sábado, 31 de julho de 2010

Reflexão do dia – Luiz Werneck Vianna


A partir dos anos 1970, em uma iniciativa de Ênio Silveira, à testa da Editora Civilização Brasileira, iniciam-se as primeiras publicações da obra de Gramsci, que logo ingressa no panteão dos clássicos selecionados pela bibliografia brasileira em ciências sociais, muito particularmente em razão da sua teoria por sob nova luz a natureza da modernização autoritária, então em curso sob regime militar. Fiz parte desse movimento intelectual, atraído, como tantos da minha geração, pela capacidade de explicação dos conceitos e categorias desse autor, que favoreciam perspectivas originais para o estudo da nossa realidade, e, sob essa inspiração, o tema da revolução passiva dominou o argumento que desenvolvi em Liberalismo e Sindicato no Brasil, publicado em 1976.


(Luiz Werneck Vianna, no artigo, ‘Revolução passiva e República’, no Valor Econômico, segunda-feira, 26/7/2010)

O poder da ideia :: Cacá Diegues

DEU EM O GLOBO

Em 1865, o quadro "Olympia", do pintor Edouard Manet, pai do impressionismo, foi recusado pelo Salão de Belas Artes de Paris. Exposto então no Salão dos Recusados, "Olympia" provocou escândalo sem precedentes. O quadro retratava uma mulher nua deitada na cama, enquanto uma criada negra lhe traz flores e um gato preto, aos pés da moça, nos encara do canto direito da tela. Além de mal pintado, um borrão de cores, atentado à boa pintura de uma época neoclássica, paródica e acadêmica, "Olympia" foi acusado também de indecente e pornográfico. Jornalistas e escritores zombavam de Manet, professores e estudantes de Belas Artes indignavam-se com ele, mães de família em passeatas cobriam o quadro para que não fosse visto. Paris inteira linchava "Olympia".

Somente o escritor e jornalista Émile Zola ousou defender publicamente o pintor e sua obra. Num artigo em que anunciava o nascimento de uma nova arte e de uma nova moral na produção artística francesa, Zola só lamentava a presença do gato preto no canto da tela que, segundo ele, servia apenas como ornamento desnecessário, elemento de distração no rigor poético da composição. Diante do clamor geral, o diretor de seu jornal exigiu que Zola se retratasse e, como o escritor se recusasse a fazê-lo, foi despedido e viu as portas de todos os jornais franceses se fecharem para ele. Manet, como agradecimento por seu gesto, pintou-lhe então um retrato que se encontra exposto no Museu d"Orsay, ao lado do "Olympia". Nesse quadro, Zola está a escrever, cercado de livros e, na parede do cômodo, o pintor reproduziu o "Olympia", sem o gato preto no canto da tela.

O grande escritor naturalista passaria depois à história como um dos inventores do papel do intelectual combatente, do maître à penser, quando denunciou, com seu manifesto "J"accuse", a manipulação política, o preconceito e a hipocrisia racista no famoso Caso Dreyfus. De Émile Zola a Susan Sontag (que teve a ousadia de explicar ao americano comum o que ele não havia entendido do 11 de setembro), muitos desses intelectuais não arriscaram apenas seu reconhecimento, mas, às vezes, a própria vida no cumprimento da missão de pensar o mundo e o estado das coisas segundo sua própria consciência, conhecimento e intuição, sem se submeter à palavra de ordem majoritária de grupos, partidos ou corporações.

É em nome disso que não tenho partido, nunca tive um, não tenho gosto pela vida partidária. Para falar a verdade, não gosto de artistas ou intelectuais "orgânicos", aqueles que submetem o que pensam à razão política de suas organizações. O que não impede que seja justo se interessar por política e manifestar sua opinião sobre ela. A diferença é que, mesmo sendo sincero, o político precisa dizer sempre aquilo que ficar mais próximo do que seu interlocutor deseja ouvir; e, ao intelectual, cabe mostrar o que nem sempre é visto, mesmo quando inoportuno ou inconveniente. Perturbar, com o poder da ideia, a harmonia construída pela ideia de poder.

O paradoxo de minha adesão irrestrita à democracia representativa é que desconfio e tenho medo daqueles que desejam mandar nos outros, embora considere inevitável e desejável que elejamos nossos governantes. E, já que temos que os eleger, pensemos no que seus programas podem nos oferecer. Assim, é claro que, nas próximas eleições, cada um de nós tem o direito e mesmo o dever de escolher um dos candidatos a presidente da República, segundo nossos interesses e necessidades.

Mas, no Brasil, artistas e intelectuais são tratados como bumbos de comício, alegres animadores do carnaval de palanques, figurinhas premiadas nos álbuns de campanhas políticas. É dramático observar como em nenhum discurso, artigo, entrevista, debate ou programa de governo dos principais candidatos (vi todos na internet), há uma só referência à cultura. Nenhum deles se manifestou, até aqui, sobre o assunto. E a cultura, com toda a sua complexa multiplicidade material, tecnológica e virtual de hoje em dia, é a flor de uma nova era do conhecimento, o fator das mudanças que a humanidade do século 21 vai assistir, como nunca antes na história desse planeta.

Desse jeito, o gato preto ornamental vai ficar para sempre no canto da tela. Os heróis do século 21 serão aqueles que não precisam escolher porque sabem que, quanto menos escolherem, menos perderão.

Cacá Diegues é cineasta.

Por que fogem? :: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A democracia se encolhe quando em época de campanha os candidatos acham que têm mais a ganhar não falando. De que forma conhecê-los melhor senão através de debates, entrevistas? Dilma Rousseff tem usado a estratégia de fugir de qualquer ambiente que não controle, com pequenas experiências fora desse padrão. Agora, José Serra começou também a se negar a ir a debate. Que eleições teremos?

O debate na internet seria muito bom, se tivesse sido. Um deles, de alguns dos portais, estava marcado para a última segunda-feira e não aconteceu. Novas mídias, formato a ser ainda experimentado pelos jornalistas com mais liberdade e interatividade. Dilma fugiu. Serra fugiu em seguida alegando que Dilma fugiu. Erraram os dois. Antes, só Dilma estava dizendo não a tudo o que ela e sua assessoria entendiam que pudesse trazer algum risco. É um espanto que quem pensa em governar o Brasil tenha medo de uma entrevista ou um debate. Terão medo dos seus próprios pensamentos? De serem traídos por suas palavras? De revelarem o que realmente pensam e, assim, fugirem ao personagem inventado pelo marketing? A negativa é suspeita em si.
Quando um candidato está muito na frente, ele costuma evitar riscos. Mas no caso, os dois estão se alternando no primeiro lugar. O jogo ainda está sendo jogado. Serra estava indo a entrevistas e se expondo, mas no último debate decidiu errar junto com sua adversária. Toda entrevista é uma oportunidade de expor o pensamento. Isso só pode ajudar o eleitor e o próprio candidato. Todo debate é uma salutar forma de confrontar ideias e estilos. Serra vinha criticando Dilma por fugir de entrevistas e debates, mas agora o que tem a dizer? Dilma revela com sua fuga que tem medo de sua falta de experiência em situações de stress normais em campanhas eleitorais. E Serra? Ele costuma dizer que já fez nove campanhas eleitorais.

Desde 1998 tenho entrevistado, na Globonews, os candidatos a presidente. Em algumas dessas eleições houve até duas rodadas de entrevistas. Só uma vez, na primeira rodada de 2002, por volta de abril, ocorreu uma recusa: a de Anthony Garotinho. Na segunda vez ele foi. Todas as entrevistas, com todos os candidatos, foram esclarecedoras. Jornalista em época de eleição deve fazer perguntas sobre os pontos fracos, não esclarecidos, contradições dos candidatos. Por que seria diferente? Para questões que levantem a bola existe o horário eleitoral. O contraponto são as entrevistas e debates. Que credibilidade pode ter uma entrevista de Dilma Rousseff a uma TV do governo? Mas a essa, com tudo sob seu controle, a candidata compareceu. Na campanha deste ano, a Globonews convidou os três candidatos mais competitivos para serem entrevistados por mim. Os representantes de Dilma Rousseff foram para as reuniões preparatórias, mas ela não quis comparecer. Marina Silva e José Serra deram respostas esclarecedoras sobre vários pontos que levantei. Escrevi sobre as entrevistas nesse espaço de coluna. O trabalho ficou incompleto porque não pude perguntar nem escrever sobre o pensamento de Dilma Rousseff. Fiquei com a sensação de que ela acha que tinha mais a ganhar não sendo entrevistada do que sendo. O que é esquisito, para dizer o mínimo.

Se a recusa tivesse sido só para um programa poderia ter sido apenas uma escolha num conflito com outras atividades de campanha, ou outra qualquer questão subjetiva que se deve respeitar. Mas Dilma recusou também a ida à sabatina da "Folha de S.Paulo". Pior: tinha já previsto e marcado a ida, quando decidiu cancelar. Espantoso. Aos jornalistas, cabe apenas fazer perguntas, por mais difíceis que sejam são apenas perguntas. O candidato tem todo o tempo, e a chance, das respostas. O que Dilma Rousseff revelou, fugindo da sabatina tradicional da "Folha", sempre tão bem feita, tão esclarecedora, é que tem medo não das perguntas, mas de suas respostas.

Essas fugas iniciais não foram boas, mas ainda há vários outros eventos jornalísticos programados e sempre haverá tempo para o confronto das ideias, programas, projetos e estilos. Tomara que novas fugas não aconteçam. Ainda há chance de corrigir esse perigoso desvio das eleições de 2010. No Rio, o candidato que está na liderança nas intenções de votos para o governo, o atual governador Sérgio Cabral disse que mudou de ideia e vai comparecer aos debates. Ótimo. Os candidatos precisam falar e se expor aos diversos tipos de pressão, porque é assim a democracia. Essa campanha já tem uma enorme distorção provocada pela presença abusiva do presidente da República, em campanha aberta, usando toda a força da máquina, todos os eventos de governo, alterando cronogramas de eventos até de estatais como a Petrobras só para construir vitrines para sua candidata. Lula fala por ela. Isso desequilibra a disputa, não por ele ser algum super-homem, mas porque ele está no supercargo. Isso distorce o ritual da escolha que o eleitor precisa fazer serenamente e com o conhecimento sobre os candidatos em si.

Se a campanha for assim, com candidatos fugindo ao debate, a candidata governista tutelada pelo presidente da República, a máquina e os recursos públicos sendo usados de forma explícita, teremos um retrocesso político grave, seja qual for o resultado das eleições. Essas atitudes enfraquecem a busca de soluções, oportunidade aberta pelo processo eleitoral. No fim, encolhem a democracia.

Guerrilhas e finanças :: Cesar Maia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A questão central das guerrilhas sempre foi a de financiamento e logística. Afinal, armas e munição não caem do céu. A apropriação em combate no máximo conta-se em unidades. Por ideologia, a atração de recursos humanos e a motivação dos guerrilheiros podem ser resolvidas. Medicamentos, comida e uniformes, até se conseguem em ação.

Nos anos 80 as guerrilhas de esquerda latino-americanas atingiam seu auge, inspiradas em Cuba, no Vietnã e na tomada de poder pelos sandinistas na Nicarágua em 1979. Tive uma longa conversa, em Manágua, em 2006, com Éden Pastora -o mítico Comandante Zero-, que tomou o Palácio Nacional em 1978.

Todo o encanto ideológico se desfez para ele no momento da ocupação do poder, quando as lideranças deram lugar aos parentes e amigos de Ortega, que governou até 1990 e voltou ao poder agora, num escabroso acordo.

O processo de paz com as guerrilhas de Guatemala, El Salvador e Honduras se deu na primeira metade dos anos 90, com celebração pela ONU.

A entrega de armas e a paz seriam inevitáveis depois da queda do Muro de Berlim em 1989, da implosão do Pacto de Varsóvia e da desintegração da União Soviética em 1991. Com o término do subsídio soviético ao açúcar cubano e sem as fontes de financiamento da Europa Oriental, as guerrilhas centro-americanas foram perdendo fôlego.

O processo de paz, liderado pela ONU, foi nesse sentido quase humanitário. A democratização veio com a superação das ditaduras de direita patrocinadas pela United Fruit e congêneres, cujo caso mais extravagante foi o da ditadura "hereditária" somozista na Nicarágua. As guerrilhas transformadas em partidos políticos.

Mas há exceções, ambas na América do Sul. As Farc e o ERP na Colômbia e o Sendero Luminoso no Peru. Nos três casos as fontes público-ideológicas de financiamento das guerrilhas foram substituídas por fontes "privadas".

Primeiro as extorsões mediante sequestro, que passaram a somar milhares por ano, alcançando centenas de milhões de dólares. E em seguida o tráfico de cocaína. Inicialmente com as guerrilhas cobrando pedágio para a passagem da cocaína. E em seguida com elas mesmas dando proteção à produção de coca e cobertura aos traficantes.

A liquidação dos grandes cartéis de cocaína deu curso a sua pulverização, facilitando o "trabalho" das guerrilhas. Substituídas as fontes de financiamento públicas por "privadas", o "ouro de Moscou" pela cocaína, as guerrilhas se consolidaram nos anos 90, especialmente as da Colômbia. Que ainda estão aí oxigenadas pela cocaína.


Cesar Maia escreve aos sábados nesta coluna.

Brasil não pode ver um só lado :: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Ainda há chance de tirar a Unasul da irrelevância; para isso, Lula deve ser intermediário confiável

Se o governo brasileiro quer evitar que a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) resvale para a irrelevância, precisa não só ser como parecer ser o que o jargão diplomático chama de "honest broker" -um intermediário confiável para as partes em conflito, no caso Venezuela e Colômbia.

Por enquanto, não é, ao menos aos olhos da Colômbia, de que dá prova cristalina a crítica do presidente Álvaro Uribe a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira nos oito anos de gestão de cada um deles.

O pano de fundo da crítica, pelo que a Folha apurou, é este: quando a Colômbia anunciou o acordo para o uso de bases colombianas por militares norte-americanos, o Brasil reagiu duramente (dureza só retórica, mas dureza). Agora que o governo colombiano denuncia a presença das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na Venezuela, Lula não diz nada.

A comparação entre as duas cessões de território parece um pouco de exagero, dada a imensa diferença de poder entre os Estados Unidos e as Farc. Mas o exagero encolhe quando se olha passado e presente.

Os Estados Unidos foram de fato uma ameaça à segurança da América Latina, em especial durante os anos da Guerra Fria. Dispensável listar todas as intervenções promovidas ou apoiadas por Washington, com funestas consequências para os países vítimas.

Terminada a Guerra Fria, no entanto, os Estados Unidos já não têm o pretexto de antes, o de evitar que alguma nação latino-americana caísse na órbita soviética. Hoje, cairiam na órbita de quem? De Cuba, que não tem onde cair morta?

O fato é que nenhum dos governos do subcontinente tem afetado interesses vitais americanos. Nem mesmo a Venezuela de Chávez, que manda para os EUA metade do petróleo que exporta - e que é sua única riqueza.

Nem, também, o Equador de Rafael Correa que, é bom não esquecer, mantém o dólar como moeda, o que é renunciar a uma fatia não desprezível da soberania.

VERDADEIRA AMEAÇA

Hoje, a principal ameaça à segurança dos países sul-americanos está dada pelo crime organizado, cujo financiamento depende, em boa medida, do narcotráfico, atividade à qual se dedicam as Farc.

Portanto, as Farc, estas sim, representam uma ameaça.

Para ser visto como intermediário honesto, o Brasil poderia, perfeitamente, preocupar-se com as bases norte-americanas na Colômbia mas não poderia assobiar e olhar para o lado em relação às denúncias da Colômbia, como o fez até agora.

É bom lembrar que a Unasul toma suas decisões por consenso. Logo, sem o voto colombiano (e peruano e agora chileno), a Unasul está condenada a decidir não decidir.

A alternativa à coragem de ver de fato os dois lados é esperar que o novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, prefira deixar hibernando a denúncia feita por Uribe e restabeleça as relações com a Venezuela. Pode até acontecer, mas será apenas varrer a sujeira - as Farc e as relações delas com a Venezuela - para baixo do tapete.

O preço da verborragia – Editorial / O Estado de S. Paulo

Os iranianos que se manifestavam contra a fraude que permitiu a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em junho do ano passado, nada podiam fazer quando o presidente Lula comparou os seus protestos ao "choro de perdedor" dos torcedores de um time de futebol e reduziu os choques de rua em Teerã entre os opositores e as forças de repressão do regime a "apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos".

Também os presos políticos cubanos não tinham como responder ao dirigente brasileiro quando, em março último, ele condenou a greve de fome que levou à morte o dissidente Orlando Zapata Tamoyo, por sinal na véspera de uma visita de Lula a Havana, onde considerou o seu sacrifício "um pretexto para liberar as pessoas" - e foi além. "Imagine", comparou, "se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade."

Muito menos poderia retrucar ao presidente a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento por alegado adultério. Perguntado dias atrás sobre a campanha "Liga Lula" para que interceda pela sentenciada junto ao seu bom amigo Ahmadinejad, ele reagiu: "As pessoas têm leis. Se começarem a desobedecer as leis deles para atender o pedido de presidentes, daqui a pouco vira uma avacalhação."

Mas há quem possa dar-lhe o troco. Foi o que fez o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, depois que um leviano e boquirroto Lula desdenhou do agravamento das tensões entre Bogotá e Caracas. O protoditador Hugo Chávez rompeu as relações da Venezuela com o país vizinho em represália à decisão colombiana de apresentar na OEA as provas da presença de 1.500 membros da organização narcoterrorista Farc em território venezuelano, obviamente sob a proteção do caudilho.

Lula, cuja primeira manifestação a respeito já tinha deixado claro o seu alinhamento automático com Chávez - "as Farc são um problema da Colômbia, e os problemas da Venezuela são da Venezuela", sofismou -, reincidiu na quarta-feira, véspera da reunião dos chanceleres da ineficaz União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em Quito. O tema do encontro, que deu em nada, era o conflito político entre os dois países. "Falam em conflito, mas ainda não vi conflito", minimizou Lula. "Eu vi conflito verbal, que é o que mais ouvimos aqui nessa América Latina."

Equiparar a um bate-boca um problema dramático para a Colômbia, que passou 40 anos sob o terror das Farc antes de serem reduzidas à mínima expressão possível pela firmeza com que as enfrentou o presidente Uribe, foi nada menos do que um inconcebível insulto a uma nação e ao seu governante. Uribe, que difere de Lula por falar pouco e fazer muito, não poderia fingir que não ouviu a afronta.

Ele replicou com a mais dura mensagem já dirigida a um chefe de Estado brasileiro, até onde chega a memória. "O presidente da Colômbia", dispara a nota, "deplora que o presidente brasileiro, com quem temos cultivado as melhores relações, refira-se a nossa situação com a Venezuela como se fosse um caso pessoal." Uribe ainda o acusou de ignorar a ameaça que a presença das Farc na Venezuela representa "para a Colômbia e o continente".

Trata-se da primeira demonstração da perda de respeito por Lula no exterior - e ele só tem a culpar por isso a sua irreprimível logorreia. Não terminasse o seu mandato daqui a 5 meses, a erosão de sua imagem internacional só se intensificaria. Não seria de espantar se um dia alguém o admoestasse, como o rei da Espanha, Juan Carlos, fez com o bravateiro Chávez, perguntando-lhe: "Por qué no te callas?" Não bastasse a grosseria, Lula nada fez para assegurar aos colombianos de que poderia ser um intermediário isento entre Bogotá e Caracas.

Ele parece ecoar a batatada do chanceler venezuelano Nicolas Maduro, que falou de "um plano de paz sul-americano" para resolver "a questão de fundo" da Colômbia com as Farc. Ao que o seu colega colombiano Jaime Bermudez contrapôs ironicamente a ideia de um hipotético "plano de democracia para a Venezuela". Pensando bem, talvez fosse mesmo melhor Lula se ocupar do Irã em vez de fazer papelão perante os vizinhos do Brasil.

Alvaro Uribe tem razão – Editorial / O Globo

Impregnado de soberba pelos altíssimos índices de popularidade ao longo de quase oito anos de governo, o presidente Lula tem dado inúmeras demonstrações de que pensa estar acima de tudo e de todos. A Justiça eleitoral que o diga. São conhecidas suas tiradas e improvisos em declarações oficiais e de campanha, bem-humoradas umas, exageradas algumas, despropositadas outras. Ao longo do tempo, a reação passou a ser "mais uma do Lula", e deixa para lá. Mas, na política externa, as declarações do presidente têm causado estragos. É o que aconteceu com afirmação sobre o incidente entre Venezuela e Colômbia. Lula disse não ver ali um confronto, apenas "um conflito verbal" e pediu paciência até a posse do presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, dia 7.

Ele ignorou solenemente que o cerne do problema não é o presidente colombiano Alvaro Uribe, em despedida do cargo, nem o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Mas, sim, a presença de 1.500 homens das narcoguerrilhas colombianas Farc e ELN em território venezuelano, conforme alerta de Bogotá. Uribe denunciou o fato de o governo da Venezuela nada fazer para impedir que essas forças terroristas, que lutam para desestabilizar a Colômbia, permaneçam em solo venezuelano, fora do alcance do Exército colombiano. Em resposta, Chávez rompeu as relações com Bogotá.

O pior para o governo brasileiro é que Uribe criticou publicamente as afirmações, deplorando "que o presidente Lula se refira à nossa situação com a Venezuela como se fosse um caso de assuntos pessoais (...)".

Neste final de mandato, o governo brasileiro acentuou o caráter ideológico de sua política externa, com péssimo resultado para a credibilidade do país, principalmente como interlocutor confiável na resolução das divergências entre os países sul-americanos. Nesse caminho, a diplomacia brasileira abre mão de parâmetros éticos quando finge não ver grave desrespeito aos direitos humanos em Cuba; quando finge ver "excesso de democracia" (nas palavras de Lula) na Venezuela; quando finge que as Farc não são uma organização narcoterrorista; quando finge acreditar nos propósitos nucleares da ditadura do Irã, quando deseja apenas espicaçar os Estados Unidos, e ainda faz vista grossa ao atropelamento dos direitos humanos por Ahmadinejad.

Uma das características da diplomacia lulista foi ressuscitar o viés esquerdista e antiamericano de alguns líderes populistas do chamado Terceiro Mundo de 50 anos atrás. Um dos exemplos disso é a Unasul, organização criada para se contrapor à OEA, e que por isto exclui os Estados Unidos. Tão artificial é a ideia de que os problemas no continente possam passar ao largo de Washington que a própria reunião da Unasul sobre o conflito entre Venezuela e Colômbia foi esvaziada. Ao criticar o comportamento brasileiro no episódio, o presidente Uribe chama indiretamente a atenção para o fato de, desde o primeiro mandato, Lula ter mantido uma relação próxima com a Venezuela e fria com a Colômbia. Pena, porque a primeira está cada vez mais próxima de uma ditadura efetiva - a chavista. E a segunda, apesar dos inúmeros problemas internos, tem conseguido aperfeiçoar sua democracia. O lulismo prefere más companhias, por simples viés ideológico.

Gabeira e governador em novo 'round'

DEU EM O GLOBO

Oponentes trocam mais acusações, agora sobre quem conhece mais o estado

Henrique Gomes Batista e José Meirelles Passos

As trocas de acusações entre os dois principais candidatos ao governo do Rio subiram ontem de tom. Fernando Gabeira (PV) disse conhecer mais a realidade do estado que Sérgio Cabral (PMDB) e criticou a educação e o saneamento básico nas favelas. O candidato à reeleição, por sua vez, afirma que seu oponente investe no "quanto pior melhor" e que apenas critica em vez de propor.

Pela manhã, após visita à comunidade Parque União, no Complexo da Maré, Gabeira rebateu a ironia de seu adversário, que dissera, na véspera, que o deputado precisa conhecer melhor o estado. Cabral dera a declaração depois que o jipe que Gabeira usava na campanha ter quebrado na estrada RJ-113, devido aos buracos na pista. O candidato do PV criticou o governador que, segundo ele, utiliza helicópteros em grande parte de seus deslocamentos:

- Cabral disse que eu ficar a pé na Baixada Fluminense era para eu conhecer o estado. Bom, quem está de jipe na estrada conhece melhor o estado do que quem anda de helicóptero.

Segundo Gabeira, os maiores problemas do Parque União são a falta de saneamento e escolas de ensino médio. Ele caminhou, por mais de uma hora, pelas ruas da comunidade acompanhado do candidato ao Senado Marcelo Cerqueira (PPS) e do vereador Paulo Messina (PV).

- Na Maré, há uma rede com 14 escolas municipais de ensino fundamental e apenas uma estadual de ensino médio. Há um afunilamento que precisa ser resolvido - disse, após visitar o Museu da Maré, onde prometeu colocar o local no roteiro turístico da cidade.

Na caminhada, Gabeira encontrou moradores que faziam manutenção na rede de saneamento com recursos próprios. Segundo eles, prefeitura e estado empurravam a responsabilidade, sem resolver o problema. Gabeira disse que a situação tem que ser solucionada e disse que essa era a maior reclamação entre os moradores.

Após inaugurar o Comitê Nacional dos Trabalhadores de apoio à sua candidatura e de Dilma Rousseff (PT), Cabral rebateu as frequentes críticas de seu adversário, sugerindo que ao fazê-las Gabeira apenas insiste numa estratégia eleitoral obsoleta:

- O candidato adversário está na linha do quanto pior, melhor. Mas o Rio vive o quanto melhor, melhor. Ainda achamos problemas em alguns lugares. Mas o da falta de esgoto, que ele disse ter visto na Maré, deveria cobrar do (ex) prefeito Cesar Maia, seu candidato ao Senado, o que ele esconde.

Cabral disse que se referia ao fato de, em janeiro de 2007, ter assinado com o então prefeito Cesar Maia documento em que todo o saneamento das favelas passaria à responsabilidade da prefeitura. A mesma resposta - inclusive acusando Maia e não o atual prefeito - foi dada pela Cedae. A prefeitura não comentou. Cesar Maia, candidato ao Senado pelo DEM, divulgou uma nota sobre o assunto: "É verdade, a prefeitura assumiu, sim. E no caso da Maré, 80% contam com saneamento, embora a atual gestão da prefeitura tenha dito que interromperia o serviço. Uma pena".

A secretaria estadual de Educação informou que na Maré há duas escolas de ensino médio - o Ciep Professor Cesar Pernetta e o C.E. Bahia - e que os alunos da região também frequentam uma escola em Ramos e duas em Bonsucesso.

Itamar declara apoio formal a Serra

DEU EM O GLOBO

Marcelo Portela

BELO HORIZONTE e BETIM (MG). O ex-presidente Itamar Franco, candidato ao Senado em Minas Gerais pelo PPS, declarou apoio formal, ontem, ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra. Itamar disse ao próprio Serra que sempre defendeu que o ex-governador de Minas Aécio Neves (PSDB) fosse o candidato da oposição a presidente, mas afirmou que a "lealdade" o faz aderir à campanha do tucano paulista, seu antigo desafeto.

O encontro de Serra com Itamar ocorreu no apartamento de Aécio em Belo Horizonte, ontem à tarde. Em seguida, Serra, o próprio Aécio, candidato ao Senado, e o atual governador, Antônio Anastasia (PSDB), candidato à reeleição, fizeram uma caminhada e um encontro com líderes políticos em Betim, na Grande Belo Horizonte, sem a presença de Itamar.

- As circunstâncias levaram a que o senhor fosse o escolhido. Nós aqui estamos numa coligação em que há, sobretudo, a lealdade - disse Itamar, olhando diretamente para Serra, após afirmar que sempre defendeu Aécio.

Itamar: "Acima de tudo a ética, a lealdade"

Com o braço em uma tipoia, devido a uma fratura na clavícula, Itamar prosseguiu:

- Aqui em Minas, a gente aprende o seguinte: acima de tudo a ética, a lealdade e o comportamento que se deve ter. Eu estou numa coligação, faço parte de um partido que apoia, logo de início, a candidatura do governador José Serra. E, agora, se estou nessa coligação, cabe a mim também apoiar a candidatura.

Serra agradeceu o gesto de Itamar, ressaltando a importância da participação do ex-presidente em sua campanha, e lembrando, inclusive, conquistas de Itamar durante seu período no Palácio do Planalto.

- O apoio do (ex-) presidente Itamar tem uma enorme importância política, tem importância eleitoral e tem importância moral. É um homem que marcou a História do Brasil pela sua integridade e pelo fato de ter conduzido o Brasil à estabilidade, depois de 15 anos de superinflação. É um homem que deixou um exemplo - declarou o tucano.

Aécio agradeceu "pessoalmente" o apoio do ex-presidente a Serra:

- Nós que já estamos caminhando, levando por toda a Minas Gerais o nome do presidente Serra, e temos a convicção de que o Brasil avançará muito mais com Serra, teremos, a partir de agora, a companhia da autoridade política, da dimensão eleitoral de Itamar Franco. A campanha do Serra, que já tem uma imagem consolidada, avançará absolutamente colada na nossa campanha.

Na terceira viagem a Minas em dez dias, segundo maior colégio eleitoral do país, Serra fez questão de ressaltar o apoio que tem dos correligionários e disse que tem estado "muito à vontade" nessas visitas:

- Venho sempre contente, sempre satisfeito. Venho encontrando aqui um apoio muito grande por parte dos nossos dirigentes, do nosso partido, comandado pelo Aécio e pelo Anastasia no âmbito do PSDB. E agora, com a presença do presidente Itamar, nós, de alguma maneira, cobrimos a nossa aliança, uma vez que o presidente é membro do PPS, partido que está desde o primeiro momento na aliança nacional.

Campanha de Serra terá estrutura própria em MG

Serra confirmou ontem que sua campanha terá estrutura própria no estado, para fazer divulgação coordenada com a campanha de Anastasia, Aécio e Itamar. A criação dessa estrutura, segundo Aécio, foi sugestão pessoal a Serra.

- Há algumas semanas, sugeri ao presidente Serra que nós tivéssemos aqui uma estrutura da sua campanha que pudesse nos acompanhar em cada município. Isso é impossível de fazermos individualmente, a presença da sua campanha ao lado da nossa. Nós estamos já com nossa campanha chegando aos 853 municípios do estado - disse o ex-governador.

- Nós vamos ter, em muitos estados, comitês que cuidam especificamente de receber o material, encaminhar o material, ver questão de agenda - completou Serra, que elogiou o modelo de administração do ex-governador e disse que, caso eleito, vai implantar algo semelhante no governo federal: - Precisa melhorar muito a gestão no âmbito federal. No sentido igual era o lema de Minas: gastar menos com a máquina e mais com a população. Este é o resumo do que representa uma gestão eficiente e que nós vamos implantar no Brasil. Isso vai melhorar muito a produtividade, o rendimento de cada real que se gasta em nosso país. Melhorar o conjunto da gestão federal para poder avançar.

Em Betim, Serra voltou a criticar o custo do trem-bala. Em seguida, falou sobre o metrô de Belo Horizonte: disse que o PT ficou oito anos no poder "prometendo metrô", mas não fez as obras. E que, se fosse eleito, retomaria a obra.

Tucano palmeirense rodeado por corintianos

DEU EM O GLOBO

SÃO PAULO. O candidato a presidente pelo PSDB, José Serra, foi o convidado de um jantar oferecido pelo atacante Ronaldo, do Corinthians, anteontem, em São Paulo. Participaram da recepção, no apartamento de Ronaldo, cerca de 25 pessoas, entre elas, jogadores do time paulista, Vampeta, ex-volante e candidato a deputado federal pelo PTB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez. Ronaldo negou que o encontro represente um apoio à candidatura do tucano.

A notícia do jantar com o jogador foi parar no Twitter de Serra, ainda na madrugada de ontem. "Jantar agradável na casa do Ronaldo e da Bia. Estavam os craques Paulo André, Edu, Roberto Carlos, Elias, William", escreveu o tucano para seus mais de 300 mil seguidores. Serra divulgou duas fotos dele com Ronaldo.

O tucano até brincou com o fato de ser o único palmeirense no apartamento. "Incrível: entre umas 25 pessoas presentes ao jantar do Ronaldo, eu era o único palmeirense".

Ronaldo também usou o Twitter para falar do jantar. Mas para esclarecer que não se trata de um apoio à candidatura de Serra. "Pra ficar claro, não é apoio político. Eu e meus companheiros no Corinthians só demos sugestões para políticas públicas de apoio ao esporte", escreveu.

Em 2006, Ronaldo teve um desentendimento com o presidente Lula durante a Copa do Mundo da Alemanha. Lula, em tom de brincadeira, perguntou, numa videoconferência com a seleção, se o jogador estava mesmo gordo, como dizia a imprensa. Ronaldo não estava presente, mas respondeu depois, dizendo que merecia mais respeito e que também queria perguntar muita coisa a Lula.

O jogador prometeu fazer um jantar semelhante ao de Serra com as presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV).

Itamar promete ''lealdade'' a Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Anúncio do ex-presidente, até então reticente em declarar apoio, cria fato político para Aécio reforçar compromisso com candidato

Eduardo Kattah

Na segunda visita a Minas nesta semana, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, recebeu ontem o apoio do ex-presidente Itamar Franco (PPS). Embora integre a coligação do governador Antonio Anastasia, candidato à reeleição, e faça dobradinha com Aécio Neves na disputa pelo Senado, Itamar estava reticente apoiar publicamente Serra.

A manifestação de apoio serviu como fato político para que Aécio reafirmasse a disposição de trabalhar pela candidatura presidencial do PSDB no segundo colégio eleitoral do País.

Itamar chegou a ser cotado para o posto de vice do presidenciável tucano, mas acabou descartado. Passou a criticar a postura amena de Serra em relação ao presidente Lula e chegou a ensaiar um encontro com a candidata do PV, Marina Silva.

Durante a reunião no apartamento de Aécio, Serra filmou os presentes e fez um pronunciamento elogioso ao ex-presidente, que quebrou a clavícula em um acidente doméstico.

Após o encontro, na frente dos jornalistas, Itamar disse para Serra que sempre defendeu a candidatura de Aécio à Presidência, mas "as circunstâncias" levaram à sua escolha. "Nós aqui estamos numa coligação em que há, sobretudo, a lealdade", destacou.

Serra, por sua vez, não economizou nos afagos ao ex-presidente. Afirmou que a declaração de apoio tem enorme importância política, eleitoral e moral. "É um homem que marcou a história do Brasil pela sua integridade e pelo fato de ter conduzido o Brasil à sua estabilidade depois de 15 anos de superinflação", disse.

Mais uma vez, o presidenciável minimizou a pouca presença de sua imagem no material de campanha dos tucanos em Minas. Ele confirmou que contará com comitês específicos no Estado. "Nós vamos ter em muitos Estados comitês que cuidam especificamente de receber o material, encaminhar o material, ver questão de agenda", disse.

"Todos os nossos comitês são Serra. Mas queremos que tenha ainda mais grosso do material chegando junto. É preciso ter alguém que coordene isso", emendou Aécio. Segundo ele a campanha de Serra "avançará absolutamente colada" à chapa em Minas.

Com Aécio e Anastasia, Serra participou no início da noite de uma caminhada no centro comercial de Betim, região metropolitana de Belo Horizonte. Itamar não acompanhou os tucanos.

''Direita tenta dar golpe a cada 24 horas'', diz Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Durante comício da petista Dilma Rousseff em Porto Alegre, presidente também manteve a "elite brasileira" como alvo preferencial de suas críticas

Evandro Fadel / CURITIBA

A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, garantiu ontem (30) à noite a cerca de 400 empresários reunidos pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) que o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) continuará financiando empreendimentos a longo prazo, caso seja eleita. "Uma das realizações da área industrial foi ter clareza de que tudo o que podia ser fabricado no País seria feito", disse. "Levarei às últimas consequências como o presidente Lula levou."" Mas, segundo ela, isso não acontecerá se o crédito não for de longo prazo. ""E quem dá esse crédito é o BNDES"", acentuou, sob aplauso dos empresários. Dilma não perdeu oportunidade de criticar o governo anterior, em que, de acordo com ela, o máximo eram cinco anos. ""Hoje emprestamos por 30 anos, com TJLP e não taxa de mercado."" Dilma acentuou novamente que pretende fazer grandes investimentos no setor de educação, particularmente no ensino técnico.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também participou do evento Encontro com os Presidenciáveis, e hoje estará em comício no centro de Curitiba, reclamou do Congresso Nacional por não ter promovido a reforma tributária, apesar de ele e de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, terem levado propostas. ""Quando se trata de reforma tributária tem um inimigo oculto no Congresso Nacional"", afirmou. ""Quando chega no Congresso Nacional, as forças que querem, intrinsecamente não querem porque cada um quer resolver o seu problema e não o problema do Brasil.

Em Porto Alegre, no primeiro comício de Dilma, o presidente Lula - como seu principal cabo eleitoral - disparou ataques à "elite brasileira" e disse que "a direita tenta dar golpe a cada 24 horas neste país". Também participou do evento o candidato do PT ao governo gaúcho, Tarso Genro.

"A elite brasileira não sabia o que era capitalismo. Foi necessário um metalúrgico entrar na Presidência para ensinar como se faz capitalismo", afirmou Lula durante o evento, realizado anteontem à noite no ginásio Gigantinho, que reuniu cerca de 12 mil participantes. "Foi esse metalúrgico que chamou o presidente do FMI e disse: "Estamos cansados de gritar fora FMI.""

O presidente emendou: "A esquerda pensa que sabe fazer oposição. A esquerda pensa que sabe fazer barulho. Mas foi no governo que nós aprendemos que, se a esquerda faz oposição, a direita tenta dar golpe a cada 24 horas neste país."

Lula também manteve a elite como alvo de suas críticas. "É a mesma elite que levou Getúlio (Vargas) a dar um tiro no coração, que matou Jânio Quadros e levou João Goulart a renunciar", discursou. "Eu disse a essa elite que não estarei no gabinete lendo o jornal de vocês, mas na rua com o povo brasileiro."

Ele reafirmou seu apoio à presidenciável petista e ao candidato ao governo do Rio Grande do Sul. "Os meus adversários fazendo de tudo para eu não aparecer na TV. Agora eles vão ver minha cara na TV muitas vezes pedindo voto para a Dilma e para Tarso." Essa foi a terceira visita que Lula fez ao Rio Grande do Sul desde o início deste ano.

A presença de Lula e Dilma no palanque de Tarso criou certo desconforto entre lideranças estaduais do PMDB e do PDT, dois partidos aliados do Planalto no âmbito nacional. Apesar de manter a neutralidade em relação a quem apoiará na corrida presidencial, o ex-prefeito de Porto Alegre José Fogaça (PMDB), candidato a governador, contava ser o segundo palanque de Dilma no Estado.

Quando Lula subiu no palco do Gigantinho, estava acompanhado de Dilma, Tarso, do candidato a vice-governador gaúcho, Beto Grill (PSB), e do ex-governador Olívio Dutra, além dos dois nomes que integram a chapa ao Senado: Paulo Paim (PT) e Abigail Pereira (PCdoB).

No discurso, que durou mais de oito minutos, Tarso repetiu que, no Rio Grande do Sul, Dilma possui apenas um palanque. "Fui ministro durante sete anos e o presidente sabe reconhecer os seus valores e reafirmar o seu projeto. Ele sabe que aqui quem vai fazer isso é a Unidade Popular pelo Rio Grande."

Dilma dançou ao som do seu jingle e tentou tomar chimarrão: "Ganhamos um chimarrão, mas tem um pequeno problema. Ele só tem erva. Vamos providenciar a água." Depois disso, discursou: "Tenho a honra de dar continuidade a esse governo e avançar. A dar educação de qualidade, que não é tratar a professora a cassetete, mas tratar bem os professores. Somos de um tipo diferente: quando falamos que vamos fazer, fazemos. Não prometemos só em épocas eleitorais."

De qual elite Lula fala?

DEU EM O GLOBO

Após multas do TSE, presidente modera discursos em atos de governo e ataca duro nos palanques

Leila Auwwan

PORTO ALEGRE. Após seis multas da Justiça eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estreou uma modalidade de atuação eleitoral anteontem em Porto Alegre. De dia, em compromissos oficiais como presidente, conseguiu evitar citar o nome de sua candidata, Dilma Rousseff, e pregou até a "perspectiva histórica" para atenuar as usuais críticas aos antecessores, entre eles o tucano Fernando Henrique Cardoso - alvo preferido de petistas para atacar o candidato José Serra (PSDB). Mas, à noite, no palanque de Dilma, Lula assumiu um discurso político agressivo, com ataques às elites, à direita e à imprensa.

Lula, que é aliado e defensor do presidente do Senado, José Sarney, dos senadores Fernando Collor e Renan Calheiros, além do deputado Paulo Maluf, é só elogios a eles, mas atacou o que chamou de elite durante o comício:

- A esquerda faz oposição. A direita tenta dar golpe a cada 24 horas para não permitir que as forças democráticas pudessem continuar neste país. Foram oito anos de ataques, provocações e infâmias. Eu mandei dizer a essa elite: vocês mataram o Getulio (Vargas), obrigaram o (João) Goulart a renunciar e o Jânio Quadros durou seis meses. Se quiserem me enfrentar, não vou estar no meu gabinete lendo o jornal de vocês. Estarei nas ruas conversando com o povo brasileiro! - atacou ele, em discurso exaltado.

No mesmo dia, em ato do governo em Porto Alegre, Lula disse que "tem gente" que não quer que o presidente faça campanha. Já no comício, à noite, ao lado de Dilma, afirmou que fará campanha diariamente, inclusive com participação no programa eleitoral da petista.

- Os meus adversários estão fazendo tudo para impedir que eu apareça na televisão. Dizem que o Lula presidente tem que ser um magistrado. Quando eles tentavam me derrubar, ninguém me achava um magistrado. Agora, eu não sei se vou ajudar, mas eles vão ter que ver minha cara na televisão todo dia pedindo voto para Dilma! - disse Lula.

No comício para pedir votos para Dilma e Tarso Genro, Lula repetiu uma mesma frase usada de manhã, em evento presidencial:

- Em oito anos, colocamos mais dinheiro neste estado, tanto de financiamento quanto de orçamento, do que todos estes governos em 25 anos.

De manhã, no entanto, havia feito uma ressalva: de que essa comparação não era crítica, apenas um resultado natural da conjuntura histórica. Ele explicou que os governantes recentes do Brasil não tinham condições de investir por causa da dívida externa assumida por Ernesto Geisel e que se tornou impagável devido à escalada dos juros dos Estados Unidos, que passaram de 3% para 21%.

- Não falo isso criticando os outros governos ou criticando outros ministros. É preciso ter noção da evolução histórica e que cada um de nós fez as coisas que tínhamos que fazer - amenizou o presidente naquela ocasião.

Lula deixou claro no comício que o PT mantém um projeto de poder no Executivo - e que a coalizão de partidos aliados serve para dar sustentação ao Executivo petista. Ele lembrou do escândalo do mensalão de 2005:

- Diziam que o PT não iria ressurgir e jamais conseguiria eleger o presidente da República.

Dilma tem 39%; Serra, 34%; e Marina, 7%

DEU EM O GLOBO

Pesquisa Ibope apontou a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, com 39% das intenções de voto, contra 34% do tucano José Serra e 7% da verde Marina Silva. O Ibope considera os percentuais de todos os candidatos, incluindo os nanicos. Dilma cresceu 3 pontos em relação à última pesquisa; Serra perdeu 2. No sábado, o Datafolha tinha registrado empate técnico. No Rio, Cabral tem 58% e Gabeira, 14%.

Ibope: 39% a 34% pró-Dilma

Pesquisa mostra petista com 5 pontos à frente de Serra; Datafolha dera empate técnico

Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut

Pesquisa Ibope divulgada ontem mostrou a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, liderando a disputa, com cinco pontos percentuais de vantagem em relação ao segundo colocado, o candidato do PSDB, José Serra. Segundo os dados, Dilma aparece com 39% das intenções de voto, contra 34% de Serra. Já a candidata do PV, a senadora Marina Silva, está com 7%. A pesquisa foi encomendada pela Rede Globo e pelo jornal "O Estado de S.Paulo".

Pela pesquisa - em que o Ibope considerou os percentuais de todos os candidatos, inclusive os de partidos nanicos -, Dilma registrou um crescimento de três pontos percentuais em relação à ultima pesquisa do instituto. E Serra perdeu dois pontos, de 36% para 34%. O Ibope fez 2.506 entrevistas, em 174 cidades, entre os dias 26 e 29 deste mês, com margem de erro de dois pontos percentuais.

No último levantamento sobre a disputa presidencial, feito pelo Datafolha, entre os dias 20 e 23 de julho, foi registrado um empate técnico entre Serra e Dilma, mas o tucano aparecia com ligeira vantagem, obtendo 37% das intenções de votos, contra 36% da petista. Essa pesquisa também tem margem de erro de dois pontos percentuais.

Resultado do Ibope surpreende tucanos

Considerando o histórico das pesquisas do Ibope divulgadas pela TV Globo, Dilma tinha 37% no final de maio; ficou com 38% em meados de junho; caiu para 36% no final de junho; e agora está com 39%.

Na mesma série do Ibope, o candidato tucano teve 37%; depois 32%, chegando a 36% no final de junho, e agora está com 34%.

Na pesquisa de ontem, a candidata Marina Silva ficou com 7%. No período, ela sofreu pequena oscilação em seus números. No primeiro levantamento, ela aparecia com 9%, oscilando depois para 7% e 8%. Os demais candidatos a presidente somaram menos de 1%. Na pesquisa de ontem, os votos nulos e em branco somam 7%, e os eleitores indecisos chegam a 12%.

Na simulação de um segundo turno, a petista mantém a vantagem: aparece com 46%, três pontos percentuais a mais do que no levantamento anterior. Com a margem de erro, ela pode ter de 44% a 48% dos votos. Já Serra aparece com 40%, uma queda de três pontos percentuais em relação ao levantamento anterior.

A pesquisa Ibope surpreendeu o comando da campanha do PSDB, enquanto o resultado foi motivo de discreta comemoração no PT e no Palácio do Planalto. No ninho tucano, a expectativa era que os números registrassem um empate técnico. Internamente, a avaliação é que não há fatos que justifiquem a diferença entre essa pesquisa e o levantamento do Datafolha da semana passada, em que Serra e Dilma apareciam empatados tecnicamente.

A cúpula tucana deve analisar os novos números, e há quem defenda que Serra deve evitar o confronto direto com Dilma e partir para uma campanha mais propositiva.

- Essa não é uma boa pesquisa para nós. Nossas informações indicam que Serra e Dilma estão empatados. Mesmo assim, vamos refletir sobre os dados - disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

Já na campanha de Dilma, os números foram recebidos com cautela. Para o presidente do PT, José Eduardo Dutra, é preciso evitar o "salto alto", já que este é um cenário indefinido. Ele sugeriu ainda que um o discurso bélico de Serra pode ser um dos fatores que tenham influenciado para esse resultado do Ibope.

- Essa pesquisa Ibope está dentro do esperado. Independentemente das divergências de números entre institutos, o que há de concreto é uma tendência de crescimento de Dilma e uma pequena queda de Serra. Mas este é um cenário indefinido - disse Dutra. - Mas uma coisa é certa: se esse discurso que o Serra tem feito não fez ele cair, também não fez subir.

O presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que a eleição está empatada e que será decidida a partir do programa eleitoral no rádio e na TV. Para Rodrigo Maia, Serra deve explorar os pontos fracos do governo Lula e deve reforçar sua atuação no Ministério da Saúde, por exemplo.

- A eleição está empatada. O importante é saber que a eleição vai ser decidida a partir de agora, com o início dos debates - disse Rodrigo Maia, lembrando que Serra está sempre acima dos 30% e perto dos 40%.

O Ibope também fez um levantamento da avaliação do governo Lula. Pelo resultado, 77% consideram o governo ótimo ou bom; 18% o acham regular, e 4%, ruim ou péssimo.

Com 50 pontos, Alckmin liquidaria eleição em São Paulo já no 1º turno

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Mercadante aparece com 14% das intenções de voto na pesquisa Ibope, seguido de Russomanno, do PP, com 9 pontos porcentuais

Daniel Bramatti e Adriana Carranca

O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin, tem 36 pontos porcentuais de vantagem sobre seu principal adversário, Aloizio Mercadante, e venceria no primeiro turno se a eleição fosse realizada hoje.

Segundo a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo, Alckmin tem 50% das intenções de voto, contra 14% de Mercadante. Em terceiro lugar está Celso Russomano (PP), com 9%.

Fabio Feldman (PV), Paulo Búfalo (PSOL) e Paulo Skaf (PSB) aparecem com 1% cada um. Luiz Carlos Prates, o Mancha (PSTU), Igor Grabois (PCB) e Anaí Caproni (PCO) não pontuaram. Brancos e nulos somam 10% e 13% estão indecisos.

A soma das intenções de voto dos adversários de Alckmin chega a 26%, praticamente metade do índice alcançado pelo tucano. Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa obter mais votos que os adversários somados.

Na pesquisa espontânea, aquela em que os entrevistados manifestam suas preferências antes de ver a lista dos candidatos, o candidato tucano aparece com 13%, contra 5% de Mercadante.

"Recall". A grande diferença entre os índices de Alckmin nas pesquisas espontânea e estimulada indica que o tucano está sendo beneficiado pelo fenômeno do "recall". Ex-governador e candidato a prefeito de São Paulo em 2008, o tucano tem seu nome consolidado entre o eleitorado.

Alckmin e Russomanno são os menos rejeitados entre os principais candidatos - respectivamente, 13% e 12% dos entrevistados dizem que não votariam neles de jeito nenhum. Já o candidato do PT tem 17% no quesito rejeição.

Além de perguntar aos eleitores paulista em que vão votar no dia 3 de outubro, o Ibope avaliou a expectativa de vitória na disputa pelo governo do Estado. Na expectativa de 60%, Alckmin, que já governou o Estado entre 2001 e 2006, voltará ao cargo em 2011. Apenas 8% dizem que Mercadante será o próximo governador.

Índices. O candidato do PSDB alcança 73% das intenções de voto entre os eleitores que consideram o atual governo ótimo ou bom.

Mercadante estava em um evento de campanha e não pôde ser contatado. Apesar do resultado desfavorável, contudo, a equipe de campanha do petista diz estar confiante no "efeito Lula" no horário eleitoral gratuito, que entra no ar no dia 17. O foco principal da campanha televisiva será fixar Mercadante como o candidato do presidente. "Nosso objetivo é que o eleitor tome conhecimento de que Mercadante é candidato do Lula", disse o marqueteiro da campanha do petista, Augusto Fonseca, responsável pela campanha vitoriosa de Marta Suplicy (PT) para a Prefeitura de São Paulo, em 2000.

Responsabilidade. Já Alckmin, que estava em Ribeirão Preto, disse ter ficado satisfeito com o resultado da pesquisa. "Tenho de agradecer a enorme manifestação de confiança da população do Estado de São Paulo, o que aumenta a nossa responsabilidade", afirmou o tucano. "Recebo (o resultado da pesquisa) com alegria e com humildade. A eleição ainda está longe, agora é que está começando, mas é um bom começo. "Agradeço e vamos trabalhar muito, e muito pé no chão."

Ribeirão foi a quarta agenda do dia de Alckmin, ontem. Antes esteve em São Roque, Valinhos e Rio Claro, e ainda seguiria para Indaiatuba, para um último compromisso.

O tucano enfatizou que a campanha está caminhando bem. "Estou estudando o máximo possível pra ter o melhor programa de governo em benefício da população", disse Alckmin.

O candidato do PSDB caminhou rapidamente pelo calçadão, no centro de Ribeirão Preto, e tomou um chope no tradicional bar Pinguim. Depois encerrou a agenda com a inauguração do comitê do deputado Antônio Duarte Nogueira Júnior (PSDB), que foi seu secretário de Agricultura no governo de São Paulo. Aloysio Nunes (PSDB), candidato ao Senado, acompanhou Alckmin em Ribeirão Preto. / COLABOROU BRÁS HENRIQUE

No Rio, pesquisa indica fácil reeleição de Cabral

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Wilson Tosta

Candidato à reeleição, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) venceria no primeiro turno, de acordo com a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. Ele alcança 58% das intenções de voto, contra 14% de Fernando Gabeira (PV). Eduardo Serra (PCB) tem 2%, enquanto Cyro Garcia (PSTU) e Fernando Peregrino (PR) marcam 1% cada um - 11% dos entrevistados se dizem indecisos e 12% votariam em branco ou anulariam.

Na espontânea, Cabral lidera por 19% a 4%. Gabeira tem maior rejeição: 29% não votariam nele de jeito nenhum. No caso de Cabral, o índice é de 14%.

Na briga pelo Senado, Marcelo Crivella (PRB) e o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) empatam, com 37%. Lindberg Farias (PT) tem 21%. Foram entrevistadas 1.204 pessoas, de 27 a 29 de julho. A margem de erro é de 3 pontos. A pesquisa está registrada no TRE-RJ (sob o número 62183/2010) e no TSE (número 20797/2010).

Em Minas, Hélio Costa tem 39%, e Anastasia, 21%

DEU EM O GLOBO

BRASÍLIA. A disputa pelo governo de Minas Gerais é liderada pelo candidato do PMDB, senador Hélio Costa, que ficou com 39% das intenções de voto, segundo a pesquisa do Ibope encomendada por TV Globo e jornal "O Estado de S. Paulo", e divulgada ontem. Candidato do ex-governador Aécio Neves (PSDB), o atual governador, Antonio Anastasia, também do PSDB, aparece em segundo lugar, com 21%, registrando crescimento em relação a pesquisas recentes.

Nessas eleições, Aécio Neves está dando prioridade total à campanha de seu afilhado político, como fez em 2008, na eleição para prefeito de Belo Horizonte, quando o então desconhecido Márcio Lacerda (PSB) saltou de menos de 10% nas pesquisas de intenção de votos para a vitória em menos de três meses.

Os demais candidatos ao governo de Minas somam 6%; votos em branco e nulos, mais 8%. Segundo a pesquisa, 25% das pessoas consultadas ainda estão indecisas sobre a escolha do candidato a governador de Minas.

A margem de erro da pesquisa Ibope é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O Ibope entrevistou 1.806 eleitores em Minas, de 26 a 29 de julho.

De acordo com a última pesquisa do instituto Datafolha realizada em Minas, divulgada no dia 24 passado, Anastasia estava com 18% dos votos e Hélio Costa, com 44%. Considerando as pesquisas Datafolha e Ibope - embora com metodologias diferentes -, o tucano subiu e o peemedebista caiu.

Eduardo Campos vai a 60% contra 24% de Jarbas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Adriana Carranca

Em Pernambuco, o resultado da pesquisa Ibope/Estado/TV Globo aponta a vitória no primeiro turno do governador Eduardo Campos (PSB), candidato à reeleição. Ele desponta com 60% das intenções de voto - mais do que a soma de pontos de todos os adversários. Em segundo lugar, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) aparece com 24% da preferência do eleitorado.

Os indecisos são 8%. O peemedebista tem maior rejeição (25%) do que o adversário do PSB ( 11%).

Senado. Na pesquisa para as duas vagas do Senado, o resultado traz empate técnico: o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT) tem 44% da preferência e o senador Marco Maciel (DEM), 43%.

A margem de erro é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos. Foram feitas 1.806 entrevistas, entre 26 e 29 de julho. A pesquisa foi registrada no TRE/PE sob nº 34524/2010 e no TSE sob n.º 20803/2010.

Guerra: ''Não vamos brigar com números''

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Julia Duailibi

O presidente do PSDB e coordenador da campanha de José Serra à Presidência, senador Sérgio Guerra (PE), disse ontem que o partido "não vai brigar com os números", mas analisará as pesquisas com maior "profundidade".

"Nossos acompanhamentos estaduais e nacionais não confirmam esse resultado", afirmou o senador, que completou: "Não vamos brigar com os números, mas vamos analisar a pesquisa com maior profundidade."

Guerra disse ainda que o Ibope, em um levantamento de junho, mostrara Serra atrás de Dilma Rousseff. "Não quero dizer que está errado, mas que temos de analisar com tranquilidade".

Cansado até os deuses que não são:: Fernando Pessoa


Cansado até os deuses que não são...
Ideais, sonhos... Como o sol é real
E na objetiva coisa universal
Não há o meu coração...
Eu ergo a mão.

Olho-a de mis, e o que ela é não sou eu.
Entre mim e o que sou há a escuridão.
Mas o que são isto a terra e o céu ?

Houvesse ao menos, visto que a verdade
É falsa, qualquer coisa verdadeira
De outra maneira
Que a impossível certeza ou realidade.

Houvesse ao menos, som o sol do mundo,
Qualquer postiça realidade não
O eterno abismo sem fundo,
Crível talvez, mas tenho coração.

Mas não há nada, salvo tudo sem mim.
Crível por fora da razão, mas sem
Que a razão acordasse e visse bem;
Real com o coração, inda que [...]

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Reflexão do dia – Lula (só para lembrar)


Não me preocupam as pesquisas. Serra já foi candidato à Presidência, a governador do Estado de São Paulo. Mas uma coisa posso dizer: será um privilégio para este país se a eleição for entre Dilma e Serra. Se os candidatos forem Dilma, Serra e Ciro, também será um luxo. O mesmo devo dizer se estiver o Aécio. E isso porque não vejo ninguém de direita aí” - afirmou o presidente. Lula disse ver nos possíveis candidatos "companheiros de esquerda, de centro-esquerda, progressistas". E completou: “Isso representa um avanço extraordinário para o Brasil.


(Lula, em O Globo, segunda-feira, 20/4/2009)

A farsa e a realidade :: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Em seu primeiro mandato, logo após ser eleito, o atual governo, carente de um efetivo projeto de mudanças e de reformas estruturantes, adotou o "Fome Zero" como saída pela tangente de nossas dificuldades históricas, ao mesmo tempo que encontrava nessa jogada pirotécnica uma forma de mobilização da sociedade, sem alterar em nada seus fundamentos.

Hoje ninguém fala mais de "Fome Zero", muito menos do "Projeto do Primeiro Emprego", que durante muito tempo foi apresentado como capaz de enfrentar o desemprego crônico da juventude, até se descobrir que o segredo para superarmos esse desafio estava relacionado a uma educação de qualidade, que não é possível se resolver no quadro de políticas de governo, e sim de Estado.

O atual governo sofisticou seu repertório de criar um país de faz de conta, no qual atuava em benefício dos pobres, combatia a especulação financeira e enfrentava os gargalos do que se convencionou "custo Brasil", até a farsa ser desmontada pelos números aferidos por órgãos internacionais sobre nossa real condição econômica e social.

Assim, ficamos sabendo que depois de quase oito anos de governo, e de uma massiva campanha para nos convencer que este governo é o dos pobres, os dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no que respeita o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aponta nosso país em nono lugar dos mais desiguais da América Latina!

Quando comparamos a desigualdade da renda entre o trabalho e o capital é que podemos perceber que quase nada mudou em nosso país.

Na contramão do que aponta o governo e seus "novos horizontes". Como revelado por agencias da ONU, os juros, aluguéis e lucros foram os itens da renda brasileira que mais cresceram desde a última década, superando o rendimento dos trabalhadores, cristalizando a política de manutenção do status quão, ou do conservadorismo funcional que este governo representa.

O governo propala que transfere renda para os pobres, via Bolsa Família, que atende pouco mais de 12 milhões de famílias, algo em torno de R$ 13,1 bilhões.

Mas o que o governo não alardeia é que transferiu para os mais ricos, rentistas e bancos, na forma de juros pelos títulos públicos, no ano passado, algo em torno de R$ 380 bilhões!

Se nos detivermos nas reais condições de vida da esmagadora maioria de nosso povo, seja por meio das moradias atendidas com o saneamento básico, ou na qualidade do ensino público oferecido pelo Estado, ou no atendimento da saúde pública, perceberemos que o real significado da grandiloquente propaganda governamental que afirma ser o "Brasil um país de todos", na verdade é mais de uns que de outros.

A verdade é que os números recentes de nossa economia e de nossa trágica condição social estão muito longe da farsa edulcorada pela propaganda que move este governo.

O crescente endividamento das famílias, nosso perigoso déficit em conta corrente, o intermitente custo-Brasil estrangulando nossa capacidade competitiva é o verdadeiro legado que nos deixará o atual governo.


Roberto Freire é presidente do PPS

Controle de qualidade:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Todo mundo fala de ficha limpa, ficha suja, a vida pregressa dos candidatos a deputado e senador caiu na boca do público e no momento está nas mãos dos Tribunais Regionais Eleitorais decidir sobre o destino de cerca de 3 mil pedidos de impugnação.

Em seguida será a vez de o Tribunal Superior Eleitoral examinar os recursos e logo o Supremo Tribunal Federal será chamado a se pronunciar sobre a constitucionalidade da lei de iniciativa popular aprovada pelo Congresso em maio, impondo como pré-requisito de elegibilidade a inexistência de sentenças condenatórias por tribunais.

Em toda parte se fala sobre a natureza das "fichas", menos na agenda dos candidatos à Presidência da República.

Quem em algum momento renunciou a mandato eletivo para escapar das punições legais e, assim, preservar os direitos políticos também fica inelegível.

Uma mudança e tanto nos meios e nos modos da política.

Se a lei for considerada constitucional - e tudo leva a crer que será, pois dos 11 quatro já se pronunciaram a favor -, o Brasil terá dado início a uma reforma "de base" na política. Ou seja, de dentro para fora (do Congresso) e de baixo para cima.

Ainda que a Justiça venha a demorar, o presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, já alertou para a possibilidade de alguns perderem tempo e dinheiro insistindo em concorrer, pois mesmo eleitos os irregulares poderiam ficar sem os mandatos.

Não se trata de algo trivial, bem como não é corriqueira a mobilização de organizações não-governamentais e de entidades civis, como a Ordem dos Advogados e associações de magistrados na vigilância aos pretendentes a representantes populares no Poder Legislativo.

É o controle de qualidade possível.

A partir dele pode começar a acontecer uma transformação até de mentalidade. Firma-se o princípio de que gente suspeita não pode representar a população na Câmara e no Senado.

Há um consenso de que o eleitor deve fazer a sua parte na hora da escolha do candidato. É verdade, mas de qual eleitor falamos?

Por enquanto daquele bem informado, engajado e que acompanhou os lances da aprovação da lei.
O chamado "público em geral" é despertado para os temas que estão na pauta das candidaturas presidenciais, elas é que puxam o debate.

Só que os candidatos a presidente da República não parecem preocupados com isso.

Em tese deveriam ser eles os maiores interessados no assunto Congresso, já que um deles será eleito e terá como primeiro desafio firmar uma posição sobre a relação do Legislativo com o Executivo, há muito torta, promíscua, desarticulada, não republicana, pois há submissão e, portanto, subversão do princípio do equilíbrio entre os Poderes.

Mas passam ao largo dessa agenda. É de se perguntar se para eles as coisas estão bem assim ou se não pensam que um Parlamento melhor é possível.

Obreiro. Ciro Gomes anunciou que vai apoiar Dilma Rousseff porque essa é a decisão do seu partido, o PSB. Quando desistiu da candidatura à Presidência da República o fez em atendimento a uma decisão do partido. Contra a vontade.

Em cena. É a quinta vez que o venezuelano Hugo Chávez ameaça cortar a venda de petróleo para os Estados Unidos. Agora - careca de saber que isso não acontecerá - diz que cortará se a Colômbia atacar a Venezuela por influência dos EUA.

Exige gestos amistosos por parte do novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, cansado de saber que é exatamente isso que ocorrerá em seguida à posse, em 7 de agosto.

Apostas. Palpita o meio diplomático: se Dilma Rousseff ganhar a eleição, o ministro das Relações Exteriores será o embaixador Antonio Patriota; se o presidente eleito for José Serra, o embaixador Sérgio Amaral comandará o Itamaraty.

Força e desequilíbrio:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Álvaro Uribe passa o governo da Colômbia no próximo dia 7 para seu sucessor, Juan Manuel Santos, e esperou os últimos dias de mandato para dizer ao presidente Lula poucas e boas engasgadas na sua garganta contra a posição enviesada do Brasil no conflito entre Colômbia e Venezuela, entre Uribe e Hugo Chávez, entre direita e esquerda do continente.

Ao tentar minimizar a crise entre os dois países, Lula a reduziu a um "conflito verbal". Uribe reagiu "deplorando" essa posição, pois o que conta é "a ameaça que a presença de terroristas das Farc representa para a Colômbia e o continente".

Foi uma cacetada no Brasil, que toma partido no conflito, a ponto de Lula falar com Chávez e não com Uribe quando, de um lado, a Colômbia mostrou o que seriam provas documentais de que a Venezuela abriga narcoguerrilheiros colombianos e, de outro, a Venezuela rompeu relações com o vizinho.

Ok. A Colômbia é dependente dos EUA, botou tropas americanas dentro do continente e acobertou paramilitares criminosos. Mas a Venezuela não é uma maravilha nos quesitos democracia, economia e área social. O governo Lula deveria ter sido mais equilibrado e menos ideológico na relação com duas nações vizinhas e amigas do Brasil.

Venezuela e Colômbia têm uma fronteira de 2.200 quilômetros, e o comércio bilateral é decisivo para ambas. Exemplo: o segundo destino das exportações colombianas é a Venezuela, só atrás dos EUA. Com o bloqueio comercial, o total de vendas caiu de cerca de US$ 8 bilhões em 2008 para a expectativa de apenas US$ 2 bilhões no final deste ano. Assim, o desemprego na Colômbia bate em 14%.

Venezuela e Colômbia têm uma dependência mútua, como Santos, o presidente eleito, compreende bem. Basta empurrar um para o outro, o que o Brasil tem força de sobra para fazer. Ou teria, se não tivesse optado por um dos lados e desperdiçado toda essa força.

Políticos com certificação:: Cláudio Gonçalves Couto

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Poucos segmentos sociais são tão desprestigiados como a classe política ? em particular os parlamentares. Isso é facilmente aferível nas frequentes enquetes de opinião popular que procuram identificar o grau de confiança em instituições e grupos sociais. Mas não é uma peculiaridade brasileira, como mostra pesquisa feita em 19 países pelo instituto alemão GFK na última primavera europeia ( www.gfk.com ). Segundo a enquete, os políticos ocupam o último lugar numa lista de 20 profissões, que passam pelos bombeiros (a mais popular, com 97% de confiança), professores (85%), advogados (72%), banqueiros (57%), clérigos (55%) e jornalistas (42%). Os políticos têm apenas 14% de aprovação, obtendo seu melhor resultado na Holanda (32%) e o pior na Itália (apenas 7%!).

O Brasil também foi incluído na amostra do GFK, mas os resultados obtidos especificamente por aqui não foram divulgados (embora saibamos que nossos políticos se saíram melhor que os italianos). Uma indicação sobre o prestígio dos políticos em nosso país, ainda que de forma indireta (já que a pesquisa perguntou sobre confiança em instituições, e não em profissões), consta do último relatório do Índice de Confiança na Justiça (ICJBrasil), elaborado pela Escola de Direito de São Paulo, da FGV, sob a coordenação de Luciana Gross Cunha (disponível em www.direitogv.com.br/subportais/RelICJBRASIL2TRI2010.pdf ). Numa lista de 10 instituições, aquelas nas quais os brasileiros menos confiam são o Congresso Nacional (28%) e os partidos políticos (21%). As três mais bem avaliadas são, além das Forças Armadas (63%, sempre figurando em primeiro lugar), as grandes empresas (54%) e o governo federal (43%).

O fato de os políticos e suas instituições por excelência serem alvo de tanta desconfiança aqui e alhures não é algo difícil de compreender. Trata-se de uma característica inerente ao Estado representativo e seus mecanismos de controle: quem elege desconfia e, portanto, precisa de instrumentos para restringir o poder de seus representantes, sancionar suas condutas e, a depender da avaliação feita, retirar-lhes do posto obtido nas urnas ou reconduzi-los para o cargo. É por isso que democracias de grandes dimensões, necessariamente representativas, têm na competição entre políticos rivais um elemento crucial: se não for possível votar numa oposição, é impossível controlar os governantes no poder.

Por essa mesma razão políticos autoritários, desejosos de agir sem nenhum tipo de controle, têm como um de seus principais recursos de ganho de poder a eliminação (ou a neutralização) dos opositores e/ou dos dispositivos institucionais que viabilizem a oposição, por vezes criando substitutos ilusórios para tais mecanismos mediante formas de ?democracia participativa?, sempre hegemonizadas pelo grupo dominante. Ora, como cidadãos de sociedades modernas não têm tempo nem interesse para participar o tempo todo da vida política, a divisão social do trabalho, que gera uma classe de políticos profissionais, mostra-se desejável e inevitável, mas traz os riscos da perda de controle e das consequentes oligarquização e corrupção. Por isso, o aprimoramento das democracias requer a redução dos custos de fiscalização dos representantes por seus representados.

O desenvolvimento tecnológico e as novas mídias que ele tornou possível viabilizam uma considerável redução dos custos de controle sobre os políticos. A própria legislação eleitoral tem apontado nessa direção, obrigando a publicação na internet das receitas e despesas dos candidatos. Em nosso caso, porém, o avanço foi precário, pois os próprios congressistas, desinteressados de conferir maior transparência a suas contas de campanha, aprovaram a esdrúxula regra segundo a qual só é necessário publicá-las após a realização do pleito ? um escárnio. Da forma como a lei dispõe, o eleitor corre o risco de votar num candidato e descobrir apenas depois do pleito que ele foi financiado por alguém em quem o representado não confia, ou por interesses dos quais diverge. Mas aí o estrago já está feito e o mandato já foi obtido; de novo, só daqui a quatro anos.

A classe política, a despeito das profundas divergências partidárias (doutrinárias ou de qualquer outro tipo) existentes entre seus membros, compartilha um interesse comum: o de preservar-se como grupo profissional, eliminando os mecanismos inibidores da sua atuação livre, inclusive no âmbito da competição entre pares. E como é essa mesma classe a responsável por definir as regras da competição política, dificilmente as regras são modificadas no sentido de aumentar os controles e tolher a liberdade dos representantes. Quando isso acontece, decorre da fortíssima pressão social (inclusive por meio da mídia) que episodicamente se dirige aos políticos, acuando-lhes. Foi esse o caso da recente aprovação da Lei da Ficha Limpa, motivada por ampla mobilização de cidadãos e, sobretudo, da imprensa.

Mas como os mecanismos legais de controle têm-se mostrado insuficientes, são cruciais iniciativas da sociedade civil organizada como a criação do site http://www.fichalimpa.org.br. A ideia é notável: ao obrigar os políticos que desejam ser listados ali a apresentar comprovantes de sua vida ilibada, assim como (o mais importante) prestar contas semanalmente de suas contas de campanha, os organizadores da página criaram uma certificação de políticos confiáveis. Embora surpresas desagradáveis sempre possam ocorrer, os eleitores com acesso à internet ganham a possibilidade de crivar suas escolhas pela certificação: políticos não certificados (ou seja, ausentes do site) não ganham voto, pois provavelmente têm algo a esconder. Impulsionada ainda essa iniciativa pela divulgação do instrumento em meios de comunicação de largo alcance (como a TV Globo), poderemos ter um salutar elemento novo na decisão do voto de muitos eleitores brasileiros este ano.


Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP.

Em comício com Dilma, Lula ataca a elite

DEU EM O GLOBO

"A direita tentou dar golpe a cada 24 horas para não permitir que as forças democráticas pudessem continuar"

Leila Suwwan
Enviada especial


PORTO ALEGRE e SANTA CRUZ DO SUL (RS). Em comício no ginásio Gigantinho de Porto Alegre lotado, ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, o presidente Lula acusou a elite brasileira de tentar dar um golpe a cada 24 horas na democracia nos últimos oito anos.

A direita tentou dar um golpe a cada 24 horas para não permitir que as forças democráticas pudessem continuar neste país. Foram oito anos de ataques, provocações e infâmias.

Eu mandei dizer a essa elite: vocês mataram Getulio (Vargas), obrigaram (João) Goulart a renunciar e o Jânio Quadros durou seis meses. Se quiserem me enfrentar, não vou estar no meu gabinete lendo o jornal de vocês.

Estarei nas ruas conversando com o povo brasileiro! disse Lula sob forte aplauso.

Ao falar de Dilma, afirmou que a petista foi escolhida, logo após a sua reeleição em 2006, para ser sua sucessora, segredo que ele disse ter confidenciado na época ao ex-ministro Olívio Dutra, que o acompanhou o dia inteiro ontem em seus compromissos oficiais no Rio Grande do Sul.

Falava-se em outros nomes, falava-se em nome que não era do nosso partido, de alianças políticas.

Alguns imaginavam que, depois da crise 1985, o PT ia acabar.

Não é 1985, é 2005. Diziam que o PT não iria ressurgir e jamais conseguiria eleger o presidente disse Lula.

Ele contou que pensava em Dilma Rousseff para sucedê-lo desde que ela chegou à Casa Civil da Presidência: Ela construiu uma aliança politica maior do que a que eu tive. Ela tem o apoio de todas as centrais sindicais deste pais, da União dos Estudantes brasileiros e dos estudantes secundaristas.

E continua construindo esse apoio, na área rural, urbana e empresarial. Estamos em situação infinitamente mais confortável e melhor do que já tivemos disse Lula, que celebrou a volta da aliança com o PCdoB e PSB no Rio Grande do Sul.

O locutor também destacou diversas vezes o apoio de setores do PDT e PTB. Os petistas locais celebraram ainda a adesão do ex-governador Alceu Collares (PDT), que estava no palanque. O Gigantinho tem capacidade para cerca de 10 mil pessoas, e estava lotado.

Dilma, que discursou antes, fez apenas ataques velados à oposição, insistindo que seus adversários não cumprem promessas e têm duas caras.

Nós, quando falamos que vamos fazer, nós fazemos. Nós não prometemos só em época eleitoral disse Dilma. O partido que apoia o meu adversário, da onde saiu seu vice, foi o partido que entrou contra nós no STF pedindo a ilegalidade do ProUni. Eles têm duas caras.

Uma nas eleições outra na hora de governar. Quando chega a hora de governar, eles governam não para todos, mas para apenas um terço da população.

Dilma disse que vai continuar a obra de Lula: Trabalhei 24 horas por dia com ele nos últimos oito anos disse, ao lado de Lula e Tarso Genro, candidato do PT a governador do RS.

Antes do comício, Lula disse que pretende atuar como um leão para conseguir realizar a reforma política após deixar o Planalto. Ele, que não tentou aprová-la em seus quase oito anos de governo, disse que o financiamento privado de campanha impede os candidatos de desancarem do empresário e baterem em banqueiro durante a campanha eleitoral. O presidente afirmou à plateia de cerca de 300 convidados na Usina do Gasômetro que defenderá mudanças na poderosa máquina de fiscalização, que inibe burocratas e atrasa obras.

Lula afirmou que, após deixar a Presidência, encabeçará os esforços para que o PT assuma a dianteira da reforma política, que considera ser responsabilidade dos parlamentares.

Já viram político ir para um palanque falar mal de catador de papel, do movimento de moradia, dos pobres? Não! Nesta época é época de desancar empresário, bater em banqueiro, falar mal das pessoas que ele sabe que não pode falar mal, porque são as pessoas que financiam suas campanhas. Mas é assim a lógica da política nacional.

Para ele, a fiscalização pública está muito mais forte que a máquina do governo.

Estou consciente que temos uma poderosa máquina de fiscalização, com jovens ganhando de entrada R$ 15 mil ou R$ 20 mil. E temos uma máquina de execução com pessoas de 30 anos ganhando R$ 6 mil. Tudo que seja levantado é tido como corrupção e tudo inibe a pessoa que tem que dar liberação.

PSDB chama Marco Aurélio de aloprado de direita

DEU EM O GLOBO

Aliados de Serra reagem a ataque e dizem ainda que petista é "embaixador do governo Lula junto às Farc"

Maria Lima

BRASÍLIA. A cúpula da campanha do tucano José Serra se reuniu ontem para preparar e divulgar uma resposta aos ataques desferidos na véspera pelo assessor especial do presidente Lula e coordenador do programa de governo da presidenciável Dilma Rousseff, Marco Aurélio Garcia, que previu o fim melancólico da carreira do tucano já no primeiro turno, em 3 de outubro.

O ex-ministro e atual secretário da Educação de São Paulo, Paulo Renato de Souza, disse ter havido falta de solidariedade e deslealdade de Marco Aurélio, que teria sido livrado da prisão no Chile por Serra. Os tucanos se referiram ao petista como aloprado de direita.

No mesmo tom de Marco Aurélio, que acusou Serra de estar correndo rumo à direita mais raivosa, o coordenador informal da campanha Jutahy Junior (BA) e o senador Álvaro Dias (PR) devolveram a agressão dizendo que ele é um aloprado de direita: Assim como José Eduardo Dutra (presidente do PT), Marco Aurélio é um aloprado de direita porque defende governos que apedrejam mulheres e condenam jornalistas à prisão. Além disso, seus precedentes conhecidos, que o diga o ex-embaixador Luiz Felipe Lampreia, nos autorizam a dizer que o senhor Marco Aurélio está muito mais para embaixador do governo Lula junto às Farc do que para analista político contra-atacou Álvaro Dias.

Ele reproduziu a versão de que no governo Fernando Henrique, num encontro com o então chanceler Luiz Felipe Lampreia, Marco Aurélio se ofereceu para intermediar um encontro de representantes do governo com líderes das Farc.

Os três tucanos fizeram também duros ataques a pontos da política externa do governo Lula, da qual Marco Aurélio é um dos assessores principais. Para Paulo Renato, a política externa é um desastre e uma constante tentativa de afirmação pueril perante os Estados Unidos e alguns países europeus, atendendo a interesses de países com ideologias próximas à do PT.

Marco Aurélio nega ligação com as Farc

DEU EM O GLOBO

Petista divulga resposta no site do Palácio do Planalto

BRASÍLIA. Em nota no site do Planalto, ontem à noite, Marco Aurélio Garcia contestou as afirmações atribuídas ao ex-embaixador Luiz Felipe Lampreia.

Disse que, em 1999, enquanto atendia a uma solicitação do Instituto Rio Branco para proferir palestra aos alunos do curso de formação de diplomatas, fui convidado pelo então ministro das Relações Exteriores para uma reunião privada em seu gabinete, cujo tema principal era a posição de apoio do Brasil à ditadura Fujimori.

O ministro Lampreia tomou a iniciativa de consultar-me, ainda, sobre outros temas da realidade da América do Sul. Em reposta a meu interlocutor, expressei o ponto de vista de que o Brasil deveria desempenhar um papel mais ativo na região e citei, como exemplo, a atuação do Grupo de Contadora, que fora de grande utilidade para pacificar situações de conflito como as de El Salvador, Nicarágua e Guatemala. Em nenhum momento ofereci préstimos pessoais ou do Partido dos Trabalhadores para negociações com as Farc, até porque, naquela conjuntura, não existiam, como não existem até hoje, quaisquer relações com aquela organização, disse Marco Aurélio na nota.

Relembrando episódios de convivência de Marco Aurélio e Serra no exílio, o ex-ministro Paulo Renato contou ter sido chamado por Serra na sede da Flacso (Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais) quando encontrou Marco Aurélio, com a mulher e o filho: A ordem de Serra era livrálo da prisão. Falo isso não para Serra e eu termos louros, mas apenas para mostrar que Marco Aurélio deveria ter, no mínimo, o dever de solidariedade disse. É um desrespeito um assessor presidencial se dirigir desta forma a quem tem uma biografia centenas de vezes superior à sua.

Serra fez muito mais pelo país do que Marco Aurélio.

Mais do que a opinião de Marco Aurélio, o que vale é a postura histórica de Serra. Não é não é palavra do Marco Aurélio que vai diminuir o incomum patrimônio político de respeito à democracia de Serra acrescentou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), lembrando ainda os laços de colaboração e admiração que o assessor e o atual governo cultivam com governos autoritários.

Os três tucanos criticaram a política externa do governo Lula, da qual Marco Aurélio é um dos assessores principais. Jutahy Magalhães disse que Marco Aurélio Top Top Garcia está levando a política externa do Brasil para o descrédito absoluto, rompendo a tradição do país de sempre colocar-se como mediador no continente, além de uma política em defesa dos interesses nacionais e não partidários, como ocorre com a política externa do PT.

Serra elege voto distrital puro como prioridade

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Vandson Lima, de São Paulo

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, colocou como umas de suas prioridades, caso vença as eleições, a reforma política no país. Em sabatina realizada pela rede de televisão Record, em São Paulo, o candidato disse que o ponto fundamental da reforma é a mudança para o voto distrital puro, em detrimento ao voto proporcional, no qual um candidato a deputado, por exemplo, pode buscar votos em qualquer parte do Estado.

"Se uma cidade tem 37 vereadores, você a divide em 37 distritos, cada um elegendo o seu vereador. A vantagem disso é que o eleitor vai fiscalizar o vereador em quem ele votou", argumentou o tucano.

A mudança proposta por Serra atingiria cidades com mais de 200 mil habitantes, onde há segundo turno. Para o candidato, o sistema diminuiria os custos de campanha: "O candidato fica procurando voto em todas as áreas [da cidade], gasta uma fortuna. Isto perverte o processo político brasileiro, e é uma das causas da corrupção." O tucano se diz ciente de que a proposta enfrentaria resistência, em especial no Congresso Nacional: "Podemos começar com os municípios. No Congresso poder ter resistência porque o deputado vai pensar "opa, será que eu me elejo nisso?""

Questionado sobre as declarações do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, de que teria assumido um discurso de "troglodita de direita" e caminhava para um "fim melancólico" de sua carreira política, Serra atacou: "Acho troglodita de direita quem apoia o [presidente iraniano Mahamoud] Ahmadinejad, que é um governo que apedreja mulheres, prende jornalistas e enforca opositores". E continuou: "O Marco Aurélio Garcia nunca foi de esquerda (...) eles é que estão com o Collor. E o Collor, é de esquerda?", desafiou. Sobre a aliança com o DEM, relativizou: "Mas o DEM nunca disse que era de esquerda." Por fim, Serra declarou: "Eu acho essa discussão de direita e esquerda uma bobagem. Sou um militante dos direitos humanos."

Serra voltou a dizer que o governo da Bolívia faz "corpo mole" no combate à produção e o tráfico de cocaína e se disse contrário à legalização da maconha que, acredita, serve como "porta de entrada" para outras drogas.

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) voltou a ser alvo de críticas do tucano, que acusou a organização de "fisiológica" e disse que, em seu governo, o MST não receberia dinheiro público. Sobre as acusações de que o PSDB seria privatista, replicou: "Vou estatizar os Correios, as agências reguladoras, que hoje estão loteadas politicamente pelo atual governo, com gente sem preparo para a função".

A entrega de dois discursos seus como programa de governo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi defendida pelo tucano: "Meus discursos foram muito bem elaborados, as diretrizes de governo estão todas lá".

No fim do programa, Serra teve direito a um minuto para as considerações finais e discursou na busca dos votos dos mais pobres: "Eu sou de família pobre, eu vim da pobreza e estudei em escola pública. É para os pobres que vou trabalhar."

Serra: PT não é mais de esquerda

DEU EM O GLOBO

Tucano afirma que quem apoia líderes como Ahmadinejad é "troglodita de direita" e que "Chávez é dilmista"

Flávio Freire

SÃO PAULO. Numa semana em que recebeu críticas de dirigentes petistas de que representaria a direita radical, o candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, rechaçou ontem o rótulo e disse que quem está nesse papel são os seus opositores, principalmente quando apoiam líderes internacionais controversos, como o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.

Incomodado com a estratégia do PT, o tucano disse também que quem está ligado ao ex-presidente Fernando Collor de Mello não pode se intitular como representante da esquerda no país. Durante sabatina promovida pelo portal R7 e Record News, ontem, Serra rebateu com veemência os recentes ataques.

As críticas vêm de gente que não é mais de esquerda.

Eu me considero de esquerda.

Esse pessoal (do PT) não tem mais nada a ver com isso, mas faz coro para ficar repetindo.

Eu acho troglodita de direita quem apoia o (Mahmoud) Ahmadinejad, que está matando mulheres a pedradas, tem uma ditadura que prende e condena jornalistas há no mínimo 16 anos e enforca opositores.

Ora, quando esse pessoal engenha apoio a essa turma, não tem nada a ver com esquerda.

Mas eles são muito bem organizados para repetir a mesma coisa disse Serra.

Eu acho essa discussão uma bobagem A discussão em torno de ser candidato de esquerda ou direita está no cenário político desde que o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, disse que Serra que, ao comentar declarações de João Pedro Stédile, afirmou que o MST promoveria mais invasões caso a petista Dilma Rousseff seja eleita representa uma direita troglodita.

O assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, colocou mais lenha na fogueira, afirmando que o tucano teria um fim melancólico por conta de seu discurso mais radical. Serra retomou ontem a discussão: O Marco Aurélio é de direita, ele não tem nada de esquerda disse o tucano, que lembrou de seu passado como exilado político para defender que está ligado à esquerda no país quem efetivamente luta por direitos humanos.

Indagado se a aproximação com o DEM não o colocaria mais à direita, Serra partiu para o ataque: Mas você já viu algum democrata (integrante do DEM) posando de esquerda? Agora, você acha que o Collor, que é aliado deles (PT), é de esquerda? Na verdade, eu acho essa discussão uma bobagem.

Em meio às críticas de que o governo de Hugo Chávez pôe em risco a paz na América Latina quando rompe relações com a Colômbia, José Serra retomou ontem o assunto com um viés eleitoral.

Perguntado se a briga com países vizinhos não prejudicaria suas relações num eventual governo, Serra foi taxativo: O Chávez já declarou voto na Dilma. Chávez é dilmista, e PT é chavista. Isso não tem nada a ver com governo.

Eu estou apresentando minhas ideias na campanha.

Agora, assumindo o governo, temos uma relação de Estado, com respeito recíproco à auto-determinação de cada um.

Serra voltou a chamar Dilma Rousseff para o debate. Ele diz que não conhece as propostas da candidata petista.

No campo das promessas, Serra disse que pretende estender para todo o país o programa da nota fiscal paulista, que ressarce o contribuinte com 30% do valor de imposto pago em determinado produto. Ele também garantiu que, se eleito, vai implantar o Mãe Brasileira, que acompanha mulheres carentes desde a gestão até o parto.

Serra ainda defende mudanças na legislação eleitoral, com ampliação do voto distrital, mandato de cinco anos, sem reeleição, e um novo sistema de previdência social que priorize quem ainda não é contribuinte.

Ao comentar os problemas do país na área de educação, José Serra disse que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso promoveu a inclusão nas escolas, mas que ainda falta qualidade no setor.