualquer canto até chegar o dia de medir e pesar sua situação na seara governista. Cada um no seu papel que, no entanto, precisa ter nome certo.

Há duas evidências na campanha presidencial, atualmente. Uma, é que o governador de São Paulo, candidato a candidato do PSDB à Presidência, José Serra, está em primeiro lugar em todas as pesquisas de intenção de voto feitas este ano e até agora ninguém conseguiu virar esta tendência. Serra é, portanto, o candidato do PSDB em condições objetivas de vencer e não é à toa que a maior quantidade de intrigas que emergem na campanha, partam do governo ou da oposição, o têm como alvo.

A outra é que Dilma está fazendo uma campanha nacional, com tempo na mídia garantido pela presença do presidente da República como seu cabo eleitoral full time, e tendência clara a crescer na medida da quantidade de votos que for possível ao presidente lhe transferir. As pesquisas apontam tendência de crescimento mas ainda não o suficiente para tranquilizar seus aliados.

Constata-se, então, que estão todos à espera dos números de pesquisa da candidata Dilma Rousseff, aguardando seus índices, em dezembro, janeiro, fevereiro e, principalmente, março. Exatamente quando os prazos políticos se encontram com os prazos legais e a data em que o que faz sentido deverá surgir.

Contagem de vantagem

Assessores da campanha da ministra Dilma Rousseff destacam como positiva a divisão dos votos de convencionais do PMDB de São Paulo entre Orestes Quércia (oposição) e Michel Temer (governo). Contabilizam como lucro ter uma parte dos convencionais paulistas, assim como seria lucro também contar com parte dos convencionais do PMDB do Rio Grande do Sul, por exemplo. Ter um pedaço é melhor do que não ter nada, dizem. Nestas contas, o pior seria Dilma (ou a coligação PT-PMDB) ficar sem nenhum voto nos diretórios mais oposicionistas. Para o governo, nos estados onde Dilma tem a maioria do PMDB, ficará com 70 a 80% dos votos dos convencionais. Com mais uma parte, por menor que seja, dos votos onde não esperava ter nenhum, a coligação será aprovada com vantagem.

Os especialistas da campanha da ministra deveriam dividir com o PT seu otimismo, pois o partido continua furioso com a divisão feita em São Paulo e acham que o PMDB está pedindo demais e oferecendo de menos.

Ministro novo

Impressiona a alguns experientes advogados a ousadia da pressão do governo da Itália e dos opositores de Cesare Battisti sobre o ministro José Antonio Dias Toffolli, do Supremo Tribunal Federal. O ministro não tem impedimentos para votar, nada assinou na Advocacia Geral da União, seu cargo anterior, que lhe causasse constrangimentos agora, mas o lobby do governo italiano o força a assumir a carapuça do comprometimento.

A votação está quatro a três pela extradição do brigadista italiano reclamado pelo governo. A expectativa é que o ministro Marco Aurélio Melo devolva o processo, do qual pediu vista, com voto a favor de Battisti. Gilmar Mendes tem voto conhecido, contra, e o temor é que Toffolli empate o jogo, o que favorece o réu.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

José Nêumanne:: Hitler, o Pateta e a eleição federal

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pertence a uma geração acostumada a lidar com duas mães de desafetos - a santa, veneranda dona de casa a cuidar do lar, e a suja, palavrão disparado no meio de uma ofensa para responder a outra. Em Garanhuns, Santos e São Bernardo do Campo, na escola da vida, entregando roupas numa tinturaria, praticando no torno e, sobretudo, nas lides sindicais e políticas, ele aprendeu a distinguir o ícone da Madona, em que se emolduram as mães, do insulto infame reservado ao oponente numa discussão de botequim. Seu antecessor, que um dia apoiou para o Senado na luta comum contra a ditadura, Fernando Henrique Cardoso, figura de ponta do partido que se opõe ao ex-dirigente sindical, deve levar em conta essa distinção e não interpretar como uma ofensa imperdoável Sua Insolência ter comparado seus correligionários tucanos com a mais abjeta figura da cena política internacional no século 20: o cabo austríaco do Exército alemão derrotado na Grande Guerra Mundial, Adolf Hitler. Assim como as mães, os vultos históricos têm duas abordagens: a histórica e a retórica. E é o caso do mais xingado de todos eles.

Quando Lula comparou, num de seus intermináveis palpites mais infelizes que o do samba de Noel Rosa, os cabos eleitorais tucanos com os esbirros nazistas, só quis provocar os adversários do PSDB. E não pisar mais uma vez no calo histórico das vítimas do holocausto judeu. Hitler matou 6 milhões de judeus em campos de concentração e não há um só súdito da República lulo-petista ameaçado por algum oposicionista genocida no Nordeste ou em qualquer outra parte do universo. Os governistas nordestinos, paulistas, capixabas ou os demais brasileiros podem ser surpreendidos por assaltantes sem bandeira partidária, mas jamais por investidas de uma polícia política brutal e sanguinária farejando em porões e outros lugares onde se escondiam os inimigos do 3º Reich. O único problema com a parábola presidencial é que ela, mesmo sem querer - e no caso não se pode apelar para a presunção da inocência, pois Sua Insolência é reincidente -, mexeu com os brios de uma raça perseguida com esse seu leviano hábito de recorrer a ênfases sem nexo. Ao comparar uma rotina de campanha política com um massacre desumano, Lula ofendeu menos os cabos eleitorais inimigos que os judeus perseguidos. Assim como o fizera antes ao demonstrar um súbito afeto exagerado pelo persa (e não árabe) Ahmadinejad, que nega a ocorrência do holocausto, confundiu uma tragédia universal com um incômodo político corriqueiro apenas para levar uma absurda, desnecessária e duvidosa vantagem retórica.

Jesus Cristo, o profeta galileu recentemente vitimado por uma dessas tentativas de misturar ignorância com insolência, em vez de fazer um pacto pela governabilidade com Judas Iscariotes, o delator, como Lula sugeriu, aconselharia às vítimas da nova patacoada presidencial algo semelhante ao que pediu ao Pai, na cruz: "Perdoai-o, ele não sabe o que diz." O Hitler da invectiva lulista não é o assassino serial por excelência forjado na miséria, na raiva e na frustração alemãs pela derrota na guerra, mas uma espécie de Judas a malhar não apenas no Sábado de Aleluia, mas ao longo de toda uma campanha eleitoral.

Com sua bondade infinita, o judeu assassinado pelos romanos a pedido da cúpula do clero de seu povo certamente aproveitaria a ocasião para tentar corrigir o erro capital dos antagonistas de Lula, aproveitando-se de um diagnóstico certeiro produzido pela candidata oficial, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na mesma ocasião em que o presidente confundiu Jesus com Genésio, como se diz no Nordeste. Sem o jogo de cintura, a manha, o talento nem o prestígio popular do chefe e padrinho, ao qual se agarra como qualquer náufrago em potencial tentando não afundar, ela acusou seus adversários corretamente de "excesso de vaidade e de completa falta de rumo". Em outras palavras, "eles não sabem o que fazer".

O problema da oposição não são - ou, pelo menos, não são só - o sucesso do governo e a popularidade do presidente, mas as próprias deficiências. Seu principal candidato, o governador de São Paulo, José Serra, faz muito bem em resistir estoicamente ao lançamento de sua candidatura à Presidência da República. Não por falta de força, pois é inequívoco seu favoritismo nas pesquisas (e estas refletem mesmo o momento político atual), mas por falta de lastro. O PSDB, com uma mãozinha do DEM, quer o governo, pensa que ninguém afastará seu candidato desse destino manifesto, mas simplesmente não tem ideia de como chegar lá.

E, se chegar, do que fazer para a população enfeitiçada pelo jeito populista de Lula governar aderir a um estilo de gestão que, por mais que seja bem-sucedido nos Estados que governa, com São Paulo e também Minas como exemplos, não é suficiente para persuadir a grande maioria de que se repetirá o salto dado pelo Brasil nos dois mandatos de Lulinha Paz e Amor O Cara da Silva.

A tucanada sabe que o chefe do governo em nada foi original, comparado com eles: herdou e aperfeiçoou seu projeto de rigor fiscal e, depois, copiou e aprimorou a tecnologia de compra da governabilidade. Até aí morreu o Neves, ditado popular certamente conhecido pelo pretendente Aécio. Por não haver entendido que perdeu o momento azado de mostrar ao eleitorado a própria diferença do PT de Lula, negando-se a sacrificar Eduardo Azeredo (MG) - que, ao que tudo indica, vai ser sacrificado de qualquer maneira - para limpar a própria face, quando vieram à tona as evidências de que o "mensalão" surgiu em Minas antes de ser adotado pela cúpula federal petista, o PSDB passou a merecer a desqualificação de "patético", cunhada por Dilma. Mas nada que ver com o pathos grego, e, sim, com o tosco Pateta que o mago Disney desenhou.

José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde

Lauro Schuch:: O mau exemplo

DEU EM O DIA

Presidente apresenta pensamento simplista sobre pobreza e corrupção

Rio - O presidente Lula já se revelou, em diversas ocasiões, um governante falastrão, que, apesar da imensa responsabilidade, como primeiro mandatário do Brasil, faz comentários infelizes e desastrosos.

Sua última derrapada foi numa solenidade em que foi sancionado o plano de cargos e salários dos policiais militares e bombeiros do Distrito Federal. Ele disse ter certeza de que “a única hipótese de a gente não ter um policial levando propina da bandidagem é o policial ganhar o suficiente para cuidar de sua família”.

Não há dúvida de que servidores públicos e profissionais de outras categorias ganhando salários dignos ficam menos tentados a se corromper. No entanto, esse raciocínio simplista expresso pelo presidente da República pode levar a outro entendimento ainda mais rasteiro: o de que toda pessoa que ganha mal tem tudo para ser corrupto.

É não só rasteiro como perigoso, por, indiretamente, justificar de antemão qualquer deslize ético. E é também injusto para com a maioria da população brasileira, que ainda ganha muito pouco para sobreviver honestamente.

Acima de tudo, o raciocínio do presidente Lula é falso, porque os grandes casos de corrupção na história brasileira recente são de figurões ligados aos três Poderes constituídos e ao empresariado mais rico do país. O caso mais recente envolveu senadores e diretores do Senado regiamente pagos pelo erário Público.

No meio de advogados, justamente para coibir ações escusas, temos um Código de Ética de Disciplina que prevê punições para infrações, sobretudo a falta de prestação de contas ao cliente. Pobre ou mal pago não é sinônimo de corrupto.

Vice-presidente da OAB-RJ

Brasília-DF :: Luiz Carlos Azedo

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Medo dos velhinhos

O lobby dos aposentados pela derrubada do “fator previdenciário” e pelo reajuste das aposentadorias com base no salário mínimo é o assunto que mais preocupa a bancada governista. Muito mais do que a polêmica sobre a partilha do petróleo da camada pré-sal entre a União, estados produtores e estados não produtores. Há amplo entendimento na Câmara de que a aprovação das duas propostas pode quebrar a Previdência, como teme o governo, mas poucos querem colocar a cara na reta para “votar contra os velhinhos”.

Nove entre cada 10 caciques do PT acusam o senador Paulo Paim (PT-RS), autor dos dois projetos aprovados no Senado, de estar mais preocupado com a própria reeleição. “Esse Paim vive criando problemas para o governo, a proposta não tem cabimento”, reclama o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e amigo do presidente Lula. O senador petista não se faz de rogado. Na tribuna do Senado, um dia sim outro também, discursa pressionando os colegas da Câmara a aprovar suas propostas. Não dá bola às críticas:
“Não tem uma cidade no Brasil, hoje, que não esteja debatendo a questão dos idosos, aposentados e pensionistas”, argumenta.

Heterodoxos
A oposição caminha para a total fragmentação no Rio de janeiro. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) só garante palanque para a candidata do PV à Presidência, senadora Marina Silva (AC). Deixou órfãos o DEM, o PSDB e o PPS. O prefeito de Caxias, o tucano José Camilo Zito, está firme com o governador Sérgio Cabral (PMDB). E, para complicar mais, o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), candidato ao Senado, é pressionado para fazer uma “chapa camarão”, isto é, sem candidato a governador.

Arnaldo Jabor:: Olha o subperonismo aí gente!...

DEU EM O GLOBO (10/11/2009)

Tenho saudade de 94. O Plano Real tinha dado certo, o Brasil ganhou a Copa do Mundo, e foi eleito um presidente com palavras novas, da elite cultural progressista que sempre esteve fora do poder. FH venceu, apesar da inveja de seus colegas de Academia, e trouxe uma nova “agenda progressista”, que até então se resumira a um confuso sarapatel de “rupturas” revolucionárias, vagos sonhos operários, numa algaravia de conceitos leninistas, getulistas, terceiro-mundistas que nos levaram sempre a derrotas desde 1935 até 1968.

Além do Lula de 1980, com sua política sindical de resultados, uma primitiva socialdemocracia que fez de Lula um importante renovador político (depois cooptado pelos bolchevistas desempregados), a chegada de FH foi o único fato novo. Apesar das críticas mecanicistas que sofreu (“neoliberal”, submisso a Washington, aliado a ACM, etc.”...), nada apagou sua novidade: vitória sobre a inflação, a substituição da utopia pela “política do possível”, troca da ideia de “solução” por “processo”, busca de uma república democrática.

Pela primeira vez na vida, vi uma mudança séria no país, que hoje é destratada vergonhosamente pelos petistas. (Dilma disse ontem: “Na campanha vamos comparar 2002 com 2009!” — fingindo ignorar que tudo de bom que Lula herdou já estava feito e que o surto de inflação do final do mandato de FH veio pelo medo da vitória do Lula).FH chegara numa época propícia, depois do trauma da Era Collor, que nos dera fome de limpeza ética e de organização republicana.

Os aliados de FH (PFL, PMDB etc.) ainda estavam amedrontados depois da chuva de lixo do período Collor, e essa provisória timidez dos fisiológicos permitiu que FH usasse as alas mais “modernas” do Atraso” (oh... supremo oxímoro!...) para introduzir práticas renovadoras. Mas nada disso a velha academia percebeu — só a eleição de Lula foi saudada pelos velhos intelectuais como “verdadeira”, como uma injeção de “povo” no mundo “de elite”.

No entanto, os anos FH foram um saneamento básico, uma psicanálise do imaginário político, uma mudança fundamental de agenda, sem a qual estaríamos batendo panelas na rua. Ele deixou uma “herança bendita”, agora em plena desconstrução pelos lulo-pelegos.

No primeiro governo de Lula, o PT e seus teóricos queriam enfiar marxismo na “insuficiente democracia”. Deu no mensalão e outras práticas “revolucionárias”. Até que fomos salvos pelo Roberto Jefferson, o herói da “corrupção autocrítica”, que tirou os bolchevistas de circulação.

A importância da administração e das reformas internas, a importância de sutis articulações interpartidárias está sendo substituída pela truculência dos pelegos chegados ao poder, para consolidar empregos, pois sabem que, se Dilma não vencer, poderão perder boquinhas preciosas.

A verdade é que os petistas nunca acreditaram na “democracia burguesa”, como disse um intelectual da USP — “Democracia é papo para enrolar o povo”. Não entenderam com suas doenças infantis que a democracia não é um meio, mas um fim em si mesmo; ou melhor, até entendem, mas não a querem. Eu já achei, no meu romantismo idiota, que eles pensavam utopicamente, com fins imaginários, mas nobres.

Não. Nada disso: tudo que querem é emprego, poder pelo poder e grana. Tudo que estão construindo, com a invejável fé militante que têm (viram, tucanos otários? ), é um novo patrimonialismo de Estado, com a desculpa de que, “em vez de burgueses mamando na viúva, nós, do povo, nela mamaremos”. E tudo isso em nome do “povo”, no raciocínio deslumbrado de Lula, lutando por si mesmo: “Eu sou do povo; logo, luto pelo povo”.

Hoje, vemos que esta euforia da petista no poder mesmo com 80% de Ibope, com a economia mundial enfiando dólares aqui, é um regresso ao passado. Alguma coisa essencial (que quase ninguém enxerga) está fazendo água no país, ou melhor, os furos já estão sendo feitos no navio que vai afundar mais tarde. O horror brasileiro está retomando sua forma inicial, como o rabo de um lagarto se recompondo. Já dá para ouvir a ouverture da ópera-bufa, a volta da tradicional maldição do “Mesmo”, a empada maldita de fisiologismo, de estamentos sindicalistas tomando fundos de pensão para transformá-los em instrumentos de corporativismo sindical. Tudo farão pelo “controle”, pelo Estado sindicalista, pois o que mais odeiam e temem é a sociedade criando um país dentro da democracia.

Neste momento que vivemos, com intelectuais fascinados pelo carisma midiático do governo (que acusa a oposição de sê-lo) FH escreveu um artigo essencial: “Para onde vamos?”.

Pronto. Começaram os xingamentos, pois ele exibiu a verdade sinistra do que os petistas estão zelosamente construindo para o futuro.

Cito: “O DNA do ‘autoritarismo popular’ vai minando o espírito da democracia constitucional.

(...) Devastados os partidos, se Dilma ganhar, sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão”. E mais: “Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido do governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados – eis o bloco subperonista que virá.” Acho que o artigo de FH é o diagnóstico de nosso momento. Xingam-no de “inveja”, “rancor” etc.... mas é na mosca. Dá medo pensar no que pode vir, a partir dos milhões que vão gastar em 2010 para manter o poder — só a campanha oficial está orçada em R$ 250 milhões.

No entanto, tenho esperança de que FH esteja errado.

Por duas razões: Primeiro, a economia mundial continuará injetando mutações no país, obrigando-o a se modernizar, para além desta política vagabunda tecida nas alianças corruptas.

A outra esperança é a famosa incompetência dos lulo-sindicalistas, que não conseguirão consolidar este plano ambicioso de um subperonismo. São uns trapalhões oportunistas.

O atraso nos livrará de mais-atraso. Ou seja: só a esculhambação nacional nos salvará do subperonismo. Se Deus quiser.

Fernando de Barros e Silva:: Caetano é "neguinha"

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - "Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro." Diante da ira que provocou nos companheiros, Caetano Veloso voltou ontem às páginas de "O Estado de S. Paulo" para comentar esse trecho da entrevista que havia concedido.

O compositor lembrou que o próprio Lula se vangloria da sua fala pouco instruída e que é forte inclusive por isso. E avisou aos petistas: "Dizer que FH era mau governante e Lula é bom é maluquice. Ambos foram conquistas brasileiras importantes. Marina seria um passo à frente". Sobre esse último ponto, podemos brincar: "menas, menas".

De resto, os embates entre Caetano e a esquerda remontam aos anos febris do tropicalismo.

É duvidoso que o lulismo seja de esquerda, mas Caetano, de novo, se põe à esquerda da esquerda, dando mais um nó no coro dos "progressistas": "Detesto essa mania de que nada se pode dizer que não seja adulação a Lula".

Quem teve a felicidade de ver seu show no fim de semana pôde presenciar a homenagem a Neguinho do Samba, negro semianalfabeto, um dos fundadores do Olodum na Bahia, morto há poucos dias: "Influenciou mais a mim e provavelmente a vocês da plateia do que a obra inteira de Lévi-Strauss. Isso é o que eu teria a dizer aqui sobre analfabetismo e preconceito".

O ápice, porém, foi a interpretação de "Eu Sou Neguinha?" -acompanhada no palco por uma gestualidade que valorizava de maneira ostensiva e lúdica a interrogação sobre a identidade sexual do cantor.

Caetano é um dos maiores artistas brasileiros -isso já é sabido. Mas é também um espírito livre e um intelectual incomum num sentido muito preciso (e talvez o único verdadeiramente precioso): sempre está no debate público de sua época sem subordinar convicções e ideias a cálculos táticos ou conveniências políticas. Ousar pensar pela própria cabeça, sem a tutela do grupo ou medo da patrulha da maioria: por que não? Por que não?

Planalto usa Amazônia para inflar Dilma

DEU EM O ESTDO DE S. PAULO

Ministra vai comandar evento com dados sobre a queda de desmate

João Domingos, BRASÍLIA

Para continuar mostrando a ministra Dilma Rousseff aos eleitores, além de vinculá-la à defesa do meio ambiente um mês antes da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP-15), em Copenhague, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu transformar o anúncio do menor índice de desmatamento da Amazônia nos últimos 21 anos, amanhã, num grande acontecimento político.

Dilma, pré-candidata à Presidência, será a mestre de cerimônias do anúncio da boa notícia, marcado para as 15 horas, no Centro Cultural Banco do Brasil. Historicamente, anúncios sobre desmatamento seguiam um script rotineiro, com os dados divulgados pelo ministro do Meio Ambiente de plantão.

Para a festa ambiental foram convidados governadores e entidades ligadas ao meio ambiente. A senadora Marina Silva (AC), provável candidata a presidente pelo PV, não foi convidada. Ela estará amanhã em São José dos Campos (SP).

O Ministério do Meio Ambiente trabalha com o desmatamento entre 8,5 mil e 9 mil quilômetros quadrados, entre agosto de 2008 e julho de 2009, período em que nos dados são consolidados ano a ano. O Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que também acompanha o desmatamento da floresta por um sistema de satélites, assim como o governo, acredita que os números deverão ficar entre 9 mil e 10 mil quilômetros quadrados. O menor índice foi registrado em 1991, com 11,3 mil quilômetros quadrados. Nos últimos três anos, o desmatamento ficou entre 11 mil e 12 mil quilômetros quadrados.

No anúncio, Lula e Dilma falarão ainda dos resultados da Operação Arco Verde, um programa do governo federal anunciado com grande estardalhaço em junho. Foi num discurso em Alta Floresta, norte de Mato Grosso, no lançamento do programa, que Lula atacou os organismos fiscalizadores, dizendo que atrasavam o País, e afirmou que os pioneiros que haviam seguido para a Amazônia e desmatado dentro dos programas oferecidos por governos anteriores jamais poderiam ser chamados de bandidos. "Nunca vamos nos esquecer que na década de 70, quando foi feita uma reforma agrária, muita gente foi induzida a vender as pequenas propriedades que tinha e se embrenhar por este Brasil afora para construir cidades como Alta Floresta", disse Lula.

Ao mesmo tempo, dizendo-se consciente do momento atual, em que há grande preocupação com o clima, o presidente ensinou que hoje a vantagem é não desmatar. "Temos de dizer para as pessoas que, se houve um momento em que a gente podia desmatar, agora desmatar joga contra a gente. Vai nos prejudicar no futuro, porque empréstimo internacional não sai."

COMANDANTE

Lula anunciará, na cerimônia de amanhã, que Dilma será a comandante da equipe brasileira em Copenhague. E que vai levar as novidades do País para ajudar a combater o aquecimento global e a emissão de gases de efeito estufa. O Brasil terá, de acordo com o presidente, a proposta mais ousada entre todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento. Será algo em torno de um esforço voluntário de 38% a 42% na redução dos gases de efeito estufa até 2020.

"O Brasil será também o único país do mundo a apresentar a novidade de ter formado um fundo de combate ao aquecimento global sustentado nos combustíveis fósseis", disse o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que perdeu o lugar antes cativo de quem ocupa o cargo nos anúncios de redução nos índices de desmatamento. Ele afirmou que não se importa com isso. "A ministra Dilma Rousseff é a mais importante dos ministros do presidente Lula. Não tem problema ela anunciar a queda no desmatamento nem comandar a equipe em Copenhague", disse.

Ministra vira a ''estrela'' em site da Presidência

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Além do recorde em outubro, página na internet já divulgou 180 fotos da pré-candidata apenas este ano

Leonencio Nossa, BRASÍLIA

O site do Palácio do Planalto bateu recorde em outubro de divulgação de fotografias da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, desde que a ministra assumiu o cargo em junho de 2005. Com 34 imagens durante o mês, a pré-candidata do PT à Presidência virou a estrela do site.

O total de imagens de Dilma supera com folga as fotos dos colegas de governo. O responsável pela pasta da Fazenda, Guido Mantega, não teve uma única foto em todo mês de outubro.

Só neste ano, o site www.info.planalto.gov.br divulgou 180 fotos de Dilma, quantidade superior ao total de 178 imagens de Mantega disponibilizadas nos últimos seis anos. Nem o ex-ministro José Dirceu teve tanta exposição: foram 82 fotos em dois anos e meio no comando da Casa Civil, de janeiro de 2003 a julho de 2005.

Nas últimas semanas, o site que divulga atividades do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem revelado uma Dilma mais descontraída e sorridente. A ministra aparece, por exemplo, pescando no Rio São Francisco, ao lado do presidente da França, Nicolas Sarkozy, beijando a bandeira da escola de samba Mangueira e cumprimentando pessoas nas viagens pelo Brasil.

Mesmo com afastamentos para tratamento de doença, Dilma deve bater em poucos dias o total de fotos divulgadas no ano passado. De janeiro a dezembro de 2008, o site divulgou 187 imagens da ministra. Em 2007 e 2006, quando ainda não tinha o nome ligado à sucessão presidencial, ela apareceu em 93 e 76 fotos, respectivamente.

Não faltam imagens da ministra da Casa Civil ao lado de Lula. As fotos mostram sempre a ministra em conversas de pé de ouvido com o presidente. Em outras, ela aparece em mesas de reuniões e palanques montados para Lula nas viagens do presidente pelo Brasil.

Nas imagens de 2006 a 2008, Dilma aparece como a técnica do governo, sempre como coadjuvante das ações e solenidades do Planalto. Neste ano, as fotografias da ministra também diferem pela mudança no visual. Dilma tirou os óculos de armações grossas, mudou o corte do cabelo e o figurino. Agora, está mais presente em eventos populares e apresentações de artistas, sempre com olhos atentos e de admiração.

O site passou a exibir Dilma como protagonista. Em 2009, ela apareceu sozinha ou sem a presença do presidente Lula em 30 fotografias. No ano passado, foram apenas sete imagens dela sem o presidente. Em 2007 e 2006, ela não teve imagens desse tipo divulgadas pelo site da Presidência.

Lula dá de ''400 a 0'' em FHC, diz ministra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em tom de campanha, Dilma defende continuidade do governo do PT e faz comparações com o período anterior

Nicola Pamplona e Kelly Lima, RIO

Pré-candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, aproveitou o batismo de um navio em Niterói, no Rio, para subir o tom na defesa da candidatura petista. Em discurso para trabalhadores, empresários e autoridades locais, Dilma defendeu a continuidade do governo Lula e fez diversas comparações com o período do tucano Fernando Henrique Cardoso. "Nosso governo dá de 400 a zero no anterior", afirmou a ministra em entrevista após a cerimônia, realizada no estaleiro STX Europe.

"O presidente Lula já começou a mudar esse País e, para nós, a continuidade do governo do presidente Lula significa, junto com os senhores, avançar cada vez mais. Essa parceria entre governos, trabalhadores e empresários é a parceria vitoriosa para esse País", discursou, após receber homenagem do Sindicato Nacional da Indústria de Construção Naval.

Dilma foi convidada pelo STX Europe para ser madrinha da embarcação Skandi Ipanema, que vai apoiar as operações petrolíferas do grupo de Eike Batista. Ainda no palanque, a petista iniciou as comparações com o governo FHC.

"Diante da crise, por exemplo, o governo anterior aumentou tributos e juros, reduziu investimentos e deprimiu o País", disse. "Nós, pelo contrário, reduzimos IPI e juros e aumentamos investimentos, gerando empregos." Acrescentou: "Comparar o Bolsa-Família, que atende a 11 milhões de famílias, com o vale gás do governo anterior é patético." E citou a questão social como "um marco desse governo".

Na entrevista concedida após o evento, Dilma declarou que a oposição tem medo de comparações entre as duas gestões. No mês passado, o DEM, PSDB e PPS protocolaram representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Lula e a ministra, acusando-os de antecipar o início da campanha com viagens para inaugurações de obras. "Entendo o nervosismo. Depois que falam tudo o que querem, dizem "agora, não vamos polemizar". Tudo o que quero é comparar.
Tomamos gosto pela coisa", disse a pré-candidata do PT.

Antes de seu discurso, Dilma já havia recebido elogios e apoio de praticamente todos os oradores, incluindo o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho (PMDB), o prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira (PDT), e o presidente da Transpetro, Sérgio Machado.

Contratante da embarcação, o empresário Eike Batista, afirmou que o Skandi Ipanema "vai ter a maior sorte, por ter como madrinha a ministra Dilma", que foi saudada por sindicalistas como "o alicerce" para o renascimento da indústria naval brasileira.

Em São Paulo, o governador José Serra, principal pré-candidato à Presidência do PSDB, não quis comentar as críticas dirigidas à gestão FHC, da qual foi ministro da Saúde.

Colaborou Ricardo Brandt

Pane em Itaipu, causa apagão em 10 estados e no Paraguai

DEU EM O GLOBO

Usina para pela primeira vez na história, Rio é o mais atingido

Ventos fortes e tempestades derrubaram uma linha de transmissão de Furnas, entre Paraná e São Paulo, paralisando completamente, pela primeira vez na história, a usina hidrelétrica de Itaipu. A pane, que começou às 22h10m, causou a interrupção de energia em 10 estados, no Distrito Federal e no Paraguai. O Estado do Rio foi o mais castigado. A falta de energia provocou caos em diversas cidades, com desligamento de sinais de trânsito, fechamento de restaurantes, paralisação de conexões de metrô e trens. O trânsito ficou confuso. O governador Sérgio Cabral, que estava em Brasília, mandou reforçar o policiamento. Bandidos fizeram arrastão em torno do Maracanã, aproveitando a escuridão. Por volta de 1h de hoje, a luz começou a voltar na Barra e no Leblon.

Blecaute atinge dez estados

Rio é o mais afetado. Tempestade teria derrubado o sistema de Itaipu

NA PRESIDENTE Vargas, Centro do Rio, só se vê a iluminação dos faróis dos carros. Em frente ao prédio "Balança mas não cai", a Central do Brasil está mergulhada na escuridão

Mônica Tavares, Ilimar Franco, Gustavo Paul, Ramona Ordoñez e Bruno Rosa

Uma tempestade que teria atingido uma linha de transmissão de Furnas, entre Ivaiporã (Paraná) e Tijuco Preto (São Paulo), causou um apagão de energia elétrica em pelo menos dez estados na noite de ontem e madrugada de hoje. A linha trazia energia gerada pela usina hidrelétrica de Itaipu e fazia parte do sistema interligado Sul-Sudeste.

O Rio de Janeiro foi o estado mais atingido, desde as 22h10m de ontem. Houve interrupção de energia elétrica ainda em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Foram atingidos também, parcialmente, os estados de Goiás, Pernambuco e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal e até o Paraguai. No início da madrugada, a luz começou a voltar em algumas regiões. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que os técnicos de Itaipu informaram que hoje cedo o fornecimento de energia nos estados atingidos deve estar restabelecido.

Em Brasília, Lobão estava reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os governadores Sérgio Cabral (Rio de Janeiro) e Paulo Hartung (Espírito Santo), no Centro Cultural Banco do Brasil, para discutir a distribuição dos royalties do pré-sal, quando foi informado do problema:

- Quero crer que grandes tempestades podem ter relação com o incidente - disse.

Linhas desligadas por segurança

Segundo fontes do governo, a tempestade teria atingido uma linha de transmissão de 750 kilovolts (KV), possivelmente devido a um raio, tempestade ou ventos fortes, levando a uma reação em cadeia. Como o sistema de energia do Brasil é interligado, quando há uma interrupção de energia, outras linhas são desligadas. O ministro Lobão não quis comentar a possibilidade de o apagão ter sido causado por algum tipo de ataque de hackers, mas disse que tudo será averiguado.

O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, estava ontem à noite acompanhando em tempo real todas as informações do Operador Nacional do Sistema (ONS), em Brasília, sobre o apagão e informou.

- Itaipu desligou toda, tanto do lado brasileiro quanto do paraguaio. A preocupação agora do ONS é religar as linhas, mas o que sabemos é que ainda chove muito forte na região - disse Nelson Hubner.

Itaipu cai totalmente pela primeira vez

De acordo com informações da assessoria de imprensa de Itaipu, "a hidrelétrica estava com todas as chaves de 50Hz e 60Hz desligadas".

O presidente de Itaipu, Jorge Sameck, em entrevista à Globonesws, informou que foi a primeira vez que a usina de Itaipu foi totalmente desligada.

- Com absoluta certeza, foi uma ventania muito forte - disse.

Perto de Foz de Iguaçu, houve temporais muito fortes, com árvores arrancadas. O temporal teria causado a queda da linha de transmissão. No Paraguai, a luz começou a voltar em cerca de 20 minutos após a interrupção.

Hoje, com helicópteros, será possível saber a localização exata do acidente, abrindo caminho para uma tentativa de recuperação das redes.

A falta de energia provocou caos em diversas cidades, com desligamento de sinais de trânsito, fechamento de estabelecimentos comerciais e paralisação de conexões de metrô e trens e arrastões por diversas ruas. No Rio, o presidente da Cedae, Wagner Victer, informou que a paralisação atingiu também as estações de tratamento de água do Guandu e Laranjal.

No Rio, muitos celulares também pararam de funcionar por excesso de demanda. Segundo técnicos do setor, as torres de telefonia móvel contam com baterias que têm autonomia de duas horas em caso de uso excessivo da rede. Com o aumento da demanda, houve congestionamento no sistema.

Por volta de 1h, a luz começou a voltar na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade. Logo depois, os bairros do Leblon e da Lagoa também tiveram a energia restabelecida.

Em Recife, o blecaute durou cerca de uma hora, mas não atingiu todos os bairros. A região turística ficou às escuras, mas a luz começou a voltar por volta de 23h (meia-noite de Brasília). No Espírito Santo, faltou luz no estado inteiro, deixando muita gente presa em elevadores e o trânsito confuso.

O diretor-geral da Aneel afirmou que apenas hoje deverá ser possível apontar as causas preliminares do apagão. Porém, um relatório mais detalhado com as razões que levaram ao blecaute será elaborado pelos técnicos. Depois de receber o relatório do ONS narrando os acontecimentos, o procedimento da Aneel é fazer a fiscalização. Caso seja definido que uma ou mais empresas sejam culpadas pelo apagão, elas deverão ser multadas.

O jogo Brasiliense x São Caetano, pela 35ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, foi cancelado por falta de energia elétrica, provocada por uma forte chuva, no Estádio Boca do Jacaré, em Taguatinga. A CBF marcará uma nova data.

Apagão ganha repercussão externa

O apagão ganhou repercussão nos sites internacionais. Era mencionado na primeira página do "New York Times" - chamando a atenção para o fato de as duas maiores cidades do país, Rio e São Paulo, estarem às escuras - e também no site da rede CNN. No espanhol "El País", era a principal notícia, afirmando que milhões de brasileiros ficaram sem luz.

COLABORARAM Ana Paula Carvalho, Especial para O Globo, e Janaína Figueiredo

Un apagón deja sin luz a millones de personas en Brasil y Paraguay

DEU EM EL PAIS (ESPANHA)

Una falla en la central hidroeléctrica de Itaipú deja a oscuras a todo Paraguay y a amplias zonas de São Paulo y Río de Janeiro

AGENCIAS - Río de Janeiro - 11/11/2009

Un fallo en la central hidroeléctrica de Itaipú ha dejado esta noche sin luz a millones de personas en siete estados brasileños y en el vecino Paraguay. La falla ha causado un apagón en las ciudades de Sao Paulo y Río de Janeiro, donde viven más de 30 millones de personas, y según la Administración Nacional de Electricidad ha dejado a todo Paraguay sin energía durante 30 minutos.

El apagón se ha producido poco después de las diez de la noche, hora local, y ha afectado a diversas ciudades de los estados de São Paulo, Río de Janeiro y Minas Gerais, los más populosos del país. La falta de energía ha afectado también a algunas zonas de los estados de Espíritu Santo y Pernambuco, según el portal de noticias G1, mientras que otros medios hablan de fallas también en el estado de Mato Grosso do Sul.

El director de la central de Itaipú ha asegurado a medios locales que la totalidad de la producción de la central se ha visto afectada. La central, situada en la frontera entre ambos países, proporciona el 20% de la energía consumida en Brasil y mas del 90% de la utilizada en Paraguay.

El Operador Nacional del Sistema Eléctrico (ONS) de Brasil ha informado de que el fallo provocó la caída de 17.000 megavatios, el equivalente al utilizado en todo el área de São Paulo, según informaciones de O Globo recogidas por Europa Press.

El tráfico en las calles de São Paulo se ha visto afectado y miles de pasajeros se han visto obligados a abandonar vagones de metros que no funcionaban y a caminar en las vías subterráneas para volver a la superficie.

La falla ha interrumpido también el funcionamiento del metro de Río de Janeiro y ha afectado a los dos aeropuertos de la ciudad, el internacional Antonio Carlos Jobim y el Santos Dumont. Igualmente se producido un colapso de las líneas telefónicas fijas y celulares. Hora después del apagón, el servicio de electricidad se reestablece lentamente.

El ministro de Minas y Energía, Edison Lobo, se ha reunido este martes en Brasilia con el presidente Luiz Inácio Lula da Silva, y los gobernadores de la ciudad de Río de Janeiro, Sérgio Cabral, y de Espírito Santo, Milton Hatum, dos de las zonas más afectadas. La capital no ha registrado problemas al respecto.